No Brasil, é comum usar a expressão “magra de ruim” para se referir a pessoas que podem comer, comer e comer e mesmo assim não engordarem. E agora cientistas estão descobrindo na genética as primeiras pistas que podem ajudar a explicar este “fenômeno”.
No estudo, publicado nesta quinta-feira no periódico científico “PLoS Genetics”, pesquisadores liderados por Sadaf Farooqi, professora da Universidade de Cambridge, Reino Unido, analisaram e compararam o genoma de mais de 1,6 mil pessoas extremamente magras — definidas como tendo um índice de massa corporal (IMC, obtido dividindo o peso em quilos pelo quadrado da altura em metros) abaixo de 18 — mas saudáveis com os de quase 2 mil severamente obesas desde a infância (IMC acima de 30) e mais de 10 mil com peso na faixa “normal” (IMC entre 19 e 25).
Com isso, os cientistas puderam identificar mutações em algumas regiões do DNA que indicam ajudar alguns indivíduos a manterem peso mesmo comendo muito, além de outras variantes, algumas delas já conhecidas anteriormente de outros estudos, que levam as pessoas a engordarem mais facilmente. Eles estão montaram uma espécie de calculadora para avaliar o risco genético de obesidade dos avaliados.
"Como esperávamos, descobrimos que as pessoas obesas têm um maior risco genético do que as pessoas com peso “normal”, o que contribui para que sejam obesas. A loteria genética está carregada contra elas", resume Inês Barroso, pesquisadora do Instituto de Ciências Metabólicas da universidade britânica e uma das coautoras do estudo.
Diante disso, os pesquisadores alertam que não se deve fazer julgamentos apressados e taxar as pessoas obesas de comilonas ou preguiçosas, já que a razão de sua facilidade em engordar pode ser principalmente genética.
"Esta pesquisa mostra pela primeira vez que pessoas magras e saudáveis geralmente são magras porque têm menos genes que elevam as chances de um indivíduo em ser obeso, e não porque são moralmente superiores, como alguns gostam de sugerir", afirma Farooqi. "É fácil fazer julgamentos apressados e criticar as pessoas pelo seu peso, mas a ciência mostra que as coisas são muito mais complexas. Temos muito menos controle sobre nosso peso do que achávamos que tínhamos".
Em comentário sobre o estudo, Keith Frayn, professor emérito de metabolismo humano da Universidade de Oxford, também no Reino Unido, disse não ser surpresa descobrir que a magreza é em parte hereditária, já que pesquisas anteriores demonstraram que a obesidade é, mas considerou “interessante” observar que os genes envolvidos nas duas condições não são necessariamente os mesmos.
"Magreza e gordura são dois lados do mesmo espectro", lembra. "É bem estabelecido que a obesidade tem um forte componente hereditário, então não é uma grande surpresa ver que o mesmo é verdade para a magreza. Mas uma descoberta interessante do estudo é que nem todos os genes envolvidos nisso são os mesmos. O problema é que os resultados não nos dizem o porquê de algumas pessoas continuarem magras mesmo comendo o que quiserem".
Em outro comentário, Tim Spector, professor de Epidemiologia Genética do King’s College London, ainda no Reino Unido, ressalta que embora o estudo mostre haver um componente genético na magreza, outros fatores, como estilo de vida e o microbioma intestinal, também influem nesta condição.
"Cerca de um terço das pessoas em diversos países consegue se manter magra apesar da exposição a um ambiente alimentar ruim", disse. "Parte disso é por conta da genética, mas outros fatores, como diferenças individuais no estilo de vida e no microbioma intestinal, também são provavelmente responsáveis por isso".
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Redação iBahia
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