"Para a minha geração parecia uma coisa brega". É assim que o jornalista e crítico musical Hagamenon Brito define as primeiras impressões geradas pela nova onda artística que surgia em Salvador nos anos 80: a Axé Music. "Claro que eu queimei a língua".
A canção “Fricote” (1985) de Luiz Caldas foi o marco zero desse gênero musical, que completa 40 anos de história. O Axé se tornou conhecido e respeitado em todo o Brasil a partir dessa faixa que integra o primeiro álbum de carreira solo do cantor. "As canções do [álbum] 'Magia' abraçam vários ritmos e estilos, ele é a minha biografia sendo contada em forma de disco", disse Luiz Caldas em entrevista ao O Globo no mês de janeiro deste ano.
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A estética desta primeira geração do movimento trouxe estranheza para críticos como Hagamenon. “A dança exótica, a roupa meio hippie, pés descalços e brincos imensos na orelha", descreveu.
O movimento Axé surge em uma época que o rock nacional estava no auge, com Barão Vermelho, Legião Urbana, Kid Abelha, Titãs e tantas outras bandas que aproveitavam a licença poética musical para fazer críticas sociais e políticas.
Foi com esse olhar que o crítico musical e rockeiro, Hagamenon Brito, criou o termo 'Axé Music', na tentativa de ironizar o desejo dos artistas da época de levar o estilo musical da Bahia para o mundo.
"Tinha uma música de Gilberto Gil chamada 'Axé Babá', que foi um grande hit de 1981 e quando a gente queria falar ‘Isso é coisa de brega’, falava: ‘Isso é coisa de Axé’. Dai eu criei o termo usando ‘Axé’ de brega e o ‘Music’ [música em inglês]", explica Hagamenon.
Muito antes da Axé Music
O axé não é um gênero musical, é uma forma de se fazer música, ele amalgama tudo. É como um grande liquidificador em que as frutas são ritmos Luiz Caldas
Figuras como Luiz Caldas e Sarajane foram essenciais para que esse formato de música baiana fosse visto por todo o Brasil. Porém, a Axé Music surgiu muito antes de ser nomeada. Ela é um segmento musical baseado na mistura de ritmos e tendências que começou a se construir ainda na década de 50, com Dodô & Osmar, os criadores do trio elétrico.
A máquina, que carrega os artistas pelas avenidas todos os anos durante o Carnaval, foi criada pelos baianos Osmar Macedo e Adolfo Nascimento. Inspirados no frevo de Pernambuco, eles eletrificaram a guitarra, criaram um trio elétrico e começaram a mesclar diversos estilos musicais.
As invenções da dupla de amigos serviu de base para as experiências musicais que se iniciaram nos anos 80 e, ainda hoje, inspiram novas gerações de artistas.
"A evolução da Axé Music é oriunda exatamente da parte eletrônica. Daí vem essa galerinha nova, como Vitrolab, BaianaSystem, Afrocidade. Um monte de gente bacana trazendo modernidades e se unindo à nossa essência com a guitarra baiana de Armandinho, por exemplo", diz Sarajane, em entrevista exclusiva com o Mundo Bahia FM.
Aqueles que abriram a roda
Seguindo os passos do pai do Axé, Luiz Caldas, o primeiro sucesso de vendas no âmbito nacional foi a canção "Madagascar Olodum" (1987), da banda Reflexus. Em meio aos blocos de Carnaval, o grupo Olodum também estourou com "Faraó" no mesmo ano.
É importante destacar também as figuras femininas que marcaram a folia na época, como Laurinha, vocalista da banda Cheiro de Amor em 1983. Ela abriu caminhos ao se tornar a primeira mulher a comandar um trio elétrico no Carnaval de Salvador.
Quando se fala em artistas solo, além da canção composta por Luiz Caldas e Paulinho Camafeu, a cantora Sarajane foi outra figura feminina marcante na fase inicial do movimento Axé Music com o sucesso de "A Roda" (1987).
"O olhar do mundo para Bahia veio através dessa movimentação de artistas cantando essa música", conclui Sarajane.
Série do Mundo Bahia FM conta história da Axé Music
O Mundo Bahia FM preparou uma série especial para contar a história da Axé Music. Na próxima reportagem você vai saber como aconteceu a ascensão internacional do gênero musical.
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