Quem frequenta shows, festivais ou bares no Brasil já conhece o ritual: em algum momento, uma voz no meio do público grita o famoso "Toca Raul!". Além de um pedido para ouvir uma música, o bordão virou marca registrada do legado deixado por Raul Seixas. Não há registros sobre a origem exata, mas tem quem acredite que o grito começou em Salvador, cidade natal do Maluco Beleza.

"Eu sei muito bem onde e como surgiu. Há controversas, tem pessoas que discordam, mas aqui em Salvador, tem um rapaz, muito simples, muito humilde, chamado de Lázaro, também conhecido por LÁZARO TOCA RAUL", afirma Heleno Melo, fã de carteirinha do cantor. Robson Seixexas, outro rauseixista - como são chamados os fãs - também confirmou a teoria.
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"Conheci a frase com ele. Depois, essa coisa começou a se espalhar", conta Marcos Clement, cover e fã de Raul desde os 8 anos. O cantor lembra que ouviu Lázaro pela primeira vez nos anos 90, mas ele já era famoso por onde passava há muito mais tempo.

Lázaro é uma pessoa em situação de rua que ficou conhecido em espaços culturais da capital baiana por sempre pedir Raul, independente do artista que estava no palco. O grito dele foi se espalhando de boca em boca até se tornar um fenômeno.
Segundo o pesquisador Bruno de Sousa Figueira, o bordão se transformou em um “enunciado destacado”, expressão que gruda na memória coletiva por condensar diversos significados. Com o tempo, "Toca Raul" virou símbolo de liberdade e protesto, os mesmos valores que Raul Seixas sempre defendeu ao longo da vida.
Mesmo quem nunca ouviu um disco inteiro já escutou e talvez até já tenha gritado "Toca Raul!".
O legado do 'Toca Raul!'
Mais do que brincadeira, o grito é também uma forma de reverência e respeito ao legado deixado pelo Pai do Rock Brasileiro. Em 2013, o guitarrista Bruce Springsteen encerrou a apresentação no Rock in Rio ao som de "Sociedade Alternativa", contagiando o público que em algum momento gritou "Toca Raul".
Como reforça Bruno Figueira, a repetição do bordão ajudou a transformar Raul em uma figura lendária. A frase ficou eternizada não apenas no grito, como se materializou em estampas de camiseta, manchetes, cartazes e até nome de bares.

Apesar disso, nem todo artista vê o grito com bons olhos. Em 27 de março deste ano, o cantor Lobão interrompeu um show em São Bernardo do Campo, em São Paulo, após ouvir alguém gritar "Toca Raul!".
"Isso é um erro da plateia dentro do rock n’ roll brasileiro. Primeiro porque o Raul morreu de fome, um mendigo. Na época em que ele deveria estar recebendo o 'Toca Raul', ele não estava. Agora, it’s too late, baby (é tarde demais)".
A fala gerou forte repercussão. Vivian Seixas, filha de Raul, se pronunciou nas redes sociais afirmando que Raul não morreu de fome, ele "sempre viveu confortavelmente". Além disso, a DJ lembrou dos 50 shows que Raul fez pelo Brasil no ano que morreu, recebendo direitos autorais regularmente.
Ao gritar "Toca Raul!", fãs expressam mais do que saudade, reafirmam que a obra e filosofia do Maluco Beleza continua viva, ecoando nos palcos, praças e nos corações do público.
O Mundo GFM celebra os 80 anos do Maluco Beleza
O Mundo GFM realizou uma série especial de cinco reportagens em homenagem aos 80 anos de Raul Seixas. Revisitamos sua trajetória artística e impacto cultural, revelamos o lado familiar com relatos das filhas, resgatamos canções subestimadas que escondem mensagens poderosas e mostramos como a obra do artista ainda inspira novas gerações e encerramos com o grito que nunca se cala: Toca Raul!