Já pensou em economizar até R$ 2 mil reais neste começo de ano? Isso é possível. Na sede do projeto Ler na Praça, dá para encontrar livros didáticos em bom estado e levar para casa sem pagar nada. Criado há cerca de 20 anos em Salvador pelo pequeno comerciante Lázaro Sandes, o espaço funciona em Brotas, na Rua Teixeira de Barros, nº 12, de segunda a sábado, das 8h às 16h.
Diariamente, mães e estudantes se debruçam sobre as pilhas de livros didáticos escolares. Um exemplar custa entre R$ 150 e R$ 200. E é para ajudar os pais que Matheus Sena, 12 anos, vai há quatro pesquisar no acervo. A mãe dele é assistente social e o pai está desempregado e faz “bicos” para garantir o sustento.
Leia também:
“Na maioria das vezes, consigo encontrar a lista toda. Estou procurando desde o início do mês e encontrei só uma parte, mas vou continuar tentando”. Frequentador habitual, ele costuma ir lá buscar romances para as horas livres, além de contribuir com doações. “Tem que ter paciência”. O projeto funciona como uma organização não-governamental. A ideia, segundo Lázaro, veio após um sonho com o ex-chefe dos Escoteiros do Mar, grupo João das Botas, Valdemar Henrique da Silva. “Sonhei com ele me cobrando uma boa ação. Peguei uns livros que tinha em casa e comecei a distribuir na praça da Cruz da Redenção”.
Todos os dias chegam doações no espaço, inclusive de escolas parceiras, como os Colégios Villa-Lobos, Anchieta, São Paulo, Módulo e Bom Pastor. Os livros não estão catalogados, apenas separados por disciplina. Para ajudar os pais, a diretora do projeto e esposa de Lázaro, Rosália Sandes, recebe as listas dos alunos com nome e telefone. “Quando recebo doações, procuro para ver se o livro está nessas listas. Se tiver, eu ligo para a pessoa vir buscar”, explica.
No segundo grau, a estudante Jaqueline Magalhães, 15, foi levar a relação do colégio. “Vou fazer o 1º ano e se fosse comprar todos os livros ia dar R$ 2.117. É o primeiro dia que venho aqui e já achei dois livros”, conta, revelando que vai voltar para procurar o restante do material de que precisa.
No total, são mais de 100 mil livros no estoque. Os didáticos ocupam a maior parte do espaço de exibição por causa do início do ano letivo, mas é possível encontrar livros técnicos de Direito, Engenharia, Medicina, entre outras áreas, além de literatura, poesia, autoajuda e muitos outros gêneros. O fluxo de doações é tão grande que eles chegam a receber de 3 a 4 mil livros por dia. “Pego tudo com o meu carro, que é pequeno, e tenho que fazer várias viagens para trazer”. Para ajudar a desaguar o acervo, ele faz pequenos eventos e viagens para cidades como Cachoeira e Santo Amaro para doar o material.
Lázaro já distribuiu livros na praia, na rodoviária e em praças e avisa que o espaço está aberto para associações, escolas ou qualquer instituição que queira montar uma biblioteca. “Meu maior pagamento é promover e incentivar a leitura”.
A manutenção do projeto vem da boa vontade de Lázaro, da esposa e do marceneiro e amigo da família Paulo Luís dos Santos. Eles tiram do próprio bolso para manter a iniciativa com o dinheiro que ganham vendendo quentinhas no restaurante da família. É com a verba que conseguem, por exemplo, anualmente, ir até a Feira Literária de Cachoeira (Flica), onde alugam um caminhão e levam cerca de 50 mil livros para doar.
A falta de patrocinadores ou apoio dos governos deixa o comerciante frustrado. “Preciso de um galpão maior, vejo os governos com tanto espaço vazio e ninguém ajuda. Com os livros daqui dava para fazer pequenas bibliotecas, de uns 20m², até debaixo de um viaduto dá para fazer”. O projeto funciona num pequeno anexo do restaurante da família.
Veja também:
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!