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Jovens são flagrados fumando tranquilamente crack |
Quatro meses depois de uma série de reportagens do CORREIO denunciando roubos e assaltos na rua Banco dos Ingleses, próximo ao Campo Grande, moradores continuam se queixando de ocorrências na região. Os crimes são praticados, segundo vizinhos, por usuários de crack que fogem em direção à Gamboa de Baixo, na avenida Contorno. O que é relato, porém, não é difícil de explicar: ontem de manhã, o CORREIO flagrou, a céu aberto, o uso de crack na avenida Contorno. Uma passarela de pedestres é usada não como passagem, mas como ponto de encontro para dependentes da droga. “À noite, da varanda do prédio, dá pra ver às vezes dezenas de pessoas fumando. É a epidemia do crack”, relata o professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (Ihac) da Ufba, Leandro Colling, 40 anos, que mora na rua há sete. Moradores afirmam que o policiamento na região, que havia sido reforçado após as reportagens, tem falhado pela falta de circulação de policiais na parte mais baixa da rua. Um morador conta que foi roubado ontem, por volta das 8h15, na rua, quando abria o portão para entrar em seu edifício. Ele contou que, momentos antes do roubo, estava conversando com o próprio infrator. “Ele estava indo assaltar uma menina. Um carro viu, começou a buzinar e ele resolveu desistir. Quando me viu, eu disse pra ele: ‘Rapaz, você assaltando os moradores daqui?’. Ele respondeu: ‘Eu moro na Gamboa de Baixo, você acha que eu vou pegar alguém daqui?’”, conta ele, que mora há mais de 40 anos na rua. Quando o morador se virou de costas para abrir o portão, o ladrão o agarrou por trás e levou sua carteira. Segundo o porteiro do edifício, Alessandro Vinhas, muitos assaltos ocorrem na área. “Só esse mês foram três pessoas assaltadas aqui. Tem muita gente que já vem correndo, com medo, e eu tenho que ficar ligado pra abrir o portão rápido. À luz do dia, os roubos têm sido constantes, mas o pior é à noite”, observa o funcionário, ressaltando que o problema do crack é reconhecido pelos moradores. “Eles roubam pra comprar droga, todo mundo fala isso. É de momento, tem dias que tá uma paz, tem dias que acontecem essas coisas. Infelizmente a gente mora com o inimigo ao lado e muita gente não dá queixa com medo de retaliação”, completa o porteiro. Apesar dos problemas que encara em sua própria vizinhança, o professor Leandro Colling defende que o problema seja tratado de forma mais ampla. “Todo mundo que é assaltado diz que os caras estavam visivelmente alterados, fissurados pela droga quando praticavam os roubos. É uma epidemia de crack. Colocando policiamento aqui na rua, as mesmas pessoas vão praticar roubos em outro lugar. Enquanto não se tiver uma visão mais ampla do problema, a situação não vai mudar. Não adianta ter a ideia de ‘resolve o problema da minha rua e o resto que se exploda’”, conclui. Segundo o comandante do 18ª Batalhão da PM, que cobre a região, coronel Anselmo Brandão, o policiamento continua reforçado na rua Banco dos Ingleses. “Nós temos um policiamento lá até de noite. E estamos com um trabalho de abordagem na Gamboa também. Na própria delegacia (1ª Delegacia, nos Barris) não tem registro. Vou me inteirar sobre esses roubos recentes e checar se houve alguma falha. Se houver, vamos corrigir”, garantiu o comandante. “Nosso pessoal desce diariamente na Gamboa. Reduziu muito, mas o crime é oportunidade, às vezes um ladrão não vê policial e comete. Não é que não tem policiamento”, conclui.
Matéria original Correio 24h Consumo de crack e roubos assustam bairro do Campo Grande