Acusado por um grupo de estudantes de Engenharia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) de fazer declarações machistas e homofóbicas em sala de aula, o professor do Instituto de Física Luiz Santiago de Assis, 64 anos, negou ontem as acusações. Ele afirmou que o teor da denúncia feita na Ouvidoria da Ufba - que resultou no afastamento temporário até o fim da apuração de uma comissão de sindicância que pode levar até 60 dias, a partir do dia 11 de maio – é “infundado”. Antes da publicação da reportagem sobre as denúncias, ontem, o CORREIO já havia procurado Santiago, que não foi localizado, nem respondeu a email, mesmo com intermediação da direção do Instituto de Física. Antes de conversar por quase uma hora com a reportagem, ontem, Santiago ponderou que foi orientado por um advogado a comentar pouco sobre o caso e não aceitou ser fotografado. “Eu não sou advogado, eu sou físico. Não sei o que eu posso falar que pode se enquadrar no Código Civil ou não”. Ele, no entanto, afirmou ter a “consciência tranquila” de que não teve comportamentos machistas em sala.
Em um dos relatos que está sendo investigado, uma estudante contou que o professor fazia gracejos com conotação sexual, como questionar o que fazia um grupo de quatro alunos “de quatro” no fundo do laboratório em que a aula ocorria. “Não falei isso, deturparam. As experiências são feitas em duplas, eu olhei para uma mesa ao fundo e tinha quatro estudantes, eu perguntei: ‘O que vocês estão fazendo aí em quatro’. Preposição ‘em’, não proposição ‘de’. Não tem nada a ver com sexo, tenha paciência, tem tanta mulher por aí...”. Boas alunas Santiago também descarta conotação sexual quando se referiu a ter “boas” alunas. “Quando eu digo ‘boa’, eu não sei o que esse povo... tá com sexo na cabeça, é? ‘Boa’ quer dizer boa estudante, muito inteligente”. Ele defendeu sua postura dentro de aula: “(Postura) normal. Agora, o que acontece? Normal dentro do meu padrão. Eu sou uma pessoa que leio muito, conheço muito de política, e apesar de ser físico, eu só vivo ali na seção de Humanas (a entrevista foi em uma livraria), eu sou Marxista”, afirmou. “Uma pessoa que o pai foi preso político e que tem uma consciência humanitária fora do comum vai ter conversas machistas? Eu sou tão machista que quem cozinha na minha casa sou eu. Não é contraditório? Eu não gosto de que mulher fique botando mesa para mim, isso pra mim é um incômodo, quem criou meus filhos foi eu”. Homofobia Sobre as acusações de ser homofóbico, enumerou nominalmente amigos homossexuais na academia que poderiam depor a seu favor. Mas não descartou que pudesse ter feito brincadeiras com a questão em sala de aula. “Brincadeiras todo mundo faz, brincadeira boba que não tem essa conotação. Tipo, ‘você é abestalhado, rapaz, você parece que não é homem, ô’, coisa desse tipo assim, eles não tinham a inteligência de perceber que eu estava brincando”, afirmou ele. Corpos e shorts Santiago reconheceu que comentava sobre questões da vida pessoal em sala, mas nega que tenha exposto alunas ou feito elogios ao corpo delas, como consta na denúncia recebida na ouvidoria no início do mês. “Meus comentários sempre foram generalizados, sem direcionar para senhor ninguém. Nunca falei na minha vida ‘aluna nunca devia andar de short curto’. Quem falou vai ter que se retratar”, retrucou. Livros Ele diz desconhecer qualquer autora de livros da Ufba a quem pudesse ter se referido na sala em tom de crítica. Segundo as alunas, o professor teria dito na aula do dia 13 de março: “Na minha época, se estudava pelos (livros escritos por) machos”. Santiago, ontem, retrucou: “A palavra ‘macho’ não cabe, talvez eu tenha me referido a livros “sérios”, “mais puxados”, eu não citei os autores, citei os livros”. Santiago disse que era natural presentear as alunas com livros e filmes e destacou sua generosidade com as alunas. “Minha cultura é muito vasta. A quem gostava de livro, eu dava livro, a quem gostava de filme, eu indicava filme, a quem estava aprendendo inglês, eu ficava batendo papo em inglês na sala, e isso ninguém fala”. Defensores O professor ainda fez questão de mostrar um papel assinado por alunas elogiando sua atuação no ano passado. Marcado, inclusive, por um beijo de batom vermelho, o papel teria sido uma avaliação proposta por ele sobre sua aula. Ele cita que só foi assinado por mulheres por todos os alunos homens terem perdido a disciplina e não estarem em sala. O professor diz que desconhece qualquer prática machista dentro do Instituto de Física e classifica que pessoas que podem ter essa postura são, para ele, “burras”. Professor associado, sem regime de exclusividade, Santiago conta que ensina na Ufba há 36 anos e está próximo de se aposentar. Ele diz não confiar na isenção da comissão de sindicância que deve decidir sobre o seu futuro na universidade. “Eu fiquei extremamente depressivo, me afastaram dos meus alunos que é a fonte da minha vida”, afirmou. Ele já foi professor de outras instituições em Salvador, como o Instituto Federal Baiano (Ifba), de onde foi desligado, segundo diz, após licenças médicas por depressão. Santiago é graduado pela Ufba, tem mestrado e doutorado pela Universidade São Paulo (USP) e PhD pela Colorado State University (EUA).
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