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Família de mulher morta por PMs na Boca do Rio vai à Corregedoria

Edelzuita teria sobrevivido ao atropelo do carro dos bandidos, mas foi alvejada por tiros

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Redação iBahia

04/02/2017 às 16:24 • Atualizada em 31/08/2022 às 22:23 - há XX semanas
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A família da cuidadora de idosos Edelzuita Cerqueira, 53, vai à Corregedoria da Polícia Militar pedir punição para os autores dos disparos que atingiram a mulher na última quinta-feira (2). Testemunhas contaram que Edelzuita foi atingida por vários tiros efetuados por policiais militares. A mulher foi morta quase em frente de casa, quando tentava se esconder de uma perseguição entre polícia e assaltantes na rua em que morava. Ela foi atropelada por um CrossFox branco que estava sendo perseguido, mas sobreviveu e chegou até a se levantar para fugir. Ela já estava em pé no momento que um dos bandidos tentava escapar do carro, que capotou, e os policias dispararam uma rajada de tiros.

Um misto de sentimentos tomava conta de quem participou do último adeus à cuidadora de idosos, no começo da tarde deste sábado (4). A dor se misturava à revolta e ao sentimento de injustiça. “Minha tia era forte, não sentia uma dor. Se eles não tivessem atirado nela, ela ainda estaria viva”, lamentava Iara Santos, 29, sobrinha de Edelzuita. "Isso foi puro despreparo. Se o carro estava capotado, eles podiam ter descido da viatura e rendido os bandidos, ao invés de sair atirando".

A família está resoluta em buscar por Justiça. "Eu estou com medo, mas não vou deixar para lá. Estou estudando Direito, para que serve a Constituição, o que é ser militar. Se eu não correr atrás, não vai valer de nada o que eu estou estudando", desabafou.

Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal



"Minha irmã saiu para comprar um cigarro e a polícia acabou matando uma inocente. Isso tem que acabar de alguma maneira, a polícia está muito despreparada. Eu sei que denunciar não vai trazer minha irmã de volta, mas vai ajudar a salvar a vida de um inocente", revelou a irmã mais nova de Edelzuita, Noeci Bispo.

Além a dor, a espera. O corpo só foi liberado por volta do meio-dia do sábado porque na última hora os peritos acharam mais uma bala no corpo de Edelzuita. Os tiros foram à queima roupa. Um deles atravessou o peito de Edelzuita, matando-a na hora. Vizinhos que não quiseram se identificar revelaram que os policiais ainda tentaram remover os projéteis do corpo de Edelzuita, mas não conseguiram porque o local começou a lotar de gente.

Amigas de toda a vida
A adolescente Talia Vieira, 19 anos, que estava ao lado de Edelzuita na hora do acontecimento e foi atingida com um tiro no braço, se recupera no hospital de uma cirurgia no punho, que quebrou durante a queda. A mãe da jovem, Onólia Barbosa, conta que os médicos estão cuidando do ferimento causado pelo disparo, que atravessou o braço. “Ela está se recuperando bem, mas está toda ralada. Pelo menos, ela está viva”.

Ela conta também que a garota está assustada com tudo o que viu, reluta em ficar sozinha, mas está tentando ser forte. Onélia lembra do momento da tragédia. “Eu só vi minha filha chorando, gritando “mãe, mãe, mãe”, toda lavada de sangue. Ela estava na hora e ficou muito nervosa.

Eldelzuita e Talia estavam sempre juntas e chegavam a ser confundidas como mãe e filha. Foi ela quem a mulher foi chamar na hora que ia comprar o cigarro. "Era difícil ver Edelzuita sem Talia atrás. Onde uma estava a outra ia também. Ela viu Talia nascer e crescer", conta a amiga da família Rita de Cássia Santos.

Dona Onólia conta que a amizade dela passou de mãe para filha. “A gente era unha e carne. Hoje mesmo a gente ia viajar, ia para um aniversário em Mar Grande”, conta aos prantos.

Mãe
Querida por familiares e amigos, Edelzuita não era casada ou tinha filhos. Por isso, era muito apegada aos sobrinhos, que a chamavam de mãe. "Era uma tia muito presente, que chegava junto", lembra Rita de Cássia. Érica Almeida, amiga da família, revela que viu muitas vezes a mulher acompanhar as sobrinhas mais novas na aula de capoeira.

Iara Santos, 29, morava com ela desde pequena e a tia ajudava a criar a sua filha, uma adolescente de 15 anos. “Foi ela quem me criou, me ensinou tudo que aprendi de bom nessa vida. Esse último mês, a gente tava tão próxima, se divertindo tanto, parecia que eu sabia que ela não ia ficar mais muito tempo comigo. Abaixo de Deus, era quem eu mais amava nessa vida. E agora eu não tenho mais”. Inconsolável, ela chorava sem parar ao lado do caixão repetindo a frase: não é justo.

Edelzuita ainda tomava conta da irmã mais velha, Elza, que tinha problemas de saúde e recém-passado por uma cirurgia. A primogênita também tinha sobrevivido a um atropelo há anos atrás e tinha placas de platina pelo corpo.

Érica também conta que ela costumava ajudar nas atividades comunitárias. Na escola de capoeira do grupo Gurreiros na Boca do Rio, Edelzuita era quem se voluntariava para ajudar na organização dos eventos para as crianças.

Revolta
Todos os vizinhos que estavam no velório estavam revoltados. Os quatro atingidos pelos disparos efetuados por policiais militares moravam na mesma rua, Travessa Emiliano Galiza. A rua estava cheia na hora do crime, entre oito e nove horas da noite, e no começo todos pensaram que a cuidadora tinha morrido de atropelamento. "A gente só não fez uma revolução porque não sabia que ela tinha morrido por causa dos tiros", disse um vizinho que não quis se identificar.

A investigação ainda está em andamento, segundo informa a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Por enquanto, as testemunhas estão sendo ouvidas e a arma dos policiais que participaram da ação foi recolhida para realização de perícia. Os laudos periciais devem ficar prontos no prazo de 30 dias.

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