Em toda a carreira profissional, o administrador de empresas Cláudio Silva (PP) trabalhou por apenas um ano e quatro meses na iniciativa privada. Por outro lado, foram mais de 30 anos atuando em funções públicas. Apesar de ser mais conhecido pelo passado recente à frente da antiga Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom), a atual Secretaria Municipal de Urbanismo, o candidato à prefeitura de Salvador lista entre suas experiências passagens por órgãos como a Prodeb, na área de processamento de dados, ou a Companhia Docas da Bahia (Codeba), ainda como estagiário.
É oficial de carreira do Exército, onde atuou por dez anos, antes de ingressar na reserva, além de ter atuado como coordenador no processo de modernização das matrículas da Secretaria de Educação da Bahia. “Pouca gente se lembra, mas fui subsecretário e secretário de Educação de Salvador antes de ir para a Sucom”, completa.O candidato chega para a entrevista no comitê instalado na antiga Hyundai das Espatódias, com poucos minutos de atraso, escolhe o local da entrevista e põe-se a falar de planos, caso seja eleito. O principal deles é o de capitanear um engajamento do poder público e a iniciativa privada para gerar empregos em Salvador. O que motivou o senhor a disputar uma eleição pela primeira vez na vida? A gente tem uma experiência grande na área pública, de mais de 30 anos. E eu creio que alguém que tenha a habilidade e o conhecimento, que ama a cidade em que nasceu e já contribuiu comprovadamente, tem que se habilitar em um processo como este. Você vai angariando o conhecimento e nada mais justo do que se colocar em um processo como este. Algumas pessoas perguntam por que começar como prefeito. Existe autonomia entre os poderes. Não necessariamente você precisa passar por um para depois ir para outro. Eu nunca trabalhei no Legislativo. Já trabalhei no Judiciário, na administração indireta, do governo do estado, municipal, mas nunca trabalhei no Legislativo. Acho natural me apresentar trazendo sugestões e ir para o debate. Quem ganha com isso é a cidade, desde que não seja uma campanha para se discutir o inútil. É preciso discutir propostas, ideias para a cidade.Se vencer a eleição qual será seu primeiro ato como prefeito? Vamos criar junto com o governo do estado, com os empresários, um pacto: “Todos contra a crise”. Salvador não aguenta mais, outras cidades também, não é uma mazela só de Salvador. Têm números na Região Metropolitana que assustam. Temos 18% de desemprego, em uma população de três milhões de pessoas, você tem mais de meio milhão de desempregados. É preciso fazer um pacto para ter novamente nos empresários parceiros na geração de empregos. E a prefeitura também. Eu fico dizendo o seguinte, se a prefeitura tem um orçamento de R$ 6 bilhões, só para as pessoas entenderem como é possível fazer uma transformação, e você destinar 1% para a geração de empregos, são R$ 60 milhões, com R$ 5 milhões por mês. Com salários de R$ 1 mil, seriam cinco mil empregos. Claro que ainda tem as questões trabalhistas.O senhor fala na criação de empregos na estrutura da prefeitura? Sim, ela pode criar postos de trabalho para desenvolver serviços públicos.Por exemplo? Melhorar a ação de fiscalização, os cuidados com menores de rua, colocar em cada quadra que foi inaugurada um profissional que faça com que aquele espaço não sirva apenas para o baba do fim de semana, que envolva a comunidade com ações sociais. No campo educacional, pode contratar profissionais que façam em estruturas próprias ou cedidas em convênio, como igrejas, um contraturno, com reforço escolar ou complementação de conhecimento. O que não falta é atividade para desenvolver. No caso do empresariado, temos que revisar a cobrança de tributos. Vamos rever o IPTU, o ITIV, a TLL e TFF, para fazer com que eles tenham novamente a vontade de impulsionar o desenvolvimento da cidadeIsso não implicaria em redução da receita tributária e, consequentemente, na perda dos R$ 6 bilhões que o senhor citou? A gente tem que fazer a conta pelo que vai doer menos. Falei de 1%, mas podem ser 2% ou 3%, já que o problema mais sério que nós temos é o desemprego. Quando eu falo de você impulsionar a ação do empresariado, temos que lembrar que pior são as empresas fecharem e não contribuírem mais com nada. Você deixa de arrecadar. É preciso fazer uma conta para verificar qual é o ponto de equilíbrio. Não adianta cobrar tributos que as pessoas achem injustos e por isso não paguem e você fique no final do mês tentando fazer a execução fiscal, porque aí aquela empresa nunca mais será reaberta. Temos que pensar que o desemprego nessa velocidade que vai – não é algo só de Salvador – é um problema nacional. Se nós não agirmos imediatamente, vamos ter um problema muito sério em curto espaço de tempo. Existe algum setor ou área que o senhor pretende trabalhar com mais afinco para desenvolver? As pessoas costumam dizer que Salvador é uma cidade de serviços e carimbam a cidade como turística. Se isso for verdade, a gente tem de novembro a fevereiro a cidade produzindo riquezas de turismo, e a gente sabe que não é verdade absoluta porque a cidade não é mais o primeiro destino nem do Nordeste. O que eu penso, neste caso, é que não temos que agir apenas com o turismo. Precisamos incentivar os pequenos arranjos produtivos. Quantas pessoas conheciam as Ganhadeiras de Itapuã antes da Copa de 2014? Uma manifestação cultural que encaixada em um processo produtivo estimula a geração de renda. Temos que pensar no turismo não apenas em relação à praia, mas envolvendo as múltiplas riquezas da nossa cultura, das coisas bonitas que existem. E também o turismo de negócios, que precisa ser mais ativo. Essa perda de espaço da cidade não tem relação com a situação de abandono? A gente pode abrir mão do potencial turístico que as praias da cidade oferecem, da riqueza cultural do Centro Histórico? De forma nenhuma, essas áreas precisam ser revitalizadas de maneira bem efetiva e isso está acontecendo. Se você olhar existe aí investimentos e ações do governo do estado no Pelourinho, no Centro Histórico, fazendo asfaltamento, recuperação de pavimentos, de algumas casas históricas. Mas não vai adiantar apenas recuperar o casario, para virar uma paisagem, é preciso colocar vida ali. É preciso que haja uma utilidade, de moradia para que as pessoas circulem. Em relação ao abandono que você coloca, a queda no turismo de Salvador não tem somente uma década, vem de muito tempo. Essas obras que foram feitas na atual administração para recuperar cartões-postais como a Barra e o Rio Vermelho, fundamentalmente estes dois, são importantes. Mas é preciso ter outros atrativos, como uma boa comida, eventos acontecendo, uma série de coisas. É preciso que tenhamos a visão de que a cidade precisa de vários investimentos. O turismo é um deles, mas é preciso investir também no período em que o turista não estará aqui. O que fazer quando o turista não estiver na cidade? Neste período, a cidade precisa ser pujante, produtiva, e são pequenos arranjos, que é a pessoa produzindo em casa, comercializando... Eu tenho dito que uma ação importante que precisamos adotar é a criação dos chamados shoppings de praça. O nome não é muito bem esse. Imagine, um contêiner com 12 metros, onde é possível colocar três comerciantes de um lado e três do outro. Com dois contêineres em uma praça, eu tenho 12 pessoas trabalhando em uma praça, e posso disciplinar qual é o comércio que poderá realizar ali. Por que não criar neste processo contra a crise esses miniequipamentos? Multiplique as praças de Salvador por dois equipamentos como este. Como melhorar o trânsito? No trânsito, a primeira coisa que se precisa imaginar é que não dá para brincar de pegadinha de trânsito. Antes você andava na Paralela pela manhã e via inúmeros acidentes da noite anterior, hoje isso não acontece, então estão cumprindo o papel de salvar vidas. Mas é preciso que se crie algumas ações educacionais, em vez de punitivas. Vamos apresentar o programa Veja o Radar. Vamos colocar no início de cada avenida um equipamento com a quantidade de radares e a velocidade permitida. Se o cidadão, a partir daí, não prestar atenção e cometer a infração, paciência. Hoje o que ainda não tem é a informação da quantidade de radares... Você tem a placazinha da velocidade, é muito pouco. Outra ação é a fiscalização da carga e descarga. E apostar no que é o maior avanço da mobilidade urbana que é o metrô. Completamente implementado, o metrô vai mudar o desenho da mobilidade de Salvador. Agora, a educação para o trânsito é um elemento fundamental. A população precisa parar de estacionar em cima da calçada, respeitar mais o trânsito e isso se faz com fiscalização.Como é que o senhor se define politicamente? Eu sou a nova lógica da política, de técnicos que estão chegando à condição de gestores políticos. O que o senhor está fazendo para equilibrar as despesas aos recursos de campanha? É uma campanha pobre, todos vão fazer. Nós não temos recursos para fazer uma campanha de rua, com muitos carros de som, com carreatas, que são eventos que acabam custando muito caro. Observe que estamos a 20 dias de parar o processo nas ruas e você tem pouca coisa nas ruas. Todos estão em contenção. Mas o comitê em área nobre, amplo, e o seu lançamento de campanha com helicóptero não custaram muito dinheiro? O nosso propósito é justamente quebrar paradigmas. O helicóptero circulou por cerca de uma hora e uma hora de helicóptero custa R$ 2.700. É muito pouco, muito barato, pode orçar. Vai estar na primeira prestação de contas. Por outro lado, acredito que jogamos em torno de R$ 2 mil em flores. É muito barato para o efeito que queríamos, que era pedir que a campanha se desse em clima de paz. Este comitê tem uma explicação simples.O aluguel também é barato? É. Vou te explicar o que aconteceu. Esse equipamento pertence a um amigo. Estava fechado há mais de um ano. É o que a crise econômica tem feito. Estava degradado, fechado, e a locação se deu pela permuta dos valores mensais do IPTU, porque ele não consegue pagar com o equipamento fechado. Para ele, me alugar por um mês e receber de volta pintado e a instalação elétrica revisada é vantajoso e vai custar menos que o aluguel de todos os outros comitês. A tentativa de uma campanha sem agressões está funcionando? Está porque as pessoas têm me dito nas ruas que gostam de me ver apresentando ideias e propostas. Por exemplo, temos falado em acabar com as filas nos postos de saúde. As filas são realidade, não estou agredindo ninguém. Mas eu não fico mostrando imagens de pessoas nas filas, sofrendo, para tentar chocar. Pelo contrário, vou tentar resolver. Digo, “nós vamos criar o socorro da saúde”, que são espécies de ônibus adaptados com miniclínicas, que vai ajudar quando os postos estiverem cheios. Ficar no campo das propostas é o caminho para a nova política, que eu estou propondo.
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Redação iBahia
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