Um novo estudo de mapeamento genético do coronavírus na África mostrou que, além da variante Beta, outras três cepas preocupante tiveram grande circulação no continente. Como os países da região têm pouca estrutura para testagem, a pesquisa foi capaz de revelar uma história ainda desconhecida da epidemia ali. Os autores afirmam que a região precisa de ajuda para não se tornar um centro exportador de linhagens hipercontagiosas do vírus.
Os resultados da pesquisa foram baseados no sequenciamento do material genético de 8.746 amostras de vírus coletadas em 33 países ao longo de um ano, por um consórcio de cientistas liderado pela Universidade de Kwazulu-Natal, de Durban. Para processar e interpretar o material, foi montada uma força-tarefa internacional com cientistas de 137 instituições, incluindo a Fiocruz e a UFMG, no Brasil.
Os resultados do trabalho estão descritos num artigo nesta semana na revista Science. No estudo, os cientistas anunciam as descobertas com preocupação.
"Apesar de distorcida pelos pequenos números de amostragem e de pontos-cegos, as descobertas realçam que a África não deve ser deixada para trás na resposta à pandemia, do contrário pode se tornar uma fonte de novas variantes", escreve o grupo, encabeçado pelo pesquisador sulafricano Eduan Wilkinson.
No trabalho, os pesquisadores mostram que, pela taxa de variação que as amostras analisadas apresentam entre si, elas guardam sinais de que o vírus teve grande circulação nos países analisados. Isso confirma a impressão já consolidada de que que a epidemia africana da Covid-19 é muito maior do que mostram os números oficiais.
O estudo não produziu uma estimativa do tamanho dessa subnotificação, mas se ancorou em pesquisas com testes de anticorpos para dimensionar a epidemia.
Os pesquisadores confirmam que o continente possui "muitas" variantes de preocupação, além da Beta, e podem apontar ao menos três delas, designadas pelos códigos B.1.525, A.23.1 e C.1.1, circularam muito. Os países onde elas mais circularam foram aqueles que atuaram como os grandes nós de conexão da epidemia na África: a Nigéria, o Quênia e a África do Sul.
A análise da diferença genética nos vírus capturados em pacientes de Covid-19 em variados países também ajudou a entender a trajetória de disseminação da epidemia no continente, que era mal conhecida em razão da subnotificação.
A Covid-19 chegou ao continente inicialmente sobretudo em passageiros de voos oriundos da Europa. Após os bloqueios aéreos no inicio da pandemia, essa disseminação até teve uma freada, porque a África subsaariana tem infraestrutura de transporte precária, e países são mal conectados entre si. "Em quase todas as instâncias, as introduções do Sars-CoV-2 em países africanos individuais ocorreu via países não africanos", escreveram os cientistas.
Uma vez que a Covid-19 conseguiu chegar a todos os grandes centros populacionais da região, porém, ela tomou uma dimensão difícil de conter. A situação agora se agrava muito com uma campanha de vacinação "penosamente lenta", com menos de 1% da população imunizada na maioria dos países.
"Isso cria um ambiente no qual o vírus pode se replicar e evoluir: quase com certeza vão surgir novas variantes de preocupação, e qualquer delas poderia descarrilar a luta global contra a Covid", escrevem Wilkinson e seus coautores na Science.
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Redação iBahia
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