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'Davi não volta mais': sem esperança, mãe quer sepultar o filho

23 PMs serão indiciados por homicídio, ocultação de cadáver e formação de quadrilha pelo desaparecimento de Davi Fiúza

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21/04/2016 às 8:11 • Atualizada em 01/09/2022 às 12:16 - há XX semanas
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Mãe de Davi entrando no DPT, onde deixou material
genético
(Foto: Almiro Lopes)

Olhar firme, sustentado por uma infeliz certeza: “Davi não volta nunca mais”. O desabafo, carregado de angústia, foi feito pela dona de casa Rute Fiúza, 47 anos, ontem à tarde, quando deixava o Departamento de Polícia Técnica (DPT), nos Barris.
Um dia após o CORREIO divulgar que 23 policiais militares serão indiciados por homicídio, ocultação de cadáver e formação de quadrilha no inquérito que apura o desaparecimento do filho dela, Davi Santos Fiúza, 16, no bairro de São Cristóvão, em 24 de outubro de 2014, Rute disse que quer aprender a viver com a ausência do filho, para ela definitiva.
“Tentando me acostumar com a falta dele, mas a saudade ainda vai existir. Vou ter saudade do que não vou ver, que é Davi com barba, com voz grossa, dele adulto, com meus netos, não vou ver”, declarou, emocionada.
A esperança de que Davi estaria vivo se esvaiu há cerca de um mês, quando Rute viajou ao Rio de Janeiro, para relatar seu drama, a convite da Anistia Internacional Brasil. “Em um encontro com outras mães, vi casos semelhantes, de mães que esperam o retorno dos filhos há cinco anos sem qualquer resposta sobre o paradeiro”, contou. Ela disse que pior do que a dor de perder o filho é não ter o direito de enterrá-lo. “Eles (policiais) ocultaram o corpo dele. Me tiraram o direito de enterrá-lo, de me despedir dele. Isso é doloroso demais”, comentou a mulher.
Perfil de DaviOntem, Rute esteve na Coordenação de Antropologia Forense do DPT, onde foi submetida a uma entrevista para montar o perfil de Davi. “Eles perguntaram se ele tinha tatuagem, sinais no corpo, se tinha todos os dentes, se usava correntes grandes, mas meu filho não tinha nada disso. Só problemas alérgicos”, relatou.
Segundo ela, as informações serão armazenadas em um banco de dados para serem comparadas aos corpos que chegam ao Instituto Médico Legal (IML). A mãe disse que já tinha recebido uma guia para comparecer ao DPT, emitida pelo delegado Renaldo Mangabeira, titular da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), mas que só ontem resolveu atender ao chamado. “Ao longo desse tempo, passei por vários problemas, e o mais recente é que estou com um parente internado num hospital e por isso tive que me dedicar à situação”, explicou.

Jovem desapareceu em 2014 (Foto: Arquivo CORREIO)

Surpresa e mudançaAo ler o jornal CORREIO, ontem, Rute teve a certeza de que suas suspeitas, na verdade, eram certezas, acompanhadas de uma surpresa. “Já imaginava que eram policiais, por causa das testemunhas, mas não acreditava que policiais em formação seriam capazes de tal ato”. Ela quer justiça. “Pode até demorar, mas vão passar pela justiça do homem e a justiça de Deus”, confiou.
O sofrimento de Rute surgiu há um ano e meio e a consome até hoje. Por conta disso, nunca mais foi a mesma. “Hoje, consigo dormir cinco horas por dia sem ajuda de medicamentos. Deixei de sair com os amigos e não tenho mais vontade de escutar músicas porque me lembram Davi”, lamentou.
A dona de casa já mudou três vezes de endereço, trocou inúmeras vezes o número do celular e deve deixar o atual emprego. “Lidar com tudo isso é difícil. Não quero ficar em evidência, apenas quero justiça. A dor de uma mãe que perde o filho é a mesma. A única diferença é que algumas conseguem sepultá-los, outras não”, finalizou. Investigação acusa 23 PMs por morte e ocultaçãoDe acordo com o advogado da família de Davi Fiúza, Paulo Kleber Carneiro Carvalho Filho, que teve acesso ao inquérito do Departamento de Homicídios Proteção à Pessoa (DHPP), que será analisado pelo Ministério Público Estadual (MPE), 23 policiais militares estão sendo indiciados pelo assassinato do jovem, além dos crimes de ocultação de cadáver e formação de quadrilha. Ainda segundo ele, 19 dos acusados eram alunos do curso de formação da PM e faziam uma operação final para obtenção do diploma de soldado, quando, segundo a investigação, abordaram Davi na Rua São Jorge e o raptaram. A última ‘prova’ consistia, além de fazer incursões, na condução de pessoas envolvidas com o crime. “Um dos policiais instrutores falava que os alunos teriam que trazer um adolescente chamado Ícaro, que teria envolvimento”, citou. A supervisão estaria por conta de quatro PMs da 49ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/São Cristóvão), com patentes como tenente, sargento e cabo. Outra informação antecipada pelo advogado é que os equipamentos de GPS e rádios comunicadores estavam desligados na operação. Paulo Kleber contou ainda que o inquérito foi encaminhado ao MPE, na sexta-feira, pelo delegado Reinaldo Mangabeira. Procurado, Mangabeira confirmou que encerrou a investigação. Já a assessoria da Polícia Civil informou apenas que o inquérito está em “fase de conclusão” nas mãos do delegado José Bezerra, diretor do DHPP. A assessoria do MPE informou que, até as 15h55 de ontem, o inquérito ainda não havia sido remetido. “Em geral, os inquéritos chegam no final da tarde à Central de Flagrantes e, após isso, são distribuídos para a promotoria. Por conta do feriado, mesmo que chegue hoje (ontem) à Central, só deverá ser distribuído na segunda”, informou a assessoria.
Correio24horas

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