Um píer flutuante, o quebra-mar recuperado e não mais do que três corredores de novos boxes à direita da feira antiga, na Avenida Oscar Pontes, Cidade Baixa: é o que há de pronto na obra de requalificação da Feira de São Joaquim, iniciada em janeiro de 2012. Em um dos corredores, sem instalações elétricas e isolado por cavaletes, há uma placa: Quadra 05, Rua 07, São Joaquim. Mas ainda é do outro lado dos tapumes que dá para ouvir o movimento dos feirantes. Eles esperam há três anos pela requalificação. A obra foi idealizada em 2010 pela Secretaria de Turismo (Setur), com custo de R$ 60 milhões. A previsão era começar em 2011, quando parte dos 7 mil feirantes foi transferida para o Galpão Água de Meninos, mas a construção só começou em janeiro de 2012. Deveria ter sido entregue em dezembro.
Sujeira, improviso e falta de segurança imperam entre o Galpão de Água de Meninos (círculo branco) e a área de construção (círculo amarelo) |
"Agora, só se for dezembro de 2015", protesta o vendedor de caranguejos José Elias dos Santos, 43 anos. Ele já não acredita em prazos. "Não tem condição de funcionar como está. A Conder tem um escritório aqui, ninguém diz nada". O último prazo venceu há 11 dias, mas os feirantes, maiores interessados, nem foram informados do adiamento da entrega. O novo prazo, segundo a Conder, é maio de 2015.
No dia 9 de abril de 2014, a reportagem do CORREIO solicitou à Companhia informações sobre o andamento das obras, já em atraso. Em nota, a Conder respondeu que havia concluído duas etapas - a requalificação do Galpão Água de Meninos, para onde foram transferidos 500 feirantes em 2011, e a recuperação do quebra-mar, instalação do píer flutuante, limpeza das águas e dragagem do canal. A terceira e última etapa, que consiste na construção de 426 novos boxes e recuperação de outros 923, começou em janeiro de 2013. A previsão era que a obra toda fosse feita em sete fases. Os feirantes transferidos para a execução de cada uma delas voltariam aos boxes novos num prazo de seis a oito meses. Quase dois anos depois, nem a primeira fase foi concluída.
21 anos
O presidente do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes da Cidade de Salvador, Marcílio Costa, também não acredita nos prazos: "Esse pessoal deveria ter vergonha de dar prazos. Se cada fase levar três anos, vai levar 21 anos para a feira ficar pronta". Costa também critica o descaso da Setur. "O outro secretário, Domingos Leonelli, vivia procurando saber. Mas esse, Pedro Galvão, não disse a que veio. O que era para ser um sonho para os feirantes, virou um pesadelo", afirmou.
Foto: Mauro Akin Nassor |
Ele prometeu "buscar uma fórmula para concluir a reforma como um todo", mas desconversou quando questionado sobre o atraso das obras. "Mexer num espaço que é patrimônio imaterial, onde tem pessoas trabalhando, não é fácil. E ali, além de problemas de execução da obra, algumas empresas quebraram, veio o problema do cais, que teve que contratar uma empresa especializada para fazer o projeto", justificou.
Em março de 2014, a Conder e a Setur fizeram uma nova promessa: em 13 de junho de 2014 seriam entregues 500 unidades. Os outros feirantes passariam às unidades até o final do ano, encerrando a requalificação. Nada disso aconteceu. Agora, a Conder diz que está em conclusão a última etapa da primeira de sete fases. "O atraso ocorreu por problemas contratuais com a empresa que iniciou os serviços e já foi substituída", justificou o órgão, em nota. O CORREIO tentou ouvir a diretoria de Equipamentos e Qualificação Urbanística, sem sucesso.
Prejuízo Enquanto a obra anda a passos lentos, os comerciantes penam na feira antiga, suja e com infraestrutura precária, ou no galpão provisório, pouco visitado pelos clientes. "Tudo que tem na outra feira tem aqui. O cliente não vem, a não ser que precise comprar mariscos", queixa-se o presidente da Associação dos Pescadores de São Joaquim, Manoel dos Santos, 48 anos.
Para chamar a atenção dos clientes e conseguir vender, o feirante Hilton dos Santos montou uma banca de caranguejos do lado de fora da feira. "A gente precisa de uma solução de quando a gente vai voltar, porque ninguém aguenta mais", lamenta.
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