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SALVADOR

Fotógrafo descreve como funciona o QG de grevistas

Do lado de dentro da Assembleia, os PMs grevistas montam estratégia militar para resistir a uma invasão dos soldados do Exército. Mas, do lado de fora, o clima é cada vez mais tranquilo

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08/02/2012 às 9:07 • Atualizada em 29/08/2022 às 20:19 - há XX semanas
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O quartel-general da greve da polícia é como uma cidade sitiada, só que em escala micro. O problema é que, diferentemente das outras, a população dessa cidade é quase toda formada por militares. Então, se do lado de fora foi montada uma estratégia de guerra para fechar o cerco do movimento grevista, do lado de dentro também é utilizada tática militar de resistência. Até a manhã de ontem, água era regrada, pouca comida e, à noite, nenhuma luz, as condições na área interna eram de guerra. “Eles estavam à base de laranja, melancia, biscoito Mabel e cream-cracker”, descreve o fotógrafo Arisson Marinho, do CORREIO, um dos poucos jornalistas a se manter dentro da área de segurança depois do cerco.
Fotógrafo do CORREIO descreve como funciona o QG de grevistas
As condições melhoraram após uma concessão do general comandante da operação, Gonçalves Dias, de restabelecer os fornecimentos de água e energia elétrica. Quando o Exército chegou, na madrugada de segunda, Arisson bateu pé firme e desobedeceu as ordens para se retirar do local. Enquanto todos os jornalistas se afastavam da base da greve, ele e mais dois fotógrafos ficaram lá dentro. “O general disse que ficaríamos lá por conta e risco e que não garantiria nossa segurança”, conta Arisson. O fotógrafo descreve como funciona a Assembleia sitiada. Ao que tudo indica, diz Arisson, não há manifestantes no plenário. Eles ocupam corredores, salas e varandas do prédio. Sempre revezando, dormem no chão ou em pedaços de papelão. Crianças dormem em colchonetes. Na medida do possível, o ambiente é limpo. Banheiros são lavados, o chão varrido e o lixo recolhido. Durante o período em que a água estava cortada, racionavam o que restava nos reservatórios. O banho era rápido. Alguns, nem tomavam. Desde a madrugada de segunda-feira, os grevistas se dividiram em grupos de 20 homens. Uma forma de manter a vigilância em vários pontos. Na maior parte do tempo, o clima é de aparente tranquilidade. Mas, após o cerco, os rumores de invasão tornaram o ambiente tenso. A cada movimento estranho lá fora, alguém avisa com gritos de “alpha 11”. Todos se levantam e vão para perto da porta. “Aí dá para ver que alguns tão com medo. Outros estão para o que der e vier”. Um dos momentos mais críticos se deu durante o confronto de homens do Exército com manifestantes que tentavam entrar no prédio. LíderLá fora, o general Gonçalves Dias conduz as negociações e pensa os movimentos da tropa. Da mesma forma, dentro, um homem também centraliza as ações de defesa. O “general” Marco Prisco (que na verdade é ex-soldado) é muito respeitado pelos seus comandados. Tem o batalhão grevista nas mãos. De dentro de uma sala, no primeiro andar, coordena as ações da greve. Prisco não faz discursos. Passa informações pelos comandados. “Prisco tem cinco seguranças que seguem ele onde quer que vá. Ele é um líder”. Delega todas as funções. Um homem, por exemplo, controla a água e a comida. A relação com o general do Exército é tranquila. Em dado momento, ele chegou a entrar na assembleia para socorrer uma mulher grávida. Mediu o pulso da mulher e mandou chamar uma ambulância do Exército. Foi quando revelou que não haveria invasão. “Ele disse que se mandassem invadir devolveria as estrelas da farda. Quando a energia estava cortada, os manifestantes tinham seus meios para continuar conectados com o mundo exterior. Como o gerador interno estava sem óleo desde segunda, os celulares com internet eram recarregados com carregadores veiculares. Os faróis dos carros e das motos iluminavam a entrada da Assembleia e os locais onde estão posicionados os soldados. Não se tem certeza se as ações de vandalismo na cidade partem de ordens de dentro do prédio. “Tem gente lá dentro criticando isso”, diz o fotógrafo.

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