"Quanto nome tem a Rainha do Mar? Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Inaê, Sereia, Mucunã, Maria, Dona Iemanjá". Os versos conhecidos na voz de Maria Bethânia exaltam as muitas representações de Iemanjá, divindade africana da nação Ketu, em diferentes correntes culturais do Brasil. Na Bahia, a festa para saudar a entidade é sempre realizada no dia 2 de fevereiro, no bairro do Rio Vermelho. O que poucas pessoas sabem é que a escolha da data tem origem conturbada. "Existia um presente para Mãe D'Água, que surgiu após um dos pescadores consultar os búzios para entender a falta de peixes e na mesma época havia uma festa para Nossa Senhora de Santana no bairro. Os pescadores iam à igreja para abençoar a pescaria. Em um dado momento, cada um foi para o seu lado e a festa de Santana voltou a ser celebrada em julho, como prevê a Igreja Católica", explica o historiador Jaime Nascimento.
Marca cultural brasileira, o sincretismo religioso, que associa santos a orixás, desaparece nos festejos que saúdam Iemanjá, que datam do decorrer do século XIX e eram realizados em diversos lugares de Salvador. Diferente de outras festas religiosas populares da Bahia, a divindade africana é cultuada sem correspondes na Igreja Católica, como aparece com a festa do Senhor do Bonfim (associado a Oxalá) e de Nossa Senhora da Conceição da Praia (relacionada a Oxum).
O historiador Rafael Dantas destaca que as celebrações do 2 de fevereiro ganharam popularidade nas décadas de 40 e 50 do século XX. "Além da força das tradições religiosas ligadas ao candomblé e seus seguidores, muitas personalidades, políticos, artistas, estudiosos e intelectuais, entre eles Pierre Verger, passaram a destacar a importância da festa", pontua.
'Dona do meu orí'
Foi ainda no ventre da mãe que começou a história de amor e devoção por Iemanjá da nutricionista Mariana Araújo dos Santos. "Eu sempre fui desejada por minha mãe e ia nascer no dia 2 de fevereiro, mas por outros motivos, nasci no dia 21 de janeiro. Descobri que era filha de Iemanjá aos 27 anos e eu já sentia uma relação profunda com ela desde sempre, e eu não sabia explicar. Um amor e respeito inexplicável com o mar e com ela".
Para Marcos Rezende, a relação entre o religioso e profano nos festejos Iemanjá devem ser vistos de uma forma integrada. "Se remontarmos a tradição do candomblé, essa ideia de religioso e profano, tanto na África, como no Brasil, se confunde, não porque é desrespeitoso, mas porque se mistura. O conceito de sagrado, para as religiões de matrizes africanas, é de um sagrado que que convive conosco, são planos sobrepostos. Diferente da ideia cristã em que terra, lugar em que estamos, é distante do céu, do paraíso. O profano sempre existiu e o importante é nós sabermos que tem que separar cada um dessas vivências, mas me preocupa mais as mudanças dadas pelos gestores públicos de normatização da festa", analisa.
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Redação iBahia
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