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A MPB comemora o centenário de Emilinha Borba

Por Carlos Leal (Jornalista, escritor e pesquisador musical)

Carlos Leal • 31/08/2023 às 7:00 - há XX semanas

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					A MPB comemora o centenário de Emilinha Borba
Divulgação

Sucesso absoluto entre os anos 1930 e 1950, quando foi consagrada uma das Rainhas do Rádio, Emilia Savana da Silva Borba ou simplesmente Emilinha Borba, uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, estaria completando 100 anos dia 31 de agosto de 2023.

Emilinha, que nos deixou aos 81 anos em 3 de outubro de 2005, gravou mais de 300 discos ao longo dos seus 60 anos de carreira. Nascida no bairro de Mangueira, no Rio de Janeiro (RJ), eternizou alguns clássicos das marchinhas de carnaval conhecidas até hoje como Chiquita Bacana (Braguinha) e Tomara que Chova (Romeu Gentil e Paquito). Boleros e baiões, tais como Dez Anos (Rafael Hernandez/Vrs. Lourival Faissal), Cachito (Consuelo Velasquez vs. Bougert) e Baião de Dois (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

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Uma das histórias mais conhecidas da carreira de Emilinha é sua suposta rivalidade com outra grande cantora: Marlene. Jogada de Marketing no século passado? É possível, uma vez que as duas foram parceiras em algumas canções e essa rivalidade servia para que as gravadoras lucrassem com a venda de discos. A ‘rivalidade’, alimentada principalmente por apresentadores e empresários, fazia com as duas disputassem até audiência nos anos de ouro do rádio no Brasil.

Emilinha também ganhou do público o título de A Favorita da Marinha e não foi apenas pela sua popularidade entre público e marinheiros, mas pelas canções gravadas dedicadas à Marinha do Brasil. Duas delas tornaram-se muito populares na época: Aí Vem a Marinha (Lourival Faissal e Moacir Silva) e Cisne Branco (Benedito Xavier de Macedo e Antonino Manuel do Espírito Santo). Nas duas, Emilinha falava de sua admiração pela instituição.

Mas o talento de Emilinha não estava limitado à música. A artista também foi destaque no cinema, tendo atuado em dezenas de filmes da produtora Atlântida, estúdio cinematográfico destaque no Brasil por mais de 30 anos. Dentre os filmes em que Emilinha se destacou estão clássicos como Banana da Terra (1939), Vamos Cantar (1941), É Fogo na Roupa (1952) e Aviso aos Navegantes (1950).

A família, principalmente sua mãe, sempre foi contra ter uma mulher artista na família, mas Emilinha desde criança já demonstrava para todos a que veio ao imitar constantemente a cantora Carmem Miranda, grande sucesso na época. Ela começou frequentando os programas de calouros e com apenas 14 anos ganhou seu primeiro prêmio, no programa A Hora Juvenil, na rádio Cruzeiro do Sul. Mas, a exemplo de Elza Soares, foi no programa Calouros em Desfile, apresentado por Ary Barroso, que chamou a atenção do público. Defendeu a música O X da Questão, de Noel Rosa, obtendo nota máxima.

Foi o pontapé inicial para uma carreira de sucesso, começando a fazer coro para outros artistas nos estúdios da gravadora Colúmbia. Inquieta, na mesma época, formou a dupla As Moreninhas, com Bidu Reis, tendo a dupla permanecido por cerca de um ano e meio se apresentando em várias rádios do Rio de Janeiro, além de shows em clubes cariocas. Com o fim da dupla, a Rádio Mayrink Veiga tratou logo de contratá-la para fazer parte do seu cast. Na mesma ocasião recebeu de César Ladeira, radialista conhecido como A Voz da Revolução Constitucionalista e um dos ícones da era de ouro do rádio no Brasil, o título de Garota Nota Dez. Sua primeira gravação em disco ocorreu em 1939, na própria gravadora Colúmbia, em dupla com Nilton Paz. A música foi Pirulito, a convite do próprio autor, o compositor João de Barro.

Após a sua fase áurea, Emilinha ficou 22 anos sem gravar, mas continuou fazendo shows por todo o Brasil. Salvador foi uma das cidades onde Emilinha se apresentou, tendo cantado seus sucessos no dia 27 de janeiro de 2001 no baile pré-carnavalesco do Projeto Pelourinho Dia e Noite, ao lado do grande cantor Dino Brasil. O show ocorreu na Praça Quincas Berro D’água, que ficou lotada. Em 2003, enfim, grava o CD Emilinha Pinta e Borba, com participações de Cauby Peixoto, Zé Renato, Marlene, Ney Matogrosso, José Ricardo Jr, Luís Airão, Adelaide Chiozzo, Emílio Santiago e Forrósacana. O repertório buscava unir a Emilinha da era do rádio, trazendo canções como Se queres saber (Peterpan) e Dez anos (Rafael Hernandez/Vrs. Lourival Faissal) e canções mais atuais como Fogueira (Ângela Roro) e até Entre Tapas e Beijos (Nilton Lamas/Antônio Bueno).

Mas o CD foi lançado justamente no momento em que a pirataria “dominava” o “mercado” e os CDs originais começavam a encalhar, lojas de discos fechando e gravadoras falindo. Foi então que Emilinha, de estrela absoluta do rádio, passou a vender seus CDs nas ruas do Rio de Janeiro, circulando por bairros da capital carioca. “Para mim, não é vergonha nenhuma: estou vendendo meu produto, fruto do meu trabalho e quem comprar ainda pode levar para casa um CD autografado”, contou na época a artista.

Ao longo de sua carreira Emilinha atuou em 35 filmes, lançou três CDs, sendo duas coletâneas, quinze discos de vinil no formato de Long Play (LP) e 113 discos em formato RPM. Dentre seus maiores sucessos estão Escandalosa (1947), Se Queres Saber (1947), Chiquita Bacana (1949), Baião de Dois (1950), Paraíba (1950), Tomara que Chova (1951), Dez Anos (1951), Vai com jeito (1957), Corre, Corre Lambretinha (1957), Cachito (1958) e Mulata Iê-iê-iê (1965).

Falarmos de Emilinha em seu centenário é fundamental não somente para lembrarmos o quanto a artista é importante na história da Música Popular Brasileira, mas também para não esquecermos que talento e qualidade contam muito na trajetória de um artista. A contribuição de Emilinha para a nossa música foi gigantesca e certamente continua inspirando novas gerações de cantores e cantoras que levam a sério o ofício de cantar.

* Colaboração voluntária de Carlos Leal (Jornalista, escritor e pesquisador musical)

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