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'Não é mais só o sonho de Marivaldo', avalia criador do Quabales 10 anos após início do projeto que já ajudou centenas de pessoas

Músico começou o movimento porque queria beneficiar a comunidade onde nasceu e foi criado - o Nordeste de Amaralina, em Salvador. Atualmente, 450 inscritos são assistidos

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Alan Oliveira

22/10/2022 às 8:00 - há XX semanas
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					'Não é mais só o sonho de Marivaldo', avalia criador do Quabales 10 anos após início do projeto que já ajudou centenas de pessoas
Foto: Divulgação

Quando o músico e produtor musical Marivaldo dos Santos iniciou o projeto Quabales, no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador, ele estava realizando um desejo pessoal de ajudar a comunidade onde nasceu e foi criado. Porém, dez anos se passaram e o movimento se expandiu, fazendo desse sonho algo muito maior: a oportunidade de crescimento e aprendizado de centenas de pessoas que já foram beneficiadas pelas ações.

Atualmente, o projeto tem 450 alunos inscritos, com idades entre 3 e 89 anos. As aulas acontecem diariamente, em todos os turnos, e, para além da música e dança, os alunos têm acesso a diversas outras áreas, como reforço escolar, robótica, inglês e fotografia. Tudo gratuitamente.

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Foto: Divulgação

Para se manter, a ação conta com a ajuda do próprio Marivaldo, da comunidade e de parcerias, como a com a organização do Festival de Verão, que anunciou que irá arcar com as despesas do projeto durante um ano. Decisão que o músico comemora não somente pelo apoio, mas pela oportunidade de mostrar o trabalho do projeto para outras pessoas.

"O Quabales foi premiado, teve a sorte de ter essas pessoas que se aprofundam em trabalhos sérios. Essas pessoas fizeram uma exposição muito grande do Quabales dentro de uma comunidade que estava muito perto, porque muita gente eu conhecia e que conhecia o Quabales, mas tiveram a oportunidade de realmente ver o que é feito aqui, o que nós fazemos. Então, não só esse apoio, mas eles poderem colocar a gente em uma vitrine, onde talvez aquela marca, aquele patrocinador possa ver".


				
					'Não é mais só o sonho de Marivaldo', avalia criador do Quabales 10 anos após início do projeto que já ajudou centenas de pessoas
Foto: Divulgação

E, segundo Marivaldo, essa exposição já funcionou, porque patrocinadores estiveram no Nordeste de Amaralina para visitar a sede do projeto após o anúncio, na festa de lançamento do evento que será realizado em 2023. "Hoje o Quabales tem essa função de realmente mostrar que nem todas as ONGs, nem todas as associações, nem todos os projetos sociais, não são sérios. Festival de Verão jamais colocaria o nome dele em algo que não fosse sério. Isso já fala qual é a importância do Quabales na vida dessas pessoas. É responsabilidade social, seriedade. O impacto é maior do que a gente imagina".

Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, o músico relembrou o início difícil das ações e avaliou o crescimento do projeto, que gerou uma banda de mesmo nome que se apresentou no Rock in Rio em 2017, e um movimento artístico que será uma das atrações do AFROPUNK Bahia deste ano, o Baile Favellê. O baiano comemora o fortalecimento do trabalho e as proporções que o seu sonho teve.


				
					'Não é mais só o sonho de Marivaldo', avalia criador do Quabales 10 anos após início do projeto que já ajudou centenas de pessoas
Foto: Divulgação

"O Quabales virou maior que o Quabales. É maior do que isso aqui que existe. Porque você está lidando com ser humano. Não existe valor na felicidade. Você pode propor sua felicidade, pode ter sua casa na praia, mas qual o valor da felicidade? A felicidade é você. É você estar bem com você mesmo, fazer o que você ama. Então, é isso que é o Quabales. É uma coisa tão maior e tão imensa, porque a gente, além de estar envolvido vários gêneros e estruturas, é uma coisa que já não é mais Marivaldo. Não é mais só o sonho de Marivaldo, é uma coisa que já está projetada", avaliou.

Uma ação que foi iniciada antes mesmo de começar oficialmente, quando o músico decidiu abandonar a ideia de ser surfista e levar uma carreira musical. Ao iBahia, Marivaldo contou que, antes disso, ainda não havia passado pela cabeça dele que poderia fazer da música sua profissão. Muito menos que o trabalho seria reconhecido internacionalmente.


				
					'Não é mais só o sonho de Marivaldo', avalia criador do Quabales 10 anos após início do projeto que já ajudou centenas de pessoas
Foto: Divulgação

Tudo foi acontecendo aos poucos, depois que o baiano foi morar nos Estados Unidos (EUA) com uma irmã, que é coreógrafa e iria apresentar um espetáculo lá. Na época, Marivaldo tinha 21 anos e, nos intervalos entre as apresentações, aproveitava para tocar ao ar livre, chegando, inclusive, a ser convidado para dar uma aula de música na Universidade Stanford. Assim, atuando na área, ele nutriu o amor pela profissão.

Marivaldo conta que ainda não havia muita influência da música que era apresentada por ele no exterior. A cultura baiana não era tão difundida fora do país na época, e isso fez com que ele quisesse apostar ainda mais nessa área, fazendo cursos para se especializar. Aliado ao talento, isso o destacou e deu a oportunidade de Marivaldo fazer parte de várias bandas e grupos musicais internacionais, até chegar onde está até hoje: o Stomp.


				
					'Não é mais só o sonho de Marivaldo', avalia criador do Quabales 10 anos após início do projeto que já ajudou centenas de pessoas
Foto: Divulgação

E foi com o Stomp, em 2012, que o Quabales surgiu. O músico conta que já tinha a ideia e a vontade de iniciar o projeto, mas precisava de apoio e de nomes para impulsionar a ação na comunidade. Na época, ele contou ainda com o apoio da cantora Ivete Sangalo. Marivaldo lembra que uma das primeiras ações no Nordeste de Amaralina foi juntar um grupo de jovens moradores em uma grande roda e mostrar a música que fazia com o Stomp.

Depois disso, o projeto passou por 2 espaços diferentes e menores, até chegar onde está hoje. Construída ao longo dos anos, a sede recebe os alunos para as diversas aulas que são oferecidas no local. Público que foi crescendo, assim como o espaço, principalmente depois do período mais crítico da pandemia de Covid-19.


				
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"Quando as aulas começaram a retornar, foi tipo um boom. Lá naquele espaço de 20/30 foi para 450. Alunos de 3 anos a 89. Então, o Quabales deu essa crescida e agora a comunidade vem em peso. As aulas todas de graça. Temos jovens e adultos especiais. Alguns tem um grau de autismo pequeno, outros maiores. Aqui temos cadeirantes. Quando a gente faz qualquer coisa social, a gente está pensando sempre nos jovens, nas crianças e a gente esquece da melhor idade, ou dessas pessoas especiais. Então, aqui a gente tem um lema que é muito legal, que é todo mundo junto e misturado", refletiu o músico.

A banda Quabales nasceu ao longo dos anos, nesse processo de fortalecimento do projeto e de lapidação dos integrantes com as aulas. Marivaldo conta que antes não queria iniciar o grupo, mas acabou percebendo que era importante a formação, já que ele, enquanto músico, sabia as dificuldades do mercado, principalmente para iniciantes. Hoje, a banda tem parcerias com artistas como Daniela Mercury e Preta Gil.

"Eu não queria fazer nada de banda e os meninos falavam: 'Professor, tem que fazer banda'. E eu falava que eles tinham que aprender. E aí eu comecei a ver a demanda e também tinha consciência de que os meninos estavam tocando para caramba e eu sabia que é difícil entrar em uma banda. E aí eu pensei que já que ninguém abre, eu iria abrir. Se criou o Quabales banda nesse propósito, com uma linguagem da percussão baiana, com a linguagem do Stomp. Não tem ninguém no Brasil que faça com essa linguagem, que é música, com performance e todos eles cantam e tocam", destacou.

Diferencial que o músico aponta como algo que chamou atenção quando a banda se apresentou no Rock in Rio. "A crítica era que eles diziam que esperavam um Olodum, uma Timbalada, porque era da Bahia e um grupo percussivo, e o que viram não foi nada disso. Foi uma coisa futurista, uma coisa diferente. A gente chegou lá com personalidade".

Neste ano, com o movimento Favellê, Marivaldo espera criar o mesmo impacto durante o AFROPUNK. "Vai ser impactante, porque eu estou montando um negócio para arrebentar. Eu quero que a galera vá para o AFROPUNK e que quando vê o Favellê, que não é conhecido, que fiquem impactado. Uma coisa de união, porque vai além da dança. É um movimento", contou.

O músico comemora os espaços que chegou e o que tem proporcionado para a comunidade, sem deixar de agradecer pelos apoios que tem recebido ao longo dos anos. "Eu fico muito feliz e acredito mais ainda no poder da mente de fazer algo. E acredito que o seu tempo é muito valioso. E acredito que quando você realmente acredita, e tem muito amor envolvido… o Quabales me prova isso… que é possível sim".


				
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"A gente não faz nada sozinho. A gente tem outros parceiros, tem outras pessoas envolvidas, por trás. Pessoas que acreditam. Então, eu sou muito grato também, e honrado de poder dizer que o Quabales existe e não tem, principalmente no momento em que a gente está vivendo agora, nenhum apoio político. É a comunidade que está fazendo isso acontecer. A comunidade vem em peso e transborda aqui muito amor e te dá mais força, porque esse é meu trabalho", completou.

Durante a entrevista, Marivaldo também aproveitou para falar sobre um filme que vem produzindo para a plataforma de streaming Amazon Prime e que deve ser lançado no ano que vem. "É um filme que envolve tudo o que é música. Tem toda uma história. E eu não posso falar muita coisa, porque o filme ainda está no processo, mas é um filme muito interessante, que eu levei muito da raiz Brasil, Bahia, para dentro do universo da história que a gente está contando".

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