Pouco antes de se tornar um fenômeno pop em todo o Brasil, com canções presentes em trilhas de novelas, o cantor e compositor Guilherme Arantes, que completa 70 anos nesta sexta-feira (28), deu os primeiros passos na carreira como integrante de uma banda de rock progressivo. Em 1973, o artista assumiu os teclados e vocais do grupo Moto Perpétuo.
O primeiro embrião do conjunto foi formado em 1970, quando Guilherme conheceu o baterista Diógenes Burani. Eles acompanharam Jorge Mautner em shows por São Paulo. Ao ingressar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Guilherme conheceu Claudio Lucci, outro músico. Diógenes vinha de outra experiência como membro de um grupo que Rita Lee tentava montar com Lúcia Turnbull, o "Cilibrinas do Éden". Nesse projeto, ele conheceu Gerson Tatini (baixo) e Egídio Conde (guitarra). Da junção dos cinco artistas, foi formado o Moto Perpétuo, apadrinhado pelo jornalista e produtor Moracy do Val.
Leia também:
Em 2013, Guilherme Arantes escreveu sobre o grupo em seu blog e não poupou elogios ao trabalho realizado. "O rigor das guitarras de Egydio, caprichosíssimo, melódico, sensual, as maluquices bizarramente musicais nas linhas de baixo de Gerson, a técnica infernal de Diógenes, (...) os violões impecáveis de Claudio, suas incursões ao violoncello, fizeram o Moto logo explodir naquele quartinho de ensaios, no Brás, como uma música fulminante, da qual nos orgulharíamos pra sempre, sem uma única restrição, um senão, um retoque. A História nos julgará. Foi uma banda perfeita e ponto final. Fomos uma das melhores bandas de todo o movimento progressivo da época".
Os anos 70 foram um período frutífero para o rock progressivo no país, com o surgimento de bandas como O Terço, A Bolha e Som Imaginário, influenciadas pelos grupos Yes, King Crimson e outros ícones do rock internacional. Com as bênçãos de Moracy do Val - homem por trás do sucesso retumbante do conjunto Secos & Molhados -, o Moto Perpétuo se lançou no cenário e gravou o seu primeiro disco, pela gravadora Continental. O álbum saiu em 1974 e teve repercussão moderada. Arantes soltou a voz em faixas como "Verde Vertente", de sua autoria (ouça abaixo).
Meses depois do lançamento do álbum, o Moto Perpétuo acabou se desfazendo devido a divergências internas. Em diversas ocasiões, Arantes declarou que deixou a banda porque queria se afastar da sonoridade do rock progressivo, que considerava elitista.
"Eu vivia dividido, aliás como todo mundo, entre a realidade nua e crua do dia a dia de um país atrasado, e os sonhos mirabolantes de uma moda (o rock progressivo) que vinha de países tecnológicos com uma cultura totalmente diferente do primeiro mundo. Esse choque pra mim já havia nascido resolvido: eu sempre preferi a televisão, o povão, o romantismo, então resolvi mergulhar com tudo quando a chance aconteceu. Passei a compor focado na realidade, virando cantor popular. Mas nunca deixei de gostar do progressivo e o Moto Perpétuo sempre foi e sempre será uma banda excelente, um trabalho belíssimo, que fica para ser avaliado pelas novas gerações", disse o músico, em entrevista publicada no site da Warner Music em 2017.
Ouça mais músicas do Moto Perpétuo:
Conto Contigo
Duas