O empréstimo pessoal é o maior responsável pelo endividamento dos brasileiros , segundo uma pesquisa divulgada na segunda-feira pelo Serviço de Proteção ao Crédito ( SPC Brasil ) em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas ( CNDL ). Esse tipo de crédito corresponde a 69% dos CPFs negativados no país, seguido pelo crediário (68%) e pelo cartão de crédito (67%).
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, esse quadro se deve a uma falta de controle das contas por parte dos brasileiros.
— Boa parte das pessoas não costuma organizar seus gastos, fazendo compras além de suas possibilidades financeiras, que muitas vezes transformam-se em dívidas difíceis de serem pagas. Ao buscar empréstimo, é preciso cuidado redobrado — aponta.
O levantamento também mapeou as contas que os inadimplentes têm em aberto, mas que não levaram à negativação. Os empréstimos feitos com pessoas próximas, como parentes e amigos, estão em primeiro lugar (33%). Em segundo lugar, destacam-se as mensalidades escolares (26%) e, em terceiro, o cheque especial (24%). As parcelas do crediário (21%) e do cartão de crédito (17%) vêm em seguida.
Entre os compromissos quitados em dia, aluguel (84%) e plano de saúde (82%) aparecem no topo do ranking. Boletos de condomínio (78%), TV por assinatura e internet (73%), contas de água e luz (72%), contas de telefone fixo e celular (66%) e financiamento da casa própria (53%) também estão entre as faturas que a maioria dos consumidores paga em dia. Por outro lado, apenas 24% dos entrevistados reconhecem estar em dia com o cheque especial, e 16% com a fatura do cartão de crédito.
— A incapacidade de pagar os compromissos em dia tem levado muitos brasileiros a fazer um tipo de rodízio para escolher qual conta pagar naquele mês. Normalmente, o consumidor prioriza o pagamento de contas básicas e de serviços essenciais, como água e luz, sabendo que podem ser interrompidos em situação de inadimplência — explica o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.
Veja quais são os vilões da inadimplência
Empréstimo pessoal - 69%
Crediário - 68%
Cartão de crédito - 67%
Cheque especial - 52%
Financiamento de automòvel - 52%
Financiamento de casa própria - 35%
Mensalidades escolares - 26%
Empréstimos com parentes e amigos - 23%
Contas de telefone - 20%
Boletos de TV por assinatura e internet - 16%
Contas de água e luz - 11%
CondomÍnio - 11%
Saiba como evitar o endividamento
1) Saiba quanto você ganha e gasta
Thiago Sayão, professor de Finanças do Ibmec/RJ, recomenda que o consumidor busque ter um controle de sua situação financeira, ou seja, saiba exatamente quanto ganha e quanto gasta por mês. Para isso, é importante que anote todas as despesas.
— O endividamento começa quando a pessoa perde o controle do quanto gasta. Algumas pessoas preferem anotar em planilhas, outras num caderno, mas o importante é ter esse controle — explica. Também existem aplicativos para celulares que ajudam a fazer esse levantamento.
2) Gaste menos do que ganha
Após identificar quanto ganha e quanto gasta, o consumidor deve ajustar as despesas para que fiquem abaixo das receitas, isto é, do valor que ele recebe mensalmente. As receitas podem incluir o salário, ganhos com aluguel, pensão ou qualquer outro tipo de remuneração.
— A segunda coisa a se fazer é pensar numa reestruturação de sua própria vida financeira, cortando gastos, caso seja necessário, e pensando em formar uma poupança — avalia.
Myrian Lund, planejadora financeira e professora da FGV, recomenda que o consumidor avalie primeiro as suas contas fixas, como telefonia, água e gás.
— A primeira conta a ser analisada é a de celular, porque as pessoas não costumam ligar para a operadora para refazer os planos, e acabam pagando por serviços que não usam. Depois pode pensar na TV a cabo, na conta de luz. Tem como trocar as lâmpadas? Usar menos o ar-condicionado? Coisas que não afetem a qualidade de vida e podem ser reduzidas — sugere.
Em seguida, o consumidor deve analisar os gastos extras, com lazer ou alimentação fora de casa, por exemplo.
3) Cuidado com as compras não planejadas
Para Sayão, uma das principais causas do descontrole financeiro são as compras não planejadas. Pode ser a compra por impulso ou até os gastos com emergências, como doença ou um eletrodoméstico que quebrou, por exemplo.
— O indivíduo sai para ir ao cinema e acaba comprando um produto que não havia planejado. É preciso evitar esse tipo de situação e se limitar ao planejamento que havia sido feito. Uma alternativa pode ser sair de casa com o dinheiro contado para aquela despesa e evitar usar o cartão de crédito — explica.
4) Tenha uma reserva de emergência
Para situações que estão fora do controle, é importante que o consumidor tenha uma reserva de emergência, ou seja, uma poupança para ser usada em situações que exijam gastos extras.
— Um cafezinho de R$ 3 por dia que a pessoa deixa de gastar já são R$ 90 por mês. Com esse valor a pessoa já pode aplicar no Tesouro Direto, por exemplo. São R$ 1.080 por ano. Uma dica que dou é: toda vez que a pessoa fizer uma economia, que pegue aqueles R$ 3, coloque num cofrinho e guarde. No fim do mês, aplique. Se deixar na carteira, acabará gastando. E faça disso a sua reserva de emergência, para não precisar entrar no cheque especial — ensina a planejadora Myrian Lund.
Para Sayão, o ideal é que o consumidor consiga poupar entre 20% a 30% da sua renda mensal:
— Se o indivíduo ganha mil reais por mês, o ideal é que ele guarde entre R$ 250 e R$ 300 para ter como reserva de contingência — afirma.
5) Use o cartão de crédito com sabedoria (ou não use)
O cartão de crédito é um dos principais vilões do endividamento, mas também pode ser um aliado das finanças. Para evitar a tentação, a planejadora Myrian Lund aconselha que os consumidores evitem usar o cartão para gastos corriqueiros.
— No cartão de crédito, é mais fácil perder o controle e acabar caindo em armadilhas — afirma.
Para Sayão, o cartão oferece algumas vantagens, como a possibilidade de acompanhar os gastos por meio do internet banking ou de notificações, além de acumular milhas. Mas é preciso ter algumas precauções:
— Colocar um limite mais baixo pode ajudar a controlar as despesas. Além disso, é importante evitar ter vários cartões diferentes. Quando concentra os gastos em um só, a pessoa faz um melhor uso dessa ferramenta.
6) Tenha objetivos financeiros
A falta de objetivos, segundo Myrian Lund, faz com que as pessoas tenham mais dificuldades para reduzir as despesas e poupar dinheiro:
— O mais importante é criar objetivos para a vida. O que a pessoa quer com o dinheiro? Quer viajar? Ou ter independência financeira? Tem que anotar em um papel e colocar uma data e o valor necessário para alcançar esse objetivo. Então, deixe esse papel na carteira e, toda vez em que for comprar algo, pense no impacto que esse gasto vai ter. Quando a gente tem objetivos, é mais fácil dizer não.
7) Pense antes de comprar
A planejadora financeira também recomenda que o consumidor faça três perguntas a si mesmo antes de efetuar uma compra: Eu preciso? Eu tenho dinheiro? Precisa ser hoje?
— Se disser não a alguma dessas perguntas, não compre. Esse controle é importante para que o consumidor não caia em armadilhas — aponta.
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Redação iBahia
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