A conclusão do serviço para consertar a linha de distribuição de energia que alimenta as bombas da estação de condicionamento de esgoto da Embasa, prevista para a noite desta sexta-feira (24), não foi concluído. Segundo a empresa de saneamento, o processo de religação dos cabos é complexo e, por isso, não foi possível terminar no prazo estimado.Técnicos da Coelba e da Embasa seguem trabalhando e não há uma nova previsão para conclusão do serviço. Na noite de quarta (23), na Avenida Vasco da Gama, um ônibus bateu num poste que sustenta os cabos dessa linha.
Poluição do mar Da praia, os pescadores olhavam desolados para o mar. Uma mancha escura sinalizava que ontem o mar literalmente não estava para peixe. É que, após o acidente que deixou 23 feridos e provocou três minutos de apagão em seis bairros de Salvador, milhares de litros de esgoto não tratado foram lançados no mar do Rio Vermelho, causando um prejuízo considerado “incalculável” pelos pescadores da Colônia Z1, núcleo Mariquita. Isso ocorreu após um ônibus bater em um poste, na Avenida Vasco da Gama, na noite de anteontem, e interromper a transmissão de energia elétrica que alimenta a estação de condicionamento da Embasa, no Lucaia, responsável pelo tratamento de mais de 60% do esgoto da capital. Com isso, todo o esgoto que deveria ser bombeado para o emissário submarino do Rio Vermelho passou a ser lançado diretamente no mar. Sem energia, o processo de tratamento de resíduos está incompleto. A Embasa está fazendo apenas o gradeamento do esgoto, o que não retém os resíduos sólidos mais finos. “Tudo de pior que poderia acontecer, aconteceu”, afirmou o superintendente de esgotamento da Embasa em Salvador e Região Metropolitana, Júlio Mota. O esgoto está sendo arremessado no Rio Lucaia e chegando à praia do Rio Vermelho, na foz que fica ao lado da Colônia de Pescadores do Largo da Mariquita e do Mercado do Peixe do Rio Vermelho. “99% desse material é água, somente 1% do material é sólido. Uma parte é carga orgânica e a outra parte são os patogênicos (que podem transmitir doenças)”, detalha o analista de saneamento da Embasa. O desastre ambiental é visível. Uma mancha escura se formou no mar. O mau cheiro só é atenuado pelo forte vento que sopra no bairro. O geógrafo Eliezer Almeida, 49 anos, conta que passava no bairro quando sentiu o fedor. Parou para registrar com o celular e enviar para os amigos. “Precisa ver de quem é a responsabilidade, tem que haver um plano (de emergência), independente do problema que teve na Vasco da Gama”. Ele conta que se assustou com o volume de esgoto sendo despejado. “Dizem que o rio corre pro mar, aqui é o esgoto que corre para o mar, dá para usar um caiaque aqui de tanto esgoto”, ironizou. Os pescadores da colônia contam que não é costume ter despejo de resíduos naquele trecho, exceto quando há fortes chuvas. “Só dão descarga quando tem muita chuva, fora isso, eu nunca vi isso aqui dessa forma”, afirmou José Roberto da Silva, que é um dos fundadores da Colônia da Mariquita. O problema O Sistema de Disposição Oceânica do Rio Vermelho foi construído em 1975 e tem capacidade para processar 8,3 mil litros por segundo. O emissário atende as áreas do entorno da Baía de Todos os Santos e as áreas que se estendem da Barra até Armação. A estação de esgoto recebe energia de duas subestações de eletricidade diferentes da Coelba, segundo o superintendente da Embasa. Quando há problemas em uma dessas estações, a outra atende à demanda. O agravante é que a linha que transmite a energia dessas subestações é única e foi justamente ela que foi afetada com o acidente. “Fomos atingidos no nosso calcanhar de aquiles”, ilustrou Júlio. Desde que todas as vítimas foram resgatadas, uma equipe da Coelba trabalha para o restabelecimento da linha de transmissão de 69kV que abastece unicamente a estação da Embasa. Pela manhã, a equipe escavou um buraco ao lado do poste atingido pelo ônibus. Os quatro cabos de eletricidade e a estrutura elétrica do antigo poste passam para o novo, permitindo que o sistema seja ligado. A previsão era de que o serviço fosse concluído ainda ontem, mas até as 20h os trabalhos ainda continuavam. Comprometido Hoje, dentro do volume de esgoto da capital que é tratado pela Embasa (nem todo o esgoto da cidade é coletado pela empresa), 60% vai para o emissário do Rio Vermelho, os demais 40% vão para o emissário que fica no mar, na altura do bairro da Boca do Rio. O processo que está comprometido com a falta de energia é justamente para reduzir a poluição dos rios e mares em Salvador. O esgoto é levado até as estações de tratamento pela rede coletora e, em seguida, é lançado no mar a 2.350 metros da costa, através do emissário submarino do Rio Vermelho, ou disperso a 45 metros de profundidade pelo emissário da Boca do Rio. O superintendente da Embasa acredita que, após o restabelecimento do funcionamento da estação, em seis horas os problemas serão resolvidos. Até o restabelecimento da distribuição de energia na estação de tratamento, a Embasa recomenda que as pessoas evitem o contato com o mar. O médico infectologista Antônio Bandeira alerta para a possibilidade de doenças. “Aquela água entra em contato com a boca e a pessoa pode acabar contraindo doenças de transmissão fecal-oral, como Hepatite A, salmonelose e outras doenças diarréicas, além da leptospirose”, exemplifica. O fato de o acidente ter ocorrido na véspera de um feriado evitou o comprometimento do trânsito, interditado parcialmente na Avenida Vasco da Gama para a reposição do poste afetado, e também para a dimensão do problema ambiental – o volume de esgoto é menor, com a cidade vazia. Mas as consequências do acidente deixaram os pescadores bem tristes.
Mancha no Rio Vermelho: esgoto joga do no mar sem tratamento |
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