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Crise ameaça futuro da pesquisa de células-tronco

Pesquisa pode se transformar numa terapêutica capaz de reverter quadros de paralisia parcial ou total

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25/10/2015 às 17:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 13:15 - há XX semanas
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Em 2010, a analista financeira Andréa Damásio pisou em falso na escada de casa e terminou caindo para fora da estrutura. O impacto fez com que ela tivesse uma lesão grave de coluna e perdesse os movimentos e a sensibilidade da cintura para baixo. Em 2012, Andréa, que é do Rio de Janeiro, veio para Salvador para participar de uma das etapas da pesquisa de transplantes de células-tronco realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) em parceria com o Hospital São Rafael. O futuro dessa pesquisa - que é uma esperança para inúmeras pessoas que sofreram lesões na medula espinhal e que pode se transformar numa terapêutica capaz de reverter quadros de paralisia parcial ou total - está comprometido com a crise financeira do país. A pesquisadora da Fiocruz Milena Soares é enfática em afirmar que os projetos dependem da aquisição de grande quantidade de insumos e equipamentos importados, que foram orçados com o dólar a R$1,90. “Hoje, beirando os R$ 4, chegamos a reduzir em 50% a nossa capacidade de adquirir esses insumos e equipamentos que são fundamentais para execução dos projetos”, afirma, ressaltando que não há uma correção desses valores para o projeto. “Aliado a isso, muitas vezes, os recursos que dispomos têm liberação atrasada”, completa. Com uma postura parecida, o médico e pesquisador Ricardo Ribeiro destaca que o custo de uma terapia com células-tronco varia de acordo com o protocolo de preparo das células e de tratamento dos pacientes. “Os nossos estudos foram e estão sendo realizados graças à parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz e o Hospital São Rafael, uma instituição privada sem fins lucrativos, que investiu recursos próprios para estruturar e manter em funcionamento um centro de biotecnologia e terapia celular onde podem ser desenvolvidas pesquisas básicas e translacionais na área de medicina regenerativa”, diz. Os pesquisadores destacam ainda que a definição do número de pacientes necessários para a realização de um estudo clínico depende da doença a ser tratada, assim como da fase de desenvolvimento da pesquisa. “No Brasil, essas pesquisas estão sendo basicamente desenvolvidas com recursos públicos”, acrescenta. Em nota, o Hospital São Rafael pontuou que “assim como os demais setores produtivos do país, as instituições de saúde sofrem os impactos da crise econômica e estão tendo que se reorganizar, no intuito de preservar sua atividade finalística essencial”. Além das pesquisas para o tratamento de pessoas que sofreram traumas, as pesquisas envolvem terapia para doenças do fígado, coração e as autoimunes. Futuro incerto Milena Soares pontua ainda que a crise econômica no país está afetando, não apenas as pesquisas com células-tronco, mas as pesquisas de inúmeras instituições. “A falta de investimentos causará uma defasagem no desenvolvimento científico e tecnológico, contribuindo para aumentar a dependência do Brasil na aquisição de produtos e tecnologias de outros países que têm feito investimentos massivos nessa nova área da pesquisa biomédica”, denuncia, lembrando que a crise econômica acarreta, ainda, a perda de jovens talentos que são críticos para o desenvolvimento de pesquisas e inovação tecnológica. “A crise econômica no país está igualmente afetando as instituições que nos apoiam e, portanto, ameaça a continuidade das pesquisas realizadas, que demandam um alto custo para manutenção das instalações certificadas para produção de células-tronco com controle rigoroso de qualidade, assim como de pessoal altamente qualificado”, completa Milena. A situação é tão desalentadora que da promessa de atendimento dos 60 pacientes nessa nova etapa da pesquisa, que usa um método novo, onde o acesso ao local da lesão é feito através de imagens, sem a necessidade uma cirurgia, e onde as células são transplantadas em três sessões, apenas seis pacientes foram atendidos. Entre esses pacientes está Andréa Damásio. “Na época que fui submetida ao transplante, a expectativa que voltasse a recuperar a sensibilidade ou os movimentos era nula e me agarrei à esperança de participar de qualquer pesquisa ou iniciativa que fosse um avanço científico”, conta. Hoje, ela consegue ficar de pé; em casa mantém uma marcha com andador; recuperou a sensibilidade e o controle de funções básicas, como a urina. “Se a pesquisa já é importante para o paciente, imagine quando o método for aperfeiçoado. Espero que essa seja uma situação temporária”, lamenta. Além da recuperação dos movimentos, para ela, o tratamento possibilitou o controle das dores e a qualidade de vida.
Correio24horas

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