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Vacas produzem anticorpos capazes de impedir infecção por HIV

Pesquisadores isolaram os anticorpos dos animais imunizados para estudar suas propriedades

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Redação iBahia

21/07/2017 às 12:00 • Atualizada em 29/08/2022 às 3:43 - há XX semanas
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As vacas podem ser aliadas improváveis no desenvolvimento de vacinas eficazes contra a Aids, sugere estudo publicado nesta quinta-feira na revista “Nature”. Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA descobriram que o organismo do gado bovino é capaz de criar anticorpos amplamente neutralizantes (bNAbs, do inglês broadly neutralizing antibodies) contra o HIV rapidamente, dias após contato com antígenos do HIV.

Os bNAbs são um tipo específico de anticorpos que, em laboratório, demonstraram capacidade de impedir que a maioria das cepas de HIV infectem células humanas, e de proteger modelos animais da infecção. Entre 10% e 20% das pessoas que vivem com o vírus desenvolvem os bNAbs naturalmente, mas cerca de 2 anos após a infecção, quando o vírus já está instalado no organismo. E, até o momento, os cientistas não foram capazes de induzir a produção do anticorpo pelo sistema imunológico humano, o que serviria como uma vacina contra a doença.


Bois e vacas podem ajudar a resolver esse problema. Naturalmente, esses animais são incapazes de adquirir o vírus HIV, por isso, os pesquisadores injetaram antígenos do HIV em quatro bezerros e esperaram pela resposta do sistema imunológico. Todos desenvolveram bNAbs contra o HIV no sangue, em períodos que variaram entre 35 e 50 dias, após duas injeções. Apesar de os bNAbs bovinos não serem indicados para uso clínico em humanos na forma atual, explorar essa rápida produção pode ajudar os cientistas no desenvolvimento de novas técnicas.

"Desde os primeiros dias da epidemia, nós reconhecemos que o HIV é muito bom em enganar a imunidade, então, sistemas imunológicos excepcionais, que produzem naturalmente anticorpos amplamente neutralizantes para o HIV são de grande interesse, sejam eles de humanos ou de gado", disse Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

Os pesquisadores isolaram os anticorpos dos animais imunizados para estudar suas propriedades. Um desses anticorpos se mostrou particularmente potente, por se ligar a uma região do HIV usada para conexão e infecção das células de defesa do organismo. Batizado como NC-Cow 1, ele neutralizou cerca de dois terços das cepas do vírus testadas.

"Uma minoria de pessoas vivendo com o HIV produz bNAbs, mas somente após um período significativo da infecção, num ponto em que o vírus no organismo já evoluiu para resistir a essas defesas", explicou Dennis Burton, pesquisador do The Scripps Research Institute e coautor do estudo. "As repostas potentes nesse estudo são marcantes porque o gado parece produzir bNAbs em pouco tempo. E diferente dos anticorpos humanos, os anticorpos do gado são mais propensos a ter características únicas que lhes dão vantagens sobre antígenos do HIV".

Apesar de ninguém saber exatamente por que esses poderosos anticorpos se desenvolveram nas vacas, uma teoria sugere que a característica esteja relacionada com o sistema digestivo ruminante. O gado bovino e outros animais possuem estômagos divididos em várias cavidades com uma robusta população de bactérias. E para conter possíveis infecções por esses micro-organismos, eles possuem um mecanismo versátil de produção de anticorpos.

"O HIV é um vírus humano", completou Devin Sok, coautor da descoberta. "Mas os pesquisadores certamente podem aprender de respostas imunológicas em outros animais".

Uma das aplicações práticas da descoberta é o uso dos poderosos bNAbs bovinos em ferramentas de prevenção, como cremes vaginais que evitem a infecção por HIV. Mas o objetivo principal é desenvolver uma vacina que induza o sistema imunológico humano a produzir os anticorpos.

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