Um dos maiores nomes da música eletrônica mundial é uma mulher trans. É impossível contar a história da produção musical baseada em sintetizadores sem falar sobre Wendy Carlos, uma artista notável em todos os sentidos: na arte e na vida. Por isso, é natural relembrar sua trajetória no Dia Internacional da Visibilidade Trans, celebrado nesta sexta-feira (31).
Wendy nasceu em 14 de novembro de 1939, em Rhode Island, nos Estados Unidos. Pianista desde os 6 anos de idade, tornou-se mestre em Composição pela Columbia University e logo começou os estudos orientados para a música eletrônica. Já nessa época, ela trabalhou ao lado de Robert Moog no desenvolvimento do sintetizador analógico Moog, que mudou a sonoridade da música popular nos anos 70.
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Foi justamente essa a ferramenta que ela usou para criar um de seus principais trabalhos, o álbum "Switched-On Bach", lançado em 1968, que trazia peças do compositor alemão Johann Sebastian Bach executadas no sintetizador. O trabalho se tornou sucesso de público e de crítica, vencendo o Grammy de 1969 nas categorias de Melhor Álbum de Música Clássica, Melhor Performance de Música Clássica e Melhor Engenharia de Áudio. Daí por diante, Wendy Carlos se notabilizou como compositora, assinando as trilhas de filmes como A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, e Tron, da Disney.
Wendy também fez história ao se tornar uma das primeiras pessoas transgênero a falar publicamente sobre sua transição. Embora tenha se tornado conhecida com seu nome de batismo - Walter Carlos -, ela já vivia como uma mulher desde o fim dos anos 60 e fazia tratamentos para readequação de gênero, mas usava disfarces para que sua condição não fosse percebida. A compositora só assumiu sua verdadeira identidade em uma entrevista à revista Playboy, publicada em maio de 1979.
Nesse vídeo de 1970, gravado para a emissora britânica BBC, Wendy explica o funcionamento do sintetizador Moog. À época, ela já estava em transição de gênero.
A maior parte da obra de Wendy Carlos está fora de catálogo e das plataformas de streaming, mas a marca inovadora que a artista deixou é impossível de se apagar. De um lado, ela contribuiu fortemente para a construção do que hoje se conhece como música eletrônica. Do outro, ela chamou atenção pela coragem de ser quem verdadeiramente era, em tempos nos quais o debate sobre transgeneridade ainda engatinhava. Uma inspiração em vários aspectos.