Junto com o pai, Anderson Madureira tem duas bancas de legumes na Feira de São Joaquim. Em tese, deveria estar trabalhando no Galpão Água de Meninos, espaço provisório montado para abrigar os trabalhadores enquanto a feira é gradualmente reformada pelo governo estadual.
Mas, alegando “prejuízo total”, Anderson optou por voltar para a área de São Joaquim que ainda não fechou para obras. Sua queixa acompanha o calendário. Iniciada em janeiro de 2012, a reforma já está um ano atrasada.
Primeira fase de boxes era para estar pronta há um ano, mas a Conder agora promete para novembro (Foto: Robson Mendes) |
“Tivemos que alugar uma banca aqui na feira mesmo. No galpão, não vai ninguém, a gente não vende nada”, afirma ele, sem saber quando retorna ao p
A cargo da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), a remodelação de São Joaquim, um espaço de 40 mil m², terá investimento aproximado de R$ 60 milhões e foi dividida em três etapas. Duas foram cumpridas, mas a terceira emperrou no caminho.
A primeira etapa foi a adequação de um espaço para receber os feirantes provisoriamente. Então, em dezembro de 2011, ficou pronto o Galpão Água de Meninos, cedido pela Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba). Ao lado, fica o Pátio dos Grossistas, área de carga e descarga onde agora há feirantes.
A segunda etapa do projeto, também já concluída, previa dragagem e reestruturação da enseada da feira, onde aportam embarcações com mercadorias. Ali, também foi instalado um píer flutuante.
Problemas Já a última etapa, de maior interesse dos feirantes e apontada pelo próprio governo como a mais importante, prevê a remodelação de todo o “miolo” de São Joaquim – a área de comércio.
Essa etapa foi dividida em sete fases. O projeto executivo prevê que em cada fase um espaço da feira seja fechado para obras e os trabalhadores passem para o galpão, num esq
Os primeiros 500 feirantes a migrar, que originalmente atuavam perto da enseada, chegaram ao galpão em janeiro de 2012. Na época, ouviram a promessa de que retornariam a seus postos num prazo de seis a oito meses, ou seja, até agosto do ano passado. Um ano depois, ainda esperam.
Insatisfeito no galpão, Anderson resolveu alugar banca na ‘velha’ feira (Foto: Robson Mendes) |
“O governador Jaques Wagner esteve aqui e disse que esta obra era uma prioridade, mas não é isso que nós vemos”, reclama Marcílio Costa, presidente do Sindicato de Feirantes e Ambulantes de Salvador (Sindifeira).
O CORREIO esteve duas vezes na obra durante a última semana e encontrou boxes ainda sem acabamento e piso sem pavimentação. Os mercados de peixes e animais vivos sequer saíram do papel. No espaço onde eles serão construídos há apenas o buraco da fundação.
Há cerca de um mês, o presidente da Conder, José Lúcio Machado, chegou a afirmar que a primeira fase ficaria pronta em setembro.
Mas, na quarta-feira passada, o coordenador institucional da Conder na obra, Francisco Sampaio, admitiu que não é possível cumprir tal prazo. “A obra ainda não está no ritmo que nós gostaríamos, mas agora melhorou. Acredito que entre final de novembro e início de dezembro deste ano entregamos a primeira fase”, avaliou Sampaio.
Junto à enseada ainda será erguido um mercado de animais vivos (Foto: Robson Mendes) Segundo ele, a obra sofreu com a falta de recursos, pois somente este mês a Caixa Econômica Federal liberou os R$ 29 milhões disponibilizados pelo Ministério do Turismo para a reforma. “Tivemos problema de fluxo de caixa. O dinheiro demorou de sair por problemas no projeto. É uma obra complexa, realizada sem que a feira feche. Compreendo a queixa dos feirantes, mas pedimos um pouco mais de paciência”, disse.
Angústia Em visita à obra, na quarta-feira, o secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, revelou que a Cesta do Povo em frente à feira será esvaziada para ser criado mais um espaço provisório para os feirantes. Assim, será possível tocar duas fases da reforma ao mesmo tempo, deslocando os feirantes para a Cesta e para o galpão.
“A demora é mesmo angustiante, mas agora temos o dinheiro em caixa para acelerar. As dificuldades estão sendo superadas”, argumentou Leonelli, sem, no entanto, apontar se a Cesta do Povo será deslocada ou ficará fechada durante a obra de São Joaquim.
O projeto prevê que a feira terá novas redes de esgotamento, água, energia e gás, além de um sistema de prevenção e combate a incêndio. O objetivo é construir 923 boxes e reformar 416. Segundo a assessoria da Conder, todas as fases da obra serão concluídas até dezembro de 2014. Feirantes apontam prejuízo
Eles alegam que os compradores não vão até o espaço provisório, pois já encontram o que desejam na parte da feira que ainda não foi fechada. “No meu ponto, vendia entre 35 e 40 sacos de farinha por semana. Aqui, é uma média de 10 sacos. E só porque sou antigo, já tenho meus clientes certos que vêm sabendo que estou aqui”, conta Pascoal Antônio da Silva, o Pascoal da Farinha, 75 anos. Com 61 anos de feira, somando a extinta Água de Meninos e São Joaquim, ele não esconde o descontentamento. “Ninguém é contra a obra, mas essa demora está acabando com a gente”, lamenta. “Já estou com a mão na cabeça. A venda aqui (no galpão) caiu muito”, emenda Gabriel de Oliveira, que aponta um decréscimo de 70% nos ganhos do seu boxe, o Tend Tudo, após a migração. Entretanto, há muito protesto também nas áreas da feira onde as obras ainda não chegaram e a desordem é total. “A gente quer que ajeite logo. Está tudo sujo, uma bagunça, mas se a primeira parte não acabou, imagine pra chegar aqui!”, vislumbra José João Santana, que vende verduras na Rua da Linha da Máquina. O feirante Manoel da Conceição é ainda mais pessimista. “Agora, tem duas feiras (a velha e o galpão). Vai ser pior quando tiver três”, opina, lembrando que, quando a primeira fase ficar pronta, os feirantes serão divididos entre o galpão provisório, a parte nova e a velha - com a obra no meio.
Pascoal da Farinha diz que, no galpão, só vende dez sacos por semana (Foto: Robson Mendes) |
Mudança de empreiteira e falta de recursos causaram demoraO atraso na reforma da Feira de São Joaquim foi causado por falta de recursos e também porque a empreteira foi trocada no meio do caminho, de acordo com a Conder. Após o primeiro processo de licitação, a contrutora NM, que ganhou o direito de realizar o serviço, desistiu da obra. “Alegaram que não tinham condições de fazer”, lembra Francisco Sampaio, coordenador da obra pela Conder.
Como a Caixa Econômica Federal só liberou os R$ 29 milhões do governo federal este mês, os serviços já realizados foram custeados pelo estado. Para a adaptação do Galpão Água de Meninos e do Pátio dos Grossistas e a remodelação da enseada foram investidos cerca de R$ 20 milhões, segundo a Conder. Os serviços na primeira fase do “miolo”, porém, contaram com poucos recursos. Em dezembro de 2011, um material de divulgação da Conder previa que a reforma completa da feira seria finalizada no primeiro semestre de 2014. Em janeiro deste ano, também num material de divulgação da autarquia, o prazo já é dezembro de 2014. No mesmo material, a entrega da primeira fase é prometida para junho último, o que, como se vê, não ocorreu. Matéria original: Jornal Correio Feira de atrasos: em São Joaquim, reforma da área de boxes está um ano atrasada
Feirantes reclamam do fraco movimento no Galpão Água de Meninos (Foto: Robson Mendes) |
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