Impossível falar da história da Liberdade, em Salvador, e não lembrar do Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil, que desde 1974 luta contra o racismo e pela construção da autoafirmação, potência e beleza do povo negro. Situada na rua Direta do Curuzu, a sede do bloco, até 2017, fazia parte do bairro da Liberdade, mas, após a reestruturação de algumas regiões da capital baiana, a localidade se tornou independente.
Uma figura importante que representa a força do feminino negro no bloco é a Deusa do Ébano, eleita na ‘Noite da Beleza Negra’ pouco antes do carnaval. A jovem Gleicy Ellen Teixeira, de 24 anos, ocupa o posto desde 2020, quando foi realizado o último concurso, em razão da pandemia da covid-19. Para ela, estar nesse lugar de representatividade é motivo de gratidão.
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“O Ilê Aiyê é um lugar onde podemos falar quem somos, contar nossa história. Há alguns anos eu era uma menina, que não entendia muito sobre as coisas da vida, e hoje sou uma mulher que ganhou visibilidade, que já passou em programas televisivos... O Ilê nos dá oportunidade para que possamos mostrar a nossa dança, nos enaltecer e, assim, podermos resgatar a nossa origem, autoestima. Confesso que estar nesse lugar de fala, de todos nós, como Deusa do Ébano, é motivo de alegria”, enfatiza.
A história de Gleicy com o Ilê foi construída desde a infância, quando ela já percebia em sua mãe o interesse em ser Deusa do Ébano. No entanto, o despertar para a importância do bloco aconteceu quando, pela primeira vez, ela viu de perto a força do Ilê durante o carnaval de Salvador.
“Lembro que, entre 2015 e 2016, eu falei com minha mãe que iria para o carnaval. Ela sempre me falava que eu precisava conhecer o bloco do Ilê. E nesse ano eu fui sozinha, mas a minha sensação era de que eu não estava só. No meio do bloco eu estava bem, perfeita. E foi ali que eu entendi que era necessário fazer parte disso, principalmente para o meu processo de aceitação”, relembra Ellen.
Também foi durante a infância, no bairro da Liberdade, que o ator Jorge Washington começou a construir a sua base para o mundo artístico. Reconhecido nacionalmente, ele integra o grupo de teatro Olodum há mais de 30 anos. Para quem não lembra, o grupo foi destaque em todo país ao integrar o elenco do filme ‘Ó Pai, Ó’. Ao falar sobre o bairro, Jorge lembra com detalhes da adolescência na localidade.
“A Liberdade é um bairro que me deu régua e compasso, pois nasci e construí minha história no bairro. Fui crescendo e aprendendo muito sobre o que é ser negro nessa cidade graças aos movimentos culturais que tinham e têm até hoje na localidade. Isso foi me dando vontade de estar mais próximo desses lugares, dessas pessoas. Esses aprendizados que formaram o cidadão que sou”, frisa Washington.
Atualmente, Jorge serve de inspiração para muitos jovens do bairro que buscam trilhar um futuro profissional. Sobre isso, o artista afirma que servir de exemplo é motivo de alegria. “Nós, que somos moradores de periferia, geralmente acompanhamos a nossa comunidade nas páginas policiais dos jornais. E estar nesse lugar artístico, em muitos espaços, me traz uma alegria. Sempre que tenho a oportunidade de conversar e de encaminhar alguém para esse mundo, eu faço”, finaliza.
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Elson Barbosa
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