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Atriz de 'Amor Perfeito'

Maria Gal fala sobre busca do protagonismo preto na TV: 'O Brasil real'

Conheça a história da soteropolitana que desbravou o país em busca de oportunidades no audiovisual brasileiro

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Lucas Sales

15/04/2023 às 8:00 - há XX semanas
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					Maria Gal fala sobre busca do protagonismo preto na TV: 'O Brasil real'
Foto: Reprodução / Redes sociais

Maria das Graças Quaresma dos Santos, ou simplesmente Maria Gal, resolveu deixar o bairro do IAPI, em Salvador, para desbravar o Brasil em busca de oportunidades. Coragem foi palavra de ordem para uma jovem de apenas 23 anos, que não tinha noção de que não só brilharia nas telinhas e telonas, como também seria referência para tantas outras.

Estrada fácil? Longe disso. Gal colhe atualmente os frutos de uma longa caminhada. Somente depois dos 40 que ela conseguiu ter a oportunidade necessária para esbanjar todo o talento. Que, inclusive, possui de sobra.

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Atriz, produtora, empresária, apresentadora, escritora e tudo aquilo que a comunicação e arte puderem proporcionar. Assim como muitas, Maria Gal quer sempre e mais. Dona de um sorriso largo, a atriz traduz a força da mulher genuinamente preta e brasileira. Ambição é outra palavra de ordem para a soteropolitana.

Em entrevista ao Preta Bahia da semana, a artista celebrou a maturidade profissional, o retorno à TV Globo e também dividiu assuntos delicados, porém necessários como pautas raciais e relacionamento abusivo.

Fé para quem é forte

A Ebateca, primeira escola de ballet clássico no Norte/Nordeste do Brasil, tem importância significativa na carreira de Gal. Lá, a artista pode ter um primeiro contato direto não só com a arte da dança, mas também da improvisação.

Aspas da citação
"Meu contato com a arte foi em Salvador, aos 6 anos, minha mãe me colocou em uma escola de ballet aí da cidade, a Ebateca, e em um determinado momento lá também começou a ter aulas de improvisação de teatro e nisso eu comecei a me apaixonar. Eu adorava improvisar. Foi aí que começou a despertar esse lado atriz" Maria Gal Atriz

A mãe da atriz, Clarice Quaresma, também foi outra peça fundamental na trajetória artística da moça, afinal, era com a genitora que Gal assista peças e espetáculos infantis da época. "Minha minha mãe me levava também muito ao teatro para peças infantis .Teatros que, hoje, infelizmente, nem existem mais. Acho que foi daí esse despertar, né?".

Na adolescência, um dos hobbies favoritos de Gal era imitar consagradas atrizes de novelas. Um dos nomes citados com carinho pela artista foi o de Dona Ruth de Souza (1921-2019), uma das grandes damas da dramaturgia brasileira e a primeira grande referência para artistas negros.

Com a chegada da maturidade e consequentemente a cobrança para decidir um rumo e profissão para o futuro, Gal resolveu cursar - e se formar - em Design Gráfico. Executar a função na prática nunca passou pela mente da artista que queria apenas entregar um diploma nas mãos dos pais.

"Um queria o ramo de Direito, o outro queria que fosse Medicina, enfim, eu senti que aquilo não teria nada a ver comigo, apesar que eu acho que seria uma boa advogada. Após a formatura, eu decidi me dedicar só a arte".

A partir desse ponto, ela investiu em cursos com professores como Zebrinha, Chica Carelli, além de integrar o Bando de Teatro do Olodum.

"Fiz um curso profissionalizante no Teatro Vila Velha, aí teve uma montagem de 'Sonhos de Uma Noite de Verão' e a gente viajou para se apresentar em São Paulo. Foi a minha primeira vez em um avião. A partir daí eu comecei a fazer alguns trabalhos com o Bando [de Teatro Olodum]. Fizemos uns 3 ou 4 espetáculos. Eu tinha 'pirado' em São Paulo, embarquei para lá e nessa eu não retornei mais [para Salvador]. Nem eu sei hoje o quanto eu tive coragem. Eu passei por muitas dificuldades que foram importantes para a minha trajetória".


				
					Maria Gal fala sobre busca do protagonismo preto na TV: 'O Brasil real'
Foto: Reprodução / Redes sociais

Atores precisam de papéis

Até um tempo não tão distante, Maria Gal fazia apenas participações na dramaturgia brasileira. Foi assim em trabalhos como "Gabriela", "Sob Pressão", "Carrossel", "Um Lugar ao Sol", em filmes como "Dona Flor e Seus Dois Maridos", e em séries na Netflix, como "3%".

Mas, o que faz um ator crescer? Experiência. Foi com essa reflexão que a artista fez o teste para a personagem Gleyce Soares de "As aventuras de Poliana" e "Poliana Moça", e desbancou nomes como os das atrizes Isabel Fillardis e Naruna.

"Eu fundei a minha empresa [Move Maria] indignada por conta disso. Eram participações pequenas, em papéis estereotipados e teve um momento em que eu cansei. Se não te dão a oportunidade, como você vai crescer como ator? O SBT foi a emissora que me deu uma grande oportunidade para mostrar a minha responsabilidade [...] o quanto era importante esses desafios que a personagem me trouxe. Ela foi uma personagem que me deu muitas possibilidades de atuação".

A personagem surgiu em um momento delicado na vida de Maria. No mesmo período, ela conseguiu dizer basta a uma relação abusiva que viveu. Ela encontrou na dramaturgia e nas sessões de terapia uma nova e ainda mais empoderada mulher.

"Foi muito importante. Foi um papel que veio num momento especial, eu precisava muito de trabalho, eu estava vivendo um relacionamento abusivo e a gente sabe que não ter poder econômico piora muito a situação. Eu só descobri que estava em uma relação abusiva depois que eu terminei, depois que eu tive a coragem de terminar e rompi. Foi um presente esse papel".

'Amor Perfeito'

No seu retorno à TV Globo, após 10 anos da passagem por "Joia Rara" (2013), a artista interpreta Neiva, uma personagem importante da trama das seis que atua como melhor amiga da protagonista Marê, vivida por Camila Queiroz, e também com a vilã do folhetim, Gilda (Mariana Ximenes).

O desafio, camadas da personagem e estar inserida no novo momento do grupo Rede Globo foram chaves essenciais para a atriz encarar a missão.

"Eu gosto muito da Globo. Eu estou percebendo o quanto a emissora está desenvolvendo formas e maneiras de mudar a sua maneira de trabalhar a pauta racial. Sei que ainda tem muito a fazer, mas hoje a gente está numa emissora onde a gente tem o protagonismo negro nas três novelas [a das 18h, 19h e 21h]. Essa vontade de estar no grupo para propor ideias, projetos, sou uma mulher criadora. É uma equipe que eu considero um luxo".

Aspas da citação
"Eu não sou uma mulher somente preta. Sou retinta, tenho nariz largo, lábios grossos, a gente sabe o quanto é cruel também a questão do colorismo, então eu diria que é necessário marcar essa presença na casa Rede Globo". Maria Gal Atriz

Em busca do protagonismo

Maria Gal é acelerada e tem sede para ultrapassar as próprias barreiras. No bate-papo, ela ainda deixou claro que planeja chegar ao topo e viver uma grande protagonista, assim como Sheron Menezzes em "Vai Na Fé".

"Eu quero protagonizar séries, novelas, filmes. Em novela a gente trabalha muito. Eu gravei no sábado de aleluia [feriado]. Não é só glamour, a gente é um operário e eu exijo mais de mim do que o próprio diretor. Como mulher preta retinta nordestina quero também o meu protagonismo. Estou buscando isso nas mais variadas frentes. O 'Preto no Branco' [programa que a artista apresentou no ano passado] é um exemplo disso".

Uma das autoras do livro "Uma Sobe e Puxa a Outra" também destacou o quanto é necessário as pessoas reais se verem em todos os segmentos da televisão.

"A gente ainda não se vê. Temos essa imensa invisibilidade também no audiovisual, e eu poder buscar e querer ambicionar esse protagonismo é de extrema importância para o Brasil. Para que o Brasil veja o Brasil real. Na maioria das vezes não é. Apresentadores, jornalistas, diretores...a maioria é branca. A gente precisa e quer ocupar esses espaços", concluiu.

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