Competidor de maratona é apoiado por amigo por 10km após sentir dor nas pernas: 'sozinhos não somos ninguém'

A maratona Salvador, que ocorreu no último domingo (25), ganhou uma situação inesperada, digna de Jogos Olímpicos. Se no Mundial de Atletismo de 2020, Braima Suncar Dabó abdicou da chance de se classificar na prova para ajudar o atleta Jonathan Busbyu, na capital baiana, os amigos Fábio e Jorge provaram o poder da amizade e do coletivo.

Debaixo do sol e do calor, os 42km de corrida se tornaram prova de resistência. Fábio Freitas era quem competia. Com 8 anos de experiência, o corredor começou a praticar o esporte quando a esposa começou a investir na academia, e desde então não parou mais. Com o tradicional "farol a farol" no currículo, esta deveria ser apenas mais uma entre as corridas que já fez.

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Já Jorge Castro, mesmo com três maratonas, não competia no dia e esperava o amigo na altura das Gordinhas, em Ondina, à pedido de Fábio.

"No dia anterior a prova, Fábio pediu para que eu o acompanhasse nos últimos 10km, na altura das Gordinhas, na Ondina, sentido Itapuã… Dessa forma, fiz!", conta.

Na altura da Praia da Paciência, começou o drama de Fábio. Os primeiros incômodos começaram a aparecer, o que fez o competidor reduzir o volume, onde ao invés de correr, passou a caminhar. Jorge o acompanhava, e começou a auxiliar o amigo durante a prova.

"Quando chegamos próximo à praia da paciência, os incômodos já apareceram e foi necessário caminhar ao invés de correr… hidratamos e voltamos em um trote leve, quando em Amaralina, Fábio sentiu novamente o incômodo e precisou parar e descansar", narra.

Segundo Fábio, a dor aumentava a medida que caminhavam e o percurso a ser percorrido ainda era longo.

"Faltava muito para chegar. A gente ia andando, eu tava querendo me escorar um pouco nele também. Jogaram água na minha cabeça, mais pessoas conhecidas foram aparecendo…"

Por conta das fortes dores, Fábio precisou parar algumas vezes, mas a vontade de cruzar a linha de chegada ainda predominava até aquele momento. Somente na altura do Jardim dos Namorados, a dor ficou crítica. Faltavam 4km para o final.

"Em Amaralina, Fábio sentiu novamente o incômodo e precisou parar e descansar. Durante o trajeto paramos mais algumas vezes… a dor só aumentava e a vontade de concluir a prova era maior…Quando chegamos na altura do Jardim dos Namorados, a dor ficou crítica e insuportável… foi quando Fábio pensou em desistir da prova", revela o amigo.

Foi nesse momento, em que "a união fez a força" e o lado esportivo e a amizade se fizeram presentes. Apoiado em Jorge, com o incentivo e apoio mental do amigo, junto com outros que apareciam pelo trajeto, Fábio conseguiu não só continuar, mas cruzar a linha de chegar.

"Faltavam 3/4km para o final… Sugeri a ele tomar um gel de carboidrato e terminar a prova caminhando… A dor aumentou e tivemos que andar comigo dando suporte a ele. Nesse momento, encontramos outros corredores amigos, no qual foram ajudando com hidratação, gritos de incentivo e até força física, carregando o colega", relembra Jorge.

Encontros esportivos, amizade de faculdade

Jorge e Fábio se conheceram na faculdade, entre 2005 e 2010. Após esse período, os dois passaram a se encontrar em eventos esportivos e pela rede social.

Durante a prova, Jorge até brincou com a situação. "Velho, você fez engenharia, uma maratona nao é nada", contou Fábio, rindo.

Jorge explica , que também costuma correr. Mas não conseguiu se preparar para competir na Maratona de Salvador, como fez Fábio. No entanto, quis o destino que o reencontro com o amigo fosse ajudando e correndo.

'Sozinhos não somos ninguém'

"Assim… Costumo dizer que a Corrida é mais coletiva do que qualquer esporte coletivo… Sozinho não somos ninguém… Eu não estava inscrito na prova, só fui dar apoio e prestigiar", diz Jorge.

Nem a experiência do amigo foram suficiente para driblar as inconstâncias e coicidências do destino.

Para Fábio, fica o agradecimento, pelo companheirismo ao longo de 10km. "Muito obrigada, sem você, eu teria desistido", diz para o amigo.

"O Fábio é um guerreiro. Hoje ele já foi na clínica de fisioterapia para entender o que aconteceu e está vivendo sua vida normal… Precisou tomar soro (hidratação) no posto de saúde da organização da maratona e saiu andando, se queixando de cansaço e dores nas pernas. Ele me agradeceu e disse que em 2023 irá correr novamente", conta Jorge Castro.

Agora, a dupla de amigos que continuou próxima graças ao esporte, pretende, claro, permanecer no caminho. Fábio já pensa na Maratona Salvador do próximo ano, se preparando melhor e usando de aprendizado o que aconteceu neste ano. Enquanto Jorge, que anda parado, já pensa em retornar a escala de treinos para voltar a competir.

Se na disputa, Fábio pode não ter ganho a medalha de ouro, com certeza, na competição da vida, ele foi número 1 ao lado do amigo e de quem o ajudou.

Confira como foi a chegada dos amigos na orla de Salvador

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— iBahia (@iBahia) September 27, 2022