A igreja de São Francisco de Assis, localizada no Centro Histórico de Salvador, é considerada por especialistas como uma das mais imponentes da América Latina. Com interior revestido em ouro, o templo fundado no início do século 18 foi tombado como patrimônio material do Brasil. Porém, o reconhecimento do governo federal, que deveria garantir a proteção ao espaço, não impediu a construção de atingir uma situação degradante.
Considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, a igreja, que é integrada ao convento dos frades franciscanos, está com problemas estruturais. Durante uma visita feita pela equipe do g1 bahia, é possível notar que o local está com pinturas e teto desgastados, pilastras sem reboco e piso desnivelado em vários pontos – o que dificulta a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida.
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Além disso, há pouco mais de um mês, um dos pátios da igreja foi parcialmente fechado porque há risco de queda do pináculo direito. A estrutura, uma cúpula de metal que pesa cerca de uma tonelada e meia, passará por restauração, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O processo ainda está em fase de licitação e não há previsão para ser concluído. Isso tem afetado o comércio da região, que depende, basicamente, de turistas. Motoristas e pedestres estão impedidos de circular por algumas vias, que também estão bloqueadas. Desse modo, hotéis, restaurantes e estacionamento esvaziaram.
Ainda segundo a reportagem do g1 bahia, As visitas ao templo, que é um dos mais procurados por quem passeia pelo Centro Histórico da capital baiana, seguem mantidas. O que quase nenhum dos visitantes conhece são os problemas que a igreja enfrenta - embora muitos deles estejam bem aparentes, como um pedaço de madeira escorando o teto em uma das partes adornadas por azulejos portugueses do século 18.
Em maio deste ano, o Governo Federal fez a restauração dos painéis lusitanos de todo o prédio, porém, as melhorias não se estenderam a outras partes. Sobre o assunto, o IPHAN informou que incluiu, no planejamento de ações de 2023, a contratação de empresa para elaboração dos projetos executivos de arquitetura, engenharia e restauração da Igreja de São Francisco.
Quando esta etapa for finalizada, conforme o instituto, será aberto um processo para contratar a empresa que fará as obras. O tempo médio de restauração de um monumento como a Igreja de São Francisco dura entre dois e três anos, de acordo com o instituto. Procurada pela reportagem, a Arquidiocese de Salvador não quis se manifestar a respeito do assunto.
Preservação da arquitetura barroca e etapas da reforma
As estruturas da Igreja e Convento de São Francisco começaram a ser construídas em 1686. A obra só foi concluída com doação de moradores em 1723, mesmo tendo sido aberta ao público dez anos antes, em 1713.
De acordo com o Iphan, o tombamento é a primeira ação de proteção e preservação dos bens culturais móveis e imóveis de valor cultural e importância histórica. Neste caso, não apenas a memória coletiva é preservada, mas todos os esforços e recursos investidos para sua construção.
Para fazer a restauração da Igreja e Convento de São Francisco, portanto, é preciso primeiro que o projeto da obra seja avaliado e aprovado pela comissão técnica do Iphan, que avalia o nível de preservação do bem e autoriza a construção.
Todo patrimônio tombado só pode ser reformado se as características que justificaram o tombamento, a exemplo da fachada e do conjunto arquitetônico, se mantiverem as mesmas. No caso da igreja franciscana, os desafios são grandes para assegurar as características tradicionais do barroco.
Riqueza incalculável
Quem vê a igreja de fora, não imagina o luxo na parte interior. As superfícies internas - paredes, colunas, teto, capelas - são revestidas de intrincados entalhes cobertos de ouro, com florões, arcos, e inúmeras figuras de anjos e pássaros, símbolos do barroco brasileiro.
Ricamente decorado, o templo tem imagens de mestres santeiros baianos e lusitanos, verdadeiras obras-primas da arte sacra, duas pias de pedra doadas por Dom João V, quando era rei de Portugal, bem como balaustradas e outras peças esculpidas em jacarandá, um tipo de madeira nobre.
Além da suntuosa capela-mor, dedicada a São Francisco de Assis, o espaço possui oito capelas secundárias. O cadeiral entalhado do coro, a estante para o missal e as grades entre as capelas secundárias são obras do frei Luís de Jesus, conhecido como "Irmão Torneiro". Estes elementos são do século 17 e foram reaproveitados da primeira igreja edificada no local, portanto, são os mais antigos da coleção.
Redação iBahia
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