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Funerárias reclamam da falta de covas na Quinta dos Lázaros

Gerentes admitem reserva de senhas mas afirmam não ter outra opção

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30/01/2012 às 7:44 • Atualizada em 27/08/2022 às 20:31 - há XX semanas
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Dona Norma dos Santos perdeu o pai há poucos dias. Mas, diante da dor que estava sentindo, ela pelo menos não precisou se preocupar com a burocracia do enterro. A funerária Caminho da Saudade, nos Mares, contratada por ela e que cobra de R$ 800 a R$ 1.400 pelos serviços (ela pagou o valor máximo), lhe garantiu uma urna envernizada, o translado do corpo, a decoração e a cova rasa no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas. Há cerca de um ano, o cemitério disponibiliza apenas seis covas para o público através de entregas de senhas, como denunciado em reportagem de anteontem do CORREIO. Dona Norma não sabe, mas, provavelmente, um representante da funerária madrugou para pegar uma das fichas. Ou, pior, talvez até tenha agilizado através da proximidade com algum funcionário do cemitério, como registrado pelo repórter Alexandre Lyrio, que, para escrever a reportagem publicada ontem, se passou por um rapaz que tentava enterrar o corpo da tia e perdeu o lugar para um representante de funerária. Dona Norma nem chegou a saber que somente ela poderia fazer isso, já que, de acordo com os pré-requisitos para ter acesso à senha, informados pelo próprio cemitério, é ser parente do falecido. “Eu acertei tudo ontem e eles só mandaram eu vir aqui hoje mais cedo, antes do enterro”, contou Dona Norma, após preencher o formulário do cemitério, sua única obrigação. Quem não tem condições de contratar uma funerária tem que ir para a fila, mesmo sem a garantia de conseguir a senha. Os que não conseguem precisam adiar o enterro mantendo o corpo do falecido no Nina, procurar outro cemitério ou pagar por um ‘carneiro’, aqueles jazigos em forma de gaveta que custam R$ 700. As funerárias mais próximas do cemitério não negam o esquema das senhas, mas se defendem, afirmando não ter outra opção. “Isso é um absurdo, mas vamos mandar o cliente para a fila? Às vezes passamos por constrangimento perante a família pelo fato do cemitério não disponibilizar o número de covas adequado”, revela José Raimundo, gerente da Pax Funerária. O vendedor da Funerária Girassol Gildemário Silva acrescenta que a quantidade limitada de covas causa prejuízos financeiros. “Acho errado o que está acontecendo, até porque nunca vi isso em tantos anos de trabalho. Tem dias que tem engarrafamento de gente. E muitos acabam indo para outro cemitério e a gente deixa de vender. É um problema, ainda mais agora que tá morrendo gente mais que passarinho”, conta.
Cemitério da Quinta dos Lázaros só faz 6 enterros por dia; funerárias reservam vagas
Escassez“Trabalho há muito tempo aqui e é um incômodo muito grande ver isso acontecendo. Já teve dias que sepultamos 20 corpos aqui. Agora são poucas covas e tem os corpos que o Nina manda, de indigentes”,diz uma funcionária, sem se identificar. Segundo ela, o problema é que há poucos funcionários no cemitério. “Sem contar que os mais novos são piores que os mais velhos, porque para cavar cova tem que ter habilidade. Há uns anos eram 49 e agora são 16 do estado, se muito, tirando os das empresas”, diz, se referindo às terceirizadas. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindlimp), Edson Araújo, confirma a informação e acrescenta que, embora o coordenador do Cemitério Quintas, Manolo Dominguez, afirme que não há pessoas interessadas no trabalho, outras foram demitidas sem motivo aparente. “Isso não é desculpa para não contratar gente. O cemitério está em estado de calamidade. Sujo e abandonado. Quem sofre são as família mais humildes”. Correio revelou esquemaPublicada ontem pelo CORREIO, a matéria A Morte Pede uma Senha, de Alexandre Lyrio, revela o esquema de entrega de senhas pelo Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, que disponibiliza apenas seis covas rasas para sepultamento por dia, e que deveriam ser entregue apenas a familiares dos falecidos. Mas, se passando por um rapaz que tentava enterrar o corpo da tia, o jornalista flagrou, com uma microcâmera escondida, que alguns funcionário do cemitério priorizam funcionários de funerárias. Na matéria, o repórter mostra que vendedores de caixão mantêm relações com funcionários do cemitério e, com isso, conseguem até furar a fila e passar na frente de familiares.

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