Os povos indígenas tiveram uma participação determinante na formação de Salvador, a primeira capital do Brasil. Essa importância, inclusive, pode ser vista na nomenclatura de alguns bairros da capital baiana, como Tororó. Vizinho dos bairros Engenho Velho de Brotas, Garcia, Barris, Nazaré e Boa Vista de Brotas, a localidade é conhecida por abrigar o Dique do Tororó, o único manancial natural da cidade tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Em entrevista ao Fala Bahia, da Bahia FM, o professor e historiador Ricardo Carvalho destacou a relação dos povos originários com o que hoje chamamos de cidade.
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“Na verdade, Salvador foi ocupada e descoberta muito antes da chegada de Américo Vespúcio aqui, em 1501, e muito antes também do Diogo Álvares Correia, o Caramuru, já em 1510. Nós já tínhamos uma população muito intensa do povo tupinambá, em torno da Baía de Todos os Santos, e isso acabou, inclusive, influenciando na nomenclatura de muitos bairros de Salvador. Um dos exemplos disso é a região da Lagoa do Tororó, que quer dizer ‘fonte de água que faz barulho’, não é à toa que a gente chama de toró quando a chuva cai forte na cidade”, disse.
Ricardo Carvalho pontuou ainda que a região do Tororó era uma zona muito importante para a cidade, principalmente para a pesca e para a busca de água potável. “Inclusive, por isso a proximidade com o bairro dos Barris, onde se buscava os barris de água para alimentar a cidade de Salvador”, relembrou.
E seguiu dizendo: “A população indígena teve um papel significativo. Foram eles que receberam Caramuru, assim como o Tomé de Souza, em 29 de março de 1549. E essa marca continua no nome dos bairros, na alimentação, assim como no bairro do Tororó. Bairro onde Caetano Veloso viveu e que tem o Apaxes do Tororó como a referência mais poderosa dessa junção entre história, povos originários e cidade de Salvador”.
Para quem não sabe, o Apaxes do Tororó é o mais antigo bloco de Carnaval que traz como inspiração os povos indígenas. O grupo sai nas ruas durante a festa momesca desde 1968, levando alegria e dando ênfase no trabalho de preservação dos povos originários.
Sobre a origem do bloco justamente no bairro que leva o mesmo nome, o historiador afirmou que é “uma feliz coincidência”. “O bloco não necessariamente tem relação com a aldeia Apaxes, pois eles estão na América do Norte, mas é uma referência aos povos chamados ameríndios e o nosso carnaval da Bahia”, frisou.