A demolição do casarão, que desabou no bairro do Comércio, em Salvador, foi iniciada na manhã desta sexta-feira (26) e seguirá até o sábado (27). O imóvel abrigou o Restaurante Colon por 107 anos e até já foi citado na obra "O Sumiço da Santa", do escritor baiano Jorge Amado.
Segundo informações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), a demolição será realizada de maneira gradativa para preservar o máximo possível da estrutura do imóvel histórico e a segurança dos profissionais.
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O serviço de conclusão da fachada lateral esquerda foi finalizado e no final de semana, o trabalho continua para a realização da demolição da fachada lateral direita. A ação tem o acompanhamento do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
De acordo com informações do diretor de fiscalização da Sedur, Antônio Lins, os custos da demolição e limpeza serão de responsabilidade do proprietário do casarão.
"A gente faz a notificação e já emite o DAM através do número do imóvel. Não tem como especificar hoje a cobrança, até porque a gente está ainda em fase de demolição e de estudos. Então só na fase final, quando houver todo o custo de diárias, pessoas e equipamentos nós vamos fazer a análise completa para poder passar o valor", disse diretor de fiscalização.
Na prática, o prédio tinha sido interditado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) na quarta-feira (24), um dia antes do desabamento parcial.
Interdição da área
Por causa do risco de desabamento, parte da Praça Conde dos Arcos, localizada na rua da Holanda, também foi isolada. Enquanto o acesso ao local está interditado, a opção de tráfego, segundo a Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), é seguir pela contramão, na rua Alvares Cabral.
O local segue isolado até o final da operação de demolição, que ainda não há prazo para ser concluída.
Problemas estruturais
Por falta de manutenção, o casarão tinha apresentado problemas estruturais. Segundo a Codesal, os primeiros indícios foram constatados em uma vistoria realizada em 28 de setembro de 2020, quando o espaço foi evacuado pela Defesa Civil.
O responsável pelo estabelecimento foi notificado para suspender as atividades comerciais até que o risco fosse sanado, com a realização de serviços de recuperação e reforço estrutural das partes instáveis, principalmente nos dois últimos pavimentos superiores, sob a supervisão de profissional habilitado junto ao CREA/CAU.
Ainda segundo a Codesal, a solicitação de inspeção predial foi encaminhada, então, à Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) para a interdição do restaurante e imóvel. Na época, o prédio apresentou desprendimento de reboco da fachada lateral.
O prédio é histórico e abrigou por mais de 100 anos o famoso restaurante Colon. Um dos mais tradicionais de Salvador, o restaurante fechou as portas em 2021, após mais de 100 anos de fundação.
Imóvel em área tombada pelo Iphan
Em nota, o Iphan informou que tem um processo aberto de fiscalização, desde 2022, para apurar possível degradação do imóvel, que está em área tombada pelo Instituto.
Em vistoria realizada na quinta (25), antes do desabamento, foi constatado que o prédio estava em estado de degradação. O Iphan afirmou que por se tratar de imóvel particular, a responsabilidade pela conservação dos bens tombados é dos proprietários.
O Iphan explicou que tem acionado órgãos públicos para se ter os nomes dos proprietários do prédio para adoção das medidas cabíveis, podendo gerar multa, em caso de negligência. Disse ainda que recebeu uma informação sobre a identidade do dono e o auto de infração está sendo emitido.
Fechamento do restaurante
O Restaurante Colon fechou as portas em novembro de 2021. Fundado em 1914 por José Maria Orge, que saiu da Galícia, na Espanha, para fugir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o restaurante já recebeu a presença de personalidades como Jorge Amado, Carlinhos Brown, Neuza Borges, Tatti Moreno, Nelson Rufino, entre outros.
A decisão de fechar o local ocorreu após a pandemia da Covid-19. O último dia foi marcado por um sentimento de tristeza para clientes e funcionários. No entanto, os donos do restaurante decidiram reabrir o estabelecimento em outro imóvel, localizado na rua Conselheiro Saraiva, também no bairro do Comércio, mas o local não está mais em funcionamento.
O acidente
Parte do prédio histórico desabou na tarde desta quinta-feira (25). Por volta do meio-dia, técnicos da Codesal ampliavam a área de isolamento do imóvel e o barulho chamou atenção. Todos correram e o volume de poeira assustou as pessoas que estavam na região.
Segundo o engenheiro da Codesal, que conduzia o trabalho no momento do desabamento, o prédio faz parte de um contexto de proteção do Iphan, mas é uma propriedade privada.
Em nota, o Iphan informou que realizava investigações desde 2022 para encontrar os donos do imóvel e responsáveis por sua manutenção. Recentemente, o instituto identificou o proprietário e ele será atualizado e notificado da situação. Até o fim da tarde desta quinta (25) toda a área seguem isolada.
Mayra Lopes
Mayra Lopes
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