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Complexo da Pupileira

Arqueólogos encontram ossadas no cemitério de escravizados em Salvador

Descoberta foi divulgada nesta segunda-feira (26), em coletiva de imprensa na sede do Ministério Público da Bahia, no bairro de Nazaré

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Redação iBahia

27/05/2025 às 9:48 - há XX semanas
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Os arqueólogos que atuam nas escavações do antigo cemitério de escravizados, localizado no estacionamento do Complexo da Pupileira, no bairro de Nazaré, em Salvador, fizeram uma importante descoberta: as primeiras ossadas presentes no local. A novidade foi revelada nesta segunda-feira (26), durante uma coletiva de imprensa realizada na sede do Ministério Público da Bahia (MP-BA).


				
					Arqueólogos encontram ossadas no cemitério de escravizados em Salvador
Arqueólogos encontram primeiras ossadas no cemitério de escravizados em Salvador. Foto: Victoria Nasck

De acordo com a pesquisadora e arqueóloga Jeanne Dias, que coordenou o projeto "Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora", as ossadas encontradas têm um grande potencial para aprofundar os estudos e auxiliar na reconstrução histórica, cultural e espiritual de um local que permaneceu esquecido por 180 anos. Jeanne comemorou a conquista, destacando a importância da descoberta para o entendimento das comunidades negras, cujas histórias são fundamentais para a formação da Bahia e do Brasil.

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“Estamos muito felizes com a localização das ossadas dos remanescentes das comunidades negras, no antigo Cemitério do Campo da Pólvora. […] Poder discutir, falar, debater um pouco sobre a trajetória e a vida dessas comunidades, que foram trazidas de maneira forçada da África para trabalhar no Brasil, sendo escravizadas aqui, e das outras populações marginalizadas”, destacou ao g1.

Os primeiros restos mortais encontrados no local são ossos largos e dentes. Por se tratar de um patrimônio sensível, as fotos dos artefatos não foram divulgadas para respeitar a relevância histórica e cultural do material.

Os restos estavam enterrados a aproximadamente 2,5 metros de profundidade, em um terreno caracterizado por solo ácido e úmido, o que tornou as ossadas frágeis. Por isso, o material passará por um processo de conservação para garantir sua preservação.

Com essa descoberta, os pesquisadores conseguiram confirmar a existência do maior cemitério de escravizados da América Latina. Acredita-se que no local possam estar enterrados os restos mortais de importantes figuras históricas, como mártires das Revoltas do Malês e da Revolta dos Búzios, movimentos de grande relevância na luta contra a escravidão na Bahia e no Brasil.


				
					Arqueólogos encontram ossadas no cemitério de escravizados em Salvador
Arqueólogos encontram primeiras ossadas no cemitério de escravizados em Salvador. Foto: Victoria Nasck

Primeiros vestígios foram encontrados no cemitério de escravizados dois dias após início das escavações


				
					Arqueólogos encontram ossadas no cemitério de escravizados em Salvador
Primeiros vestígios são encontrados em cemitério de escravizados na Pupileira, em Salvador. Foto: Divulgação

Os primeiros vestígios de pessoas enterradas no cemitério de escravizados foram encontrados no último dia 16. Pequenos fragmentos, datados do século XIX, foram localizados e podem ajudar a identificar as pessoas sepultadas no local.

As escavações começaram no dia 14 de maio, um marco importante, pois coincidiu com os 190 anos da Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador em 1835. Este levante, o maior movimento de resistência de escravizados na Bahia, está diretamente relacionado à descoberta do sítio arqueológico.

A localização do cemitério foi revelada durante a pesquisa de doutorado da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). De acordo com a análise de Silvana, há uma forte possibilidade de que os mártires da Revolta dos Malês estejam enterrados no local, assim como pessoas envolvidas na Revolta dos Búzios e na Revolução Pernambucana, ocorridas em 1798 e 1817, respectivamente.

Além dos escravizados, os registros da pesquisadora indicam que também foram enterrados no cemitério indígenas, integrantes da comunidade cigana e pessoas sem recursos para custear um enterro digno. O número exato de corpos no local ainda não é conhecido.

A arqueóloga Jeanne Dias, coordenadora do projeto que investiga a área, destacou os desafios enfrentados pela equipe, que teve de lidar com chuvas intensas que deixaram o solo encharcado, dificultando o acesso às camadas arqueológicas. "Nosso objetivo é localizar vestígios remanescentes ósseos dos antigos escravizados e de outras pessoas que foram enterradas nessa antiga área da cidade, no antigo cemitério do Campo da Pólvora", explicou ao g1.


				
					Arqueólogos encontram ossadas no cemitério de escravizados em Salvador
Primeiros vestígios são encontrados em cemitério de escravizados na Pupileira, em Salvador. Foto: Divulgação

Pesquisa


				
					Arqueólogos encontram ossadas no cemitério de escravizados em Salvador
Possível localização de cemitério de escravizados do século 18 é investigada em Salvador. Foto: Silvana Olivieri

A pesquisadora, arquiteta e urbanista Silvana Olivieri utilizou uma variedade de fontes para determinar a localização do cemitério de escravizados. Ela consultou diversos mapas e plantas de Salvador, datados do século 18, além de estudar artigos dos historiadores Braz do Amaral (1917) e Consuelo Pondé de Sena (1981), bem como um livro escrito em 1862 por Antônio Joaquim Damázio, contador da Santa Casa de Misericórdia.

O cemitério foi inicialmente administrado pela Câmara Municipal de Salvador e, posteriormente, passou para a responsabilidade da Santa Casa de Misericórdia. Registros históricos indicam que a área foi utilizada por cerca de 150 anos, até 1844, quando a Santa Casa adquiriu e passou a operar o Cemitério Campo Santo, localizado no bairro da Federação. Esse novo cemitério absorveu as atividades funerárias, dando fim ao uso do espaço original.

"Os sepultamentos eram realizados em valas comuns e superficiais, geralmente em condições bastante precárias e indignas, sem nenhuma cerimônia religiosa ou rito fúnebre, nem há registro de capela", apontou SIlvana.

A descoberta foi apresentada para a Santa Casa em setembro de 2024, durante reunião com a presença do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas não houve retorno. Em dezembro, a pesquisadora e o advogado e professor de Direto da Ufba, Samuel Vida, recorreram ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), que intermediou a conciliação. Em março deste ano, a escavação foi liberada.

"O cemitério sofreu um apagamento histórico, desaparecendo tanto da paisagem visível como da memória da cidade", disse a pesquisadora.

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