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Ancestralidade: conheça a história dos primeiros terreiros de Salvador

Gantois, Casa Branca e Afonjá são terreiros de candomblé históricos em Salvador. Casas são lideradas por mulheres e evidenciam a representatividade

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Jonattas Neri

24/03/2024 às 8:30 • Atualizada em 24/03/2024 às 9:08 - há XX semanas
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No dia 29 de março, Salvador completa 475 anos de fundação, um marco que não apenas comemora sua história, mas também destaca a profunda conexão com a espiritualidade afro-brasileira enquanto símbolo de resistência negra. A data também evidencia que os terreiros de candomblé são fundamentais na construção da identidade cultural da cidade.


				
					Ancestralidade: conheça a história dos primeiros terreiros de Salvador
Xirê celebra a existência dos Orixás. Divulgação/Secom

Segundo a historiadora Vanda Machado, o processo racista dificultou a ascensão e reconhecimento desses espaços, que promovia celebrações desde a chegada dos povos africanos no Brasil. No entanto, a fundação desses territórios só foi possível séculos depois.

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O iBahia conversou com a Ekedi Isaura Genoveva sobre a contribuição da população negra ao longo da evolução de Salvador, destacando a importância dos Orixás para a formação social da comunidade mais negra fora da África. Você pode conferir a matéria completa logo abaixo.

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Primeiros terreiros de Salvador

Estima-se que os três primeirosterreiros na capital baianade nação ketu sejam o Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Terreiro da Casa Branca), o Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê (Terreiro do Gantois) e o Ilê Axé Opô Afonjá. O culto ancestral começou no Candomblé da Barroquinha, logo depois se transformando no Terreiro da Casa Branca, no Engenho Velho da Federação, devido a especulação imobiliária no Centro da cidade.

A trajetória do Terreiro da Casa Branca é um testemunho da resiliência do povo negro brasileiro frente à opressão e à adversidade. Ainda no século 19, em meio à brutalidade da escravização, Mãe Eugênia ergueu o barracão como um refúgio sagrado onde os fiéis podiam praticar sua ancestralidade e cultuar os Orixás, que são as forças da natureza, como afirma a Ekedi da Casa Branca, Isaura Genoveva.

"O importante desse conhecimento é que havia uma necessidade, uma vontade e uma prática trazida do outro lado do Atlântico, que era a prática da agregação, do ficar junto, da celebração, da musicalidade e da roda", ressalta a historiadora Vanda Machado.


				
					Ancestralidade: conheça a história dos primeiros terreiros de Salvador
A resistência negra possibilitou a preservação da cultura afro. Egi Santana/G1

Já o Terreiro do Gantois, situado no bairro da Federação, também teve sua origem a partir da Casa Branca, em meados do século 19. Ele foi fundado por Mãe Menininha do Gantois e a sua existência é marcada pelo período onde havia a proibição das práticas religiosas africanas e os terreiros de candomblé eram alvos da polícia, que fundamentava suas operações nas leis para invadir e apreender objetos sagrados.

No entanto, a Yalorixá desafiou as adversidades e fundou o espaço onde os rituais dos Orixás poderiam ser celebrados livremente. Ao longo dos anos, o Gantois tornou-se um dos maiores Ilês de Salvador e abrigou filhos de santo famosos, como Vinicius de Moraes e Gal Costa. O cantor Caetano Veloso e Maria Bethânia também são filhos da casa.


				
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A resistência negra possibilitou a preservação da cultura afro. Matheus Leite

Por fim, o Terreiro do Opô Afonjá, localizado no bairro de São Gonçalo do Retiro, foi fundado por Mãe Aninha. Este espaço é um dos mais importantes centros de preservação da religião no país, onde os ensinamentos ancestrais são transmitidos de geração para geração.

Uma das Mães de Santo mais renomadas do Brasil,Mãe Stella de Oxóssi, foi a quinta líder do Ilêe contribuiu também para a literatura afro-brasileira, escrevendo livros como "Meu Tempo É Agora" e "A Ialorixá e o Pajé". O Opô Afonjá não apenas celebra as tradições religiosas, mas também é um centro de educação, cultura e empoderamento para a comunidade local, com oficinas diárias.


				
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Mãe Stella de Oxóssi é um dos principais símbolos da religião no país. Danutta Rodrigues/iBahia

A resistência do candomblé e a potência do matriarcado

No axé, o matriarcado é um dos principais conceitos que ressaltam a influência das mulheres na sociedade. Ser "mãe" possibilita a luta pela preservação de todas as Entidades, a organização do quilombo urbano, o acolhimento às diferenças e o combate ao racismo religioso.

A presença feminina é sagrada e nutritiva para toda a comunidade, incluindo os Orixás, que costumam reverenciar às egbomis diante ao seu trabalho desenvolvido na terra.


				
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Mãe Neuza de Xangô, Mãe Carmem de Oxum e Mãe Ana de Xangô. Reprodução/Redes sociais


Por esta virtude, as mulheres são detentoras de um poder que não é atravessado pela aniquilação do outro, característico do patriarcado colonial, mas da administração positiva de uma coletividade.

Seria mera coincidência, Salvador completar 475 anos, com o título de cidade mais negra fora da África e com três dos primeiros terreiros de candomblé do Brasil aqui sendo liderados por mulheres?! Deixamos essa reflexão. Atualmente, a Yalorixá da Casa Branca é Mãe Neuza de Xangô. A líder no Terreiro do Gantois é Mãe Carmem de Oxum. E por fim, no Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Ana de Xangô dá continuidade ao legado de Mãe Stella.

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