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SALVADOR

Fiações antigas e mal instaladas oferecem riscos na orla da Barra

Engenheiro eletricista diz que há instalações feitas de forma inadequada e com material que não está de acordo com a norma da ABNT

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27/07/2013 às 9:16 • Atualizada em 28/08/2022 às 8:34 - há XX semanas
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A pit bull Bela é elétrica. Quando se vê solta no gramado do Morro do Cristo, na Barra, fica “ligada no 220”. Ultimamente, porém, Bela tem se mostrado receosa nos passeios matinais. Semana passada, levou um choque ao tocar o focinho em um fio de eletricidade que parecia brotar do chão. “O choque foi tão forte que queimou o focinho dela. Fiquei assustada”, disse a dona de Bela, a cabeleireira Isabel Catarina de Sena, 57 anos. A preocupação tem fundamento. O terreno do Morro do Cristo é um campo minado de fiações velhas, fios desencapados e instalações elétricas irregulares. “Será que só farão alguma coisa quando uma criança ficar ferida ou morrer?”, questionou Isabel. “Absurdo esses fios. É um risco grande”, disse o advogado José Carlos Pereira, 39, com o filho de 3 anos brincando na grama. “Já haviam me chamado atenção. Agora que soube que realmente dá choque, tão cedo não volto”, disse. A situação é semelhante no calçadão entre o Cristo e o Farol da Barra. Surfistas e banhistas que frequentam a praia próximo ao restaurante Barravento reclamam de sempre levar choques nos postes e até no corrimão que dá acesso à areia. “A gente sai da água molhado e descalço e nem precisa tocar no poste para dar choque. Já aconteceu com a galera toda. Teve gente que tocou no corrimão e quase fica grudado”, disse o surfista e tatuador Rômulo Cruz, 35. No local, há gambiarras e antigas fiações de iluminação à mostra nas bases dos coqueiros, além de emendas improvisadas ligadas a luminárias no chão. Em uma delas, na altura do Caranguejo do Farol, o labrador Mathias sofreu um choque que o derrubou. “Os cães são muito curiosos. Por isso são as principais vítimas. Crianças também colocam a mão em tudo e idosos passam aqui todos os dias. É um perigo”, preocupou-se o dono de Mathias, Pablo José Gomez. Pablo conta que, em dias de chuva, o cão já foi atingido outras vezes ao passar perto dos postes. “Desde que substituíram os postes de concreto pelos de ferro, já aconteceu várias vezes”. Além de Bela e Mathias, outros três donos de cachorro denunciaram ao CORREIO o mesmo problema. Gambiarra Diante das reclamações, levamos ao local o engenheiro eletricista Antônio Geraldo Ferreira, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea). Ele definiu parte do sistema de iluminação da Barra como uma “gambiarra municipal”. As fiações de antigos refletores no chão da orla e do Cristo, segundo ele, foram instaladas de forma inadequada e com material que não está de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No caso do Cristo, o engenheiro condenou as proteções de concreto que deveriam envolver as fiações debaixo da terra, o que, com o tempo e as chuvas, as fez brotar do chão. Além de protegidos por concreto, os fios deveriam passar por eletrodutos rígidos. “Reparem nessas fitas isolantes. São emendas feitas, porque os fios são flexíveis e não há concreto de proteção em alguns pontos, o que é completamente irregular em uma área pública”, explicou Ferreira. Segundo ele, com os fios à mostra, as pessoas se aproveitam para puxar gato de luz. “É aí que está o perigo”.
Fiações antigas e mal instaladas oferecem riscos na orla da Barra (Foto: Marina Silva)
Em alguns locais, de tão desgastados, os tubos deixam só os fios aparentes. “Se fosse usado um eletroduto rígido, em local com profundidade de uns 10 centímetros, não estaria assim. Usaram tubos para baratear a instalação”, criticou. A solução para os dois casos seria reinstalar tudo em local mais profundo e com proteção adequada. “Está tudo fora de norma”, garantiu o engenheiro. No alto do morro, onde há iluminação aérea, mais irregularidades. Quatro postes de ferro são utilizados de forma improvisada, com gambiarras presas à sua estrutura. “Poste não é para ter essas derivações, ainda mais quando é metálico. Ele pode se tornar um condutor de energia e causar um acidente”, considerou o especialista. O vendedor ambulante José dos Santos, 57, disse que um dos postes está dando choque. “Esses dias, um casal estava namorando e encostou ali. Quando vi, ela deu um pinote para trás e botou a mão no coração”. InimigoPara o especialista do Crea, o descaso das autoridades ocorre porque a eletricidade é um inimigo oculto. “Não chama a atenção, não tem cheiro e não dá sinais. Só quando o acidente acontece”. Segundo ele, as fiações são de baixa tensão - de 110 ou 220 volts. Mas, mesmo assim, podem causar danos graves ou até matar. “Existe a concepção de que o que mata é a média e alta tensão. A depender do tempo de contato e da estrutura do corpo da pessoa, o choque de baixa tensão pode ser fatal”, destaca Geraldo, lembrando do caso do juiz que, em 2010, levou choque em uma fiação das barracas da orla que haviam sido demolidas, em Patamares. Na ocasião, seu cão labrador morreu. Instalações não seguem ABNTA instalação de iluminação pública deveria atender às regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Mas essas normas não têm poder de lei. O resultado, segundo especialistas, é a negligência e a irresponsabilidade por parte de quem executa obras e instalações. “Você faz um projeto com todas as regras da ABNT e não tem garantia de que serão executadas”, diz o engenheiro eletricista Antônio Geraldo Ferreira, do Crea. A lei municipal 5.907/2001, que dispõe sobre a manutenção preventiva de edificações e equipamentos públicos, determina que os monumentos passem por vistoria a cada três anos. “Fomos nós do Crea que propusemos essa lei. Mas não é o que acontece”, diz Antônio. No Brasil, não há estatísticas oficiais de acidentes com eletricidade. Problemas com fiações expostas se repetem em SalvadorEm um rápido passeio pela orla, é fácil chegar à conclusão de que o problema não se restringe apenas à Barra. Para o engenheiro do Crea Antônio Geraldo, há problemas em toda a cidade. “Se você for na Lapa você se assusta com as instalações elétricas. E assim está em boa parte da cidade, inclusive monumentos e pontos turísticos”, pontua. Há fiações aparentes em vários pontos da orla. O estudante de Engenharia Danilo Magalhães e o seu pit bull Zeus tiveram de desviar de uma delas, na praia do Corsário. “Eu fico de olho sempre”, garantiu. Ele ainda conseguiu se precaver, o que não foi possível para o juiz João Batista Alcântara. Uma dessas armadilhas matou a cadela dele, Dara, da raça labrador, em 2010, quando ele era corregedor do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). O juiz, que também sentiu o choque, saía da praia de Patamares quando Dara entrou em contato com o fio desencapado de uma barraca que havia sido demolida. “Nem gosto de lembrar a cena. Quando vi, ela estava caída, colocando sangue pela boca. Também senti o choque, porque segurava a coleira de neoprene. Se fosse de metal, também estaria morto”, diz João. Ele entrou com ação criminal e processo por danos morais contra a Coelba e a prefeitura. “O processo está andando. Infelizmente, devagar”. Prefeitura culpa vândalos e gestão anteriorA Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop) alega que os sistemas de iluminação que hoje causam problemas na orla da Barra foram instalados pela antiga gestão e que, no caso do Morro do Cristo, vândalos se aproveitam das fiações aparentes para roubar o cobre dos fios ou fazer gatos de luz. “Primeiro é que fizeram ali muita instalação inadequada e sem critério técnico. Depois, o maior problema é o vandalismo. Como a fiação está à mostra, eles arrancam”, afirmou o diretor de iluminação da Semop, Helder Lopes Campos. No caso do calçadão da Barra, segundo ele, os fios teriam sido arrancados e remendados por ambulantes. “No Carnaval, os vendedores usam as fiações dos pés dos coqueiros, na orla, para fazer gatos”, afirma. O diretor da Semop garantiu que vai mandar fazer uma varredura em toda a orla da Barra para retirar os fios que oferecem riscos à população. Além disso, disse que há um projeto de iluminação cênica do Morro do Cristo, no valor de R$ 300 mil, previsto para ser executado a partir de setembro. Matéria original do Correio Fiações antigas e mal instaladas oferecem riscos na orla da Barra

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