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SALVADOR

Ensino de cultura afro-brasileira luta contra resistência na sala de aula

Lei 10.639 estabeleceu o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira em todas as escolas de ensino fundamental e médio

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20/11/2011 às 12:19 • Atualizada em 28/08/2022 às 21:37 - há XX semanas
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Reparação. Essa parece ser a palavra de ordem entre especialistas e professores quando se tratada Lei 10.639, promulgada pelo ex-presidente Lula em 2003, que estabeleceu o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira em todas as escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares do Brasil. “A educação com a inclusão da cultura afro-brasileira é importante para a democracia e a cidadania”, explica João Jorge Santos, presidente do Grupo Olodum. “São necessários muitos anos para mudar essa realidade, mas precisamos estudar com profundidade temas como a Sabinada, a Revolta dos Búzios, que tiveram ampla participação das camadas populares da época, que eram formadas, principalmente, por negros”, explica João Jorge Santos. Apesar de completar 9 anos em janeiro, a lei ainda enfrenta barreiras. A formação dos professores e a elaboração de material didático que atenda às novas propostas não acontecem do dia para a noite. A resistência é algo observada por quem trabalha na área, como a professora de História Regina Rêgo. “Nós ainda vemos algumas resistências de professores. Isso é uma questão cultural e não vamos mudar assim, num passe de mágica. Não é só com projetos que vamos mudar essa realidade, mas isso já é um passo grande na construção de uma sociedade sem desigualdade”, conta Regina, que ensina no Colégio Estadual Manoel Novaes, no Canela. CríticaVanda Machado, escritora, doutora em Educação e pesquisadora de cultura afro-brasileira, diz que o processo ainda está no começo. “É um começo, mas ainda não há esse caráter efetivo. Formar educadores para lidar com a história afro-brasileira deveria começar nos cursos universitários de Pedagogia, por exemplo, não apenas com cursos de especialização”, argumenta a professora. A pesquisadora critica também a necessidade de uma lei para que esse tema seja pautado nas escolas. “Em um país onde 50% da população é negra, numa cidade onde 80% da população é negra, você precisar criar uma lei para que o estudo da cultura afro-brasileira chegasse às escolas, isso já é absurdo”, diz Vanda. Apesar disso, ela diz que existem experiências importantes e que professores mais “destemidos têm tentado melhorar e conduzir essa questão de maneira produtiva”. Segundo o Censo 2010, divulgado durante a semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na capital baiana, os brancos têm renda 3,2 vezes maior que os negros. Esses dados corroboram com a opinião de Vanda, de que “o preconceito e o racismo ainda são muito evidentes nessa cidade”. PrêmioPara o assessor especial da Secretaria Estadual de Educação, Nildon Pitombo, as resistências existem, mas são mínimas. “É normal que haja resistências, até porque esse é um assunto que leva tempo para ser internalizado. Os avanços podem ser vistos não só na perspectiva da aplicação da lei e da inclusão, mas também do respeito ao outro, que é o objetivo maior”, afirma Pitombo. “O que queremos é eliminar o preconceito, em todas as suas formas”, diz.
Professor da Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, Cícero destaca importância da interdisciplinaridade
Algumas experiências têm obtido sucesso nesse sentido. Em Salvador, um projeto desenvolvido pela Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, em São Cristóvão, ganhou, no ano passado, um prêmio na 5ª Edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, promovido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). O centro, com sede em São Paulo, premiou o projeto “Cultura Africana, afro-brasileira”, que buscou resgatar a cultura dos povos africanos. “O projeto busca trabalhar principalmente a questão da identidade cultural afro-brasileira em seus mais diversos aspectos”, explica o professor de Geografia Cícero Nascimento. “Em Geografia, por exemplo, trabalhamos a questão o espaço, quando falamos por exemplo da comunidade onde os alunos vivem”, diz. Para o vice-diretor, Carlos Eduardo Massa, os resultados são percebidos após um tempo. “Aquela questão das piadinhas, de chamar o colega de macaco, que muitas crianças, até por estarem com o preconceito internalizado, pensam ser engraçado e não ter nenhum cunho preconceituoso, isso acaba”, conta. Os alunos do ensino fundamental da rede municipal contam com a disciplina Cultura Baiana. Segundo Gilmara Cunha, coordenadora de ensino da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Salvador (Smec), o objetivo principal é que “crianças e jovens possam se identificar como povo brasileiro, implicando nisso as influências e tradições da cultura africana que herdamos”. Os professores, como peça fundamental nessa construção, devem se manter atualizados. Essa é a opinião de Rui Oliveira, coordenador Geraldo Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Bahia (APLB Sindicato). “Os professores devem ser preparados através de cursos, sejam eles nas universidades ou não. Temos que potencializar a formação dos professores nessa área”, admite Rui.“Precisamos saldar Zumbi dos Palmares e Maria Felipa para simbolizar tudo o que conquistamos e tudo o que ainda precisamos conquistar”, completa Rui.

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