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Caso Gamboa: entenda o que aconteceu durante a madrugada no local

Moradores da comunidade acusam os policiais de terem chegado atirando

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Da Redação

01/03/2022 às 20:39 • Atualizada em 24/11/2023 às 10:38 - há XX semanas
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A capital baiana acordou com a notícia de que três pessoas foram mortas nesta terça-feira (1°), na comunidade da Gamboa, localizada na Avenida Contorno, durante uma ação da polícia.


				
					Caso Gamboa: entenda o que aconteceu durante a madrugada no local
Caso Gamboa: entenda o que aconteceu durante a madrugada no local. Foto: Reprodução/TV Bahia

Os moradores da comunidade acusam os policiais de terem chegado atirando e usado gás lacrimogêneo, durante a madrugada, por volta das 2h. Inicialmente, a informação era que apenas uma das vítimas havia morrido. No entanto, a PM confirmou que três pessoas morreram na ação.

Por conta do ocorrido, os moradores da localidade realizaram um protesto na manhã desta terça. Os populares fecharam os acessos à Avenida Contorno, tanto sentido Cidade Baixa quanto sentido Vale do Canela e chegaram a atear fogo em objetos no meio da via.

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A Polícia afirma que os agentes foram recebidos com tiro ao entrarem na comunidade. Conforme nota da corporação, após revide e posterior progressão no terreno, as equipes encontraram três homens caídos ao solo em posse de armas de fogo e drogas. Já os outros suspeitos conseguiram fugir.

De acordo com a PM, cerca de 10 policiais estavam envolvidos na ação. As equipes encontraram no local e apreenderam relógio, três armas, drogas, mochila e balança de precisão.

  • Quem são as vítimas?

Uma das vítimas fatais é o ambulante Alexandre dos Santos, de 20 anos. Segundo informações do Correio24Horas, o jovem é irmão do atacante Juninho do Esporte Clube São Bernardo do Campo, time que disputa a terceira divisão do Campeonato Paulista.

"Falei com ele logo cedo. Ele ficou arrasado e queria vir, mas a gente não deixou porque ele vai ter um jogo amanhã", declarou a mãe do jogador Silvana dos Santos, 48, ao jornal.

As outras duas vítimas, segundo o g1 Bahia, são um rapaz identificado com Patrick Sapucaia e um homem identificado como Cleberson. Não há maiores informações sobre as vítimas.

Os três chegaram a ser socorridos no Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos.

  • O que dizem os familiares?

A mãe de Alexandre, uma das vítimas, afirma que os militares chegaram ao local disparando contra população. Segundo Silvana dos Santos, ela chegou a pedir para ver o filho baleado, mas teve o pedido negado pelos policiais.

"Eles chegaram atirando. Eu não tenho que esconder meu rosto, porque eu não sou uma criminosa. Eu cheguei e falei: ‘moço, eu quero ver meu filho’, e eles apontaram as armas para mim. Eu sou uma criminosa? Se eu fosse criminosa, eu estava mostrando meu rosto? Eu não vou pedir justiça para o homem, não. Eu vou pedir justiça para Deus, porque tudo posso naquele que me fortalece", disse.

"Toda a dor que eu estou sentindo hoje, Deus vai me confortar, porque é só ele que vai me confortar. Não adianta espraguejar, porque não vai trazer meu filho de volta, então eu tenho que pedir que Deus proteja eles e a família deles”, continuou.

Ainda segundo uma parente de Alexandre, que não teve a identidade revelada, não houve troca de tiros na região. Ela sustenta a versão da comunidade, de que os policiais chegaram no local e atiraram sozinhos.

“A polícia chegou aqui para fazer o trabalho dela, mas fez um trabalho truculento. [Os policiais] Chegaram com a viatura dando muitos tiros, chegaram com bombas de lacrimejantes [gás lacrimogêneo], mataram dois meninos aqui, com requintes de crueldade. Eles fizeram isso, deram tiro na população, executaram com sangue frio. Na Gamboa de Baixo não tem só traficante e ladrão, tem moradores, gente de bem, tem crianças. Eles têm que fazer o trabalho deles, a população não mexe, mas chegar da forma que chegaram, dando tiro e matando, tá errado", disse.

"A polícia chegou dando um monte de tiro, ainda abriu a minha torneira para lavar o sangue dos meninos, que eu vi pequenos. Meu sobrinho, que eu peguei no colo e vi desde criança. Um bom menino, que não teve o direito de se defender", continuou.

  • O que diz a Polícia Militar?

No local, o tenente-coronel Nilson, comandante da Polícia Comunitária, não comentou as acusações de que os policiais estariam trabalhando drogados. O militar reafirmou que houve troca de tiros entre as vítimas e os militares.

“Eles trocaram tiros. Eu presenciei inclusive as armas, vi as drogas e tudo, as cápsulas todas deflagradas. Houve troca de tiros. Os policiais já estão na Corregedoria sendo ouvidos, vai ser feita a perícia, vai ser tudo feito de acordo com a lei. São uns 10 policiais, foram três guarnições", disse ele.

Segundo o tenente-coronel, os policiais estiveram no local após uma denúncia de que as vítima estaria fazendo uma pessoa de refém na comunidade.

"A denúncia que tivemos é de que estava havendo uma troca de tiros e tinha um refém. Aí quando chegou aqui, eles já começaram a trocar tiros com a polícia. A pessoa estava refém dentro de uma casa e tinha alguém baleado, essa é a informação que veio para a gente, foi essa a denúncia que fez com que a gente estivesse aqui”, afirmou.

Já o comandante-geral da PM, o coronel Paulo Coutinho, repetiu as informações e destacou o papel da polícia.

"Nossas guarnições foram acionadas para atender uma demanda de homens armados naquela localidade. Ao chegar no local houve, por parte dos que estavam armados, resistência. Isso depende de uma apuração, que estamos em momento preliminar e vai esclarecer os fatos. Nós não queremos, em hipótese alguma, óbitos. Infelizmente, aconteceu uma situação dessa natureza, mas a Polícia Militar está, como patrimônio do estado, para salvaguardar a vida dos baianos. E quando chamados, para atuar em uma situação dessa natureza, estaremos presentes", falou ao g1 Bahia.

Por fim, o coronel Paulo Coutinho disse que lamenta as mortes mas que são "efeitos colaterais" da ação da PM.

"Lamentamos profundamente, porque nos deparamos com uma situação em ocorrência operativa, onde existem, efetivamente, efeitos colaterais. Nosso policial militar está para a defesa do cidadão e só ele sabe o que encontrou diante daquela situação operativa. É para isso que nós estabelecemos uma apuração, a partir de um inquérito policial militar que já está sendo instaurado na Corregedoria da PM, para que todos os fatos sejam esclarecidos. E serão esclarecidos na sua inteireza, e nós passaremos para a comunidade e para a sociedade baiana tudo o que aconteceu", finalizou.

  • Identificação dos corpos e enterros

O corpo de Patrick Sapucaia já foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) e seguiu para o Cemitério Campo Santo. Informações iniciais é de que a vítima deve ser enterrada nesta quarta-feira (2), às 9h.

O corpo de Cleberson segue no IML. Ainda não há informações sobre o enterro. Já o terceiro jovem, Alexandre dos Santos, segue no IML ainda sem identificação.

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