Chef Lili revela perrengues em cozinhas de São Paulo: 'Briga de faca'

A gastronomia, assim como qualquer outro traço cultural, é forma de comunicação e materialização da história de um povo. Por vezes, se conectar com a realização da comida é, também, descobrir mais sobre si. Esse é um movimento ensinado por Lili Almeida, a chef Lili, para seus seguidores nas redes sociais, onde é acompanhada por mais de 1 milhão de pessoas.

Em entrevista ao Preta Bahia, programa do iBahia, Lili falou da importância de recuperar a própria história, como mulher negra, para chegar onde está. A carreira como cozinheira profissional foi parte essencial para isso e a influenciadora enfrentou uma série de dificuldades em São Paulo para mudar sua trajetória.

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"Eu vivi algumas experiências, principalmente em São Paulo, terríveis de xingamento, briga dentro de cozinha de restaurante. Briga de murro, de faca, coisas surreais dentro de cozinha de restaurante", relata ela. "São Paulo é fogo, sempre fui a mais sorridente e [lá] eu parei logo de ser sorridente", conta.

Apesar das experiências negativas fora da Bahia, a culinária foi essencial para esse reencontro consigo. "A sensação que eu tenho é que tive um encontro comigo mesma e com minha família, com minha história. E isso sempre me chamou a atenção. Quando eu estava no restaurante trabalhando e estava na panela cozinhando, eu pensava o tempo nisso. No fim, eu sempre ficava pensando: 'Rapaz, a cozinha está me ensinando tanta coisa'", diz ela, sobre o poder ancestral da gastronomia.

Foi unindo essa parte essencial de sua personalidade e a formação como comunicadora que Lili conseguiu se tornar inspiração na internet. Ela percebeu uma lacuna para que mulheres negras fizessem conteúdos do tipo e resolveu ocupar esse lugar.

Durante a pandemia, a cozinheira começou a fazer vídeos de "bom dia" com mensagens inspiradoras da sabedoria popular ou de sua avó e, a partir disso, Lili se tornou uma mensageira da positividade nas redes.

Chef Lili celebra livro e diz que racismo é um impedimento na carreira

Além dos milhares de seguidores e da carreira na culinária, Lili destaca que a publicação de seu livro, intitulado "A gente merece ser feliz agora", é um dos maiores momentos de sua trajetória profissional. O produto reúne uma série de mantras e reflexões feitas pela influenciadora, com base nos conhecimentos que recebeu da avó.

Ainda em entrevista ao iBahia, a cozinheira contou o prazer que sente em atender os fãs durante as sessões de autógrafo do livro. Lili comentou que o momento em que percebeu que tinha o que considerava como "sucesso" aconteceu de maneira inesperada e impactante.

"É emocionante. Eu estava na minha casa, durante a pré-venda [do livro], e uma seguidora mandou mensagem para mim. Eu não conhecia ela [...] quando eu cliquei [na mensagem] era uma foto dela sentada na cama com meu livro na mão", conta. "Eu tomei um susto, nunca tinha visto aquilo! Meu olho encheu de água, meu coração ficou disparadão e eu falei: 'Caramba, cara, estou na cama da menina!", brincou ela.

O racismo costuma categorizar mulheres negras como raivosas, escandalosas ou exageradas, e esses estereótipos inibem o crescimento dessas mulheres. Lili avalia que o racismo é um dos únicos motivos que a faz sofrer violência nas redes sociais e que, por vezes, impede o impulsionamento de seu conteúdo.

"O trabalho que eu faço não é do [tipo] que eu tenho muito hater, mas eu tenho porque sou preta. E é por isso mesmo, porque são [ofensas] diretas sobre isso. Uma grande amiga [fala]: 'Se você fosse loira de olho azul, você tinha 10 milhões de seguidores!", pontua ela.

Apesar disso, Lili entende que trabalha com espiritualidade e procura não trazer para si essa lógica e negatividade. "Eu estou me sentindo cada vez mais próxima da minha fé, do que eu acredito. Então estou procurando cuidar muito bem da minha energia, estar em lugares onde quero estar, onde me sinto bem. Se eu vejo uma pessoa que eu não gosto, eu não me obrigo mais [a estar com esta pessoa]. Quero muito estar bem comigo", declarou ela.