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Escoltada, família deixa casa após ataque do tráfico em festa de aniversário

Durante sete minutos, a família viveu o pesadelo de ver os traficantes tentarem forçar o portão de ferro com chutes, na tentativa de invadir

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25/01/2012 às 11:11 • Atualizada em 26/08/2022 às 23:39 - há XX semanas
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Uma família de oito pessoas precisou da escolta de duas guarnições com sete policiais da 3ª Companhia Independente da PM (Cajazeiras) para realizar a mudança da casa em que moravam, ontem, em Fazenda Grande II, Cajazeiras. Carregaram num caminhão tudo que sobrou após terem vivido cenas de pesadelo na noite de domingo, 22, em um ataque de traficantes.
Era aniversário de 36 anos de Gilmar*, que reuniu cerca de 30 amigos para comemorar o novo emprego de pintor – carteira assinada – que conseguiu na quinta-feira passada, 19. Após uma feijoada realizada na frente de casa que tomou toda a tarde, boa parte dos convidados já tinha ido embora quando a família decidiu apagar a luz, baixar o som, bater os parabéns e cortar o bolo. Mas, antes das primeiras palmas, três traficantes armados chegaram para estragar a festa. Segundo informação de policiais da 3ª CIPM, há uma boca de fumo no fim do Caminho 5 da avenida principal do Conjunto Jaguaripe, na estrada do Coqueiro Grande. A casa de Gilmar fica logo no início via. Com a ajuda de olheiros, os criminosos que agem na região teriam identificado quatro policiais militares que estavam na festa. Esperaram que os agentes saíssem para começar a humilhar a família. “Eles chegaram dizendo que a gente faz festa e eles nunca são convidados, que se tem cerveja e som para polícia, que era para botar para eles também”, relatou a mãe de Gilmar, aposentada de 64 anos. Gilmar tentou argumentar que já não havia mais cerveja, os convidados estavam indo embora e o som desligado se devia ao horário, por volta das 19h40. “Eu disse a eles que não ia mais ter som, já que eu ia dormir porque trabalhava cedo, e ele então disse que era para deixar o som ligado, se não ia levá-lo”, detalhou. O pintor retrucou aos traficantes com um “então leve” confrontador, que foi o estopim para as cenas de violência. TerrorSegundo os familiares, os traficantes sacaram as armas e todos que estavam presentes correram para dentro de casa. Os criminosos puxaram pelos fios e atiraram nos aparelhos de som, que pertenciam ao sobrinho de Gilmar de 17 anos, DJ nas horas vagas. Durante sete minutos, a família e mais um grupo de dez convidados viveram o pesadelo de ver os traficantes tentarem forçar o portão de ferro com chutes, na tentativa de invadir. Sem sucesso, o grupo quebrou 12 cadeiras e 3 mesas de plástico e atirou pedras contra as janelas do segundo andar da casa. Na saída, deram tiros ainda numa caminhonete Chevrolet S10 cor bege, de um comerciante da região que não estava na festa. Após a ação, os oito moradores não conseguiram mais dormir na Fazenda Grande II. Foram embora no mesmo dia e voltaram apenas para buscar os pertences. “Não dá mais para viver lá. Como a gente pode saber se um dia não vão atentar contra nossas vidas? Aquele pesadelo ficou aqui, não quero mais voltar”, resignou-se a irmã, de 27 anos, manicure. Na casa que se dividia em três ambientes independentes, moravam há quatro anos Gilmar, sua mãe, três irmãos, dois sobrinhos, uma cunhada e seu filho de 10 anos de idade. Com medo da violência, que até então apenas passava pela porta, mas nunca tinha afligido a família, todos evitaram falar seus nomes. MudançaComo denunciaram os autores do caso à polícia, com medo de serem perseguidos não dizem para onde vão se mudar. Deixaram para trás uma casa em que tinham acabado de investir R$ 15 mil, dinheiro do FGTS do último emprego de Gilmar e de economias da família, na reforma e construção de uma laje, obra que ficou inconclusa. “Estávamos fazendo aos pouquinhos. Ia ser uma cobertura nossa, para a gente ter mais privacidade quando reunisse os amigos”, completou a manicure, enquanto os móveis eram colocados num caminhão baú sob os olhares vigilantes dos policiais militares. Guerra de traficantes leva terrorOs três traficantes que participaram da ação são conhecidos como Emerson, o “Gêmeo”, Rafael, vulgo “Coringa” e Silvano. Segundo a informação de agentes da 13ª Delegacia (Cajazeiras), os três são soldados da quadrilha do traficante conhecido como Xandão, que domina a região da Quadra B do Conjunto Jaguaripe. Quem gerencia a venda de drogas no grupo é a traficante Rosângela, que já teria sido alvo de sete tiros em um confronto entre grupos rivais, mas conseguiu sobreviver. Os moradores daquela região vivem em permanente estado de tensão devido ao confronto entre a quadrilha de Xandão, que dominava o tráfico na região há mais de 3 anos, e o grupo do criminoso Diego Leão Mendes, o Dieguinho, que saiu da região da Estrada Velha do Aeroporto e se instalou na Quadra D do mesmo conjunto. “São cerca de 8 a 10 homens fortemente armados, que têm metralhadora, fuzil, pistolas e coletes à prova de balas”, revelou o policial, que preferiu manter o nome em sigilo. Segundo a delegada titular da 13ª Delegacia, Celina Cássia Fernandes, a polícia está apurando o envolvimento dos acusados de aterrorizar a família de Gilmar na organização criminosa. Outro policial, que também preferiu não ser identificado, afirma que não é a primeira vez que isso acontece. “Em qualquer evento em que apareçam policiais, eles fazem isso, dizem que quem manda aqui são eles”, relata. Segundo ele, assim como os moradores da casa invadida, os policiais que residem na região estão se mudando para outros bairros. “O que eles fizeram foi em represália à presença de policiais, não foi só para estragar a festa. Foi para deixar claro que eles não querem a polícia aqui”, conclui.

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