Acompanhando a batida dos tambores e orixás, o público da Concha Acústica balançou no swing da Bahia ao som de "Inspiração". Apesar de ser uma noite de sexta-feira 13, que leva a superstição de um dia de azar, a Banda Mel abriu o show trazendo boas energias com a canção "A Felicidade Mensagem de Amor", celebrando 40 anos do grupo.
Os artistas se revezaram no palco revivendo clássicos do Axé e trouxeram o carnaval para o teatro, Daniela Mercury foi uma das convidadas a participar do show com Luiz Caldas, um dos precursores do Axé Music.
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"A gente está aqui resgatando a história, reconhecendo a importância deles, celebrando eles nos 40 anos de carreira deles e meu também", disse Daniela, em entrevista exclusiva ao Mundo Bahia FM.
O resgate do legado do Axé é tão forte que ele não apenas revive na memória dos foliões, mas também é transmitido para as novas gerações. Um exemplo disso é Ricardo Moraes, de apenas 10 anos, neto de Beto Silva, compositor da icônica "Prefixo de Verão".
Junto com o pai Ricardo e a madrasta Ana Salinas, o menino foi seu primeiro show na Concha Acústica para prestigiar as músicas feitas pelo avô.
Com mais de três mil pessoas na plateia, Márcia e Robson conseguiram reviver o carnaval no meio do mês de setembro. Quando cantaram "Ilê Pérola Negra", uma canção de Daniela Mercury, dançar foi contagiante e até a cantora, que estava no camarim, falou sobre a canção.
"Vi que tocaram 'Ilê Pérola Negra', que emoção, é uma canção importantíssima! A música é uma montagem que eu fiz de duas canções de Miltão, Guiguinho, Reni Veneno e a Banda Didá, que é o grupo mais importante de samba-reggae feminino do Brasil."
Carnaval fora de época
O show atraiu antigos foliões para viver a nostalgia dos carnavais passados. Araíldes Costa, de 63 anos, veio com a mãe de 86, o marido e a irmã, para reacender a chama da folia, "vir pro show é diferente de estar na rua, é como trazer o carnaval pra cá e lembrar os velhos tempos".
Outras fãs que relembraram a alegria do carnaval foram Margarete e as tias Tereza Cristina e Sandra Regina que gostam tanto da folia que antigamente até dividiam a mortalha, que eram os antigos abadás, para ter acesso a determinados blocos.
'Eu vou, atrás do trio elétrico vou'
Atraindo pessoas de todo o nordeste, as amigas de infância Sueli e Ana Cláudia se envolveram com a nostalgia e relembraram da juventude quando ainda moravam em Catu, cidade há 100km de Salvador.
"Eu acompanhei a Banda Mel em vários episódios de micaretas do interior, a gente acompanhava micaretas de Alagoinhas, Catu, Pujuca, Mata de São João e São Sebastião do Passé. Viajava o interior todo de carona até em caminhão, só pra ver as bandas tocar", disse Sueli Pererira.
Em meio à plateia estava um grupo uniformizado com camisetas personalizadas em homenagem aos 40 anos da banda, nela estavam fotos de todos os LPs e formações da Banda Mel. É um fã clube que se reuniu apenas para o show com Lisandra Alina de Salvador, Cardi Monteiro e Adailton de Fortaleza, Clailson Duarte e o irmão gêmeo Faraobastos de Camaçari.
Daniela Mercury fala sobre legado de Banda Mel
Com tantos sucessos como "Baianidade Nagô", "Prefixo de Verão" e "Protesto Olodum", Daniela ressalta a relevância da Banda Mel para a música brasileira e, principalmente, o legado que deixaram para o carnaval, "fizeram tantas músicas bonitas, até hoje o repertório da Banda Mel está no nosso repertório".
Daniela Mercury, atualmente com 59 anos, começou a carreira musical aos 15, já em trios de carnaval, como parte da história do axé, a cantora ficou emocionada com o convite para participar do show, que seria a gravação do audiovisual da banda também.
"Fico honrada, porque o que a gente criou no começo dos anos 90, que é parte das linguagens do Axé, não teve igual. Ninguém fez o samba-reggae como essa geração de Elba Ramalho, Banda Mel, Margarette, Márcia, somos as que sustentaram essa linguagem, os ritmos com os discursos originais deles, mais politizado, falando contra o racismo."