Maria Bertozao, 42 anos, teve parte das pernas decepadas (Foto: Mateus Pereira/GOBA)
Era o aniversário dela. A doméstica Maria Aparecida Bertozo, 42, não planejava festa para aquele 17 de março de 2012, em Caravelas, no Sul do estado. Mas, mesmo nos piores momentos, Cida não imaginaria o que estava por vir. “O homem com quem vivi seis anos, cortou minhas duas pernas, meus braços, minhas costas. Hoje, tenho braços quebrados, tenho dificuldades de andar e moro com minha mãe”, conta, de uma vez. Nos braços, grandes cicatrizes. Ele tentou cortar, mas não conseguiu. As pernas tiveram que ser amputadas na altura da canela. Para se locomover, anda com uma cadeira de rodas ou “de joelhos”. “Ele não estava bêbado, estava muito bem quando fez isso”, diz, referindo-se àquele que, na época, trabalhava na lavoura e, hoje, está preso. A tortura começou no início do relacionamento. Ele a espancava com frequência, proibia de sair de casa. Não queria nem que encontrasse a família. Para que não o largasse, ameaçava matar os parentes dela. No dia do aniversário, o agressor chegou a dizer que tinha um presente para ela. Cida, então, pediu que ele fechasse uma torneira da caixa d’água, do lado de fora da casa. Ele disse que iria, se ela também fosse. Ali, Cida não sabia que ele tinha passado o dia anterior amolando uma faca, um facão e uma foice. “Quando fiquei de frente pra rua, ele disse que ia cortar minhas pernas. Saí por baixo do arame para tentar pedir ajuda, mas ele chegou por trás e rumou a foice. Me puxou pelo cabelo e começou a me lapear”, lembra. O homem acendeu um cigarro e, depois, jogou na poça de sangue de Cida. Para ela, disse: “Se fosse uma poça de álcool, você estaria toda queimada”. Um mês depois, o homem foi preso, escondido perto de Prado, também no Sul. “Sinto muito medo dele ainda hoje, de ele aparecer de novo”. Hoje, Cida é membro do Conselho de Mulheres da prefeitura de Lauro de Freitas e conta sua triste história para tentar evitar que se repita.