Quando se fala em história de resistência na música baiana, entre os nomes mais importantes, não podemos deixar de citar Aloisio Menezes. Com uma voz marcante, tornou conhecido o Cortejo Afro, mas sua atuação vai além disso. Porém, mesmo com passagens pelo grupo e também pelo Bando de Teatro Olodum, além de ser elogiado por artistas como Elza Soares, o sucesso, daquele modo como o mundo do showbusiness determina, ainda não aconteceu. Pelo menos, ele não se sente tão bem reconhecido pelo mercado artístico baiano, mas não foi por isso que o artista deixou de fazer um trabalho de qualidade e relevância. Por tudo isso, Aloisio Menezes foi o nome escolhido, nesta comemoração dia da `Consciência Negra`, como a nosso exemplo de resistência musical. Aqui a palavra, a sensibilidade e a musicalidade deste músico, que tem orgulho de seu povo negro e imprime isso ao soltar a voz.
Ibahia - Você tem uma das vozes mais fortes do cenário da música afro de Salvador. Você acha que sua música é um instrumento de resistência da cultura musical negra na Bahia?Aloisio Menezes - Sim, até porque não sigo modismo, e meu canto vem dos terreiros de candomblé, onde resistiu e resiste até hoje. Daí surgem os blocos de Carnaval, onde cada um adota um Babalorixá ou uma Ialorixá como guia espiritual.Você tem uma carreira rica com passagens pelo Bando de Teatro Olodum e Cortejo Afro, se sente reconhecido artisticamente aqui em Salvador?Não, até porque estou completando 25 anos de carreira, e não tive apoio de ninguém para gravar o meu primeiro CD de carreira e aí saio de Salvador, vou a São Paulo, e de cara caio nas graças do Maestro Guga Stroiter, que me leva para o estúdio e grava o CD Xirê Reverb, indicado ao prêmio da Música Brasileira, e aclamado pela critica.Na sua opinião, o que falta na Bahia para que a música afro tenha tanta divulgação e espaço quanto outros ritmos, como o axé e o pagode?Respeito. Vivemos numa cidade onde a mídia racista, preconceituosa, faz questão de patrocinar as mesma coisas, sem dar atenção para o novo. O Axé hoje entra na sua crise, porque sempre bebeu água na fonte dos blocos Afro, e hoje não encontra essa abertura, se observar com carinho hoje só Saulo Fernandes tem essa visão para o novo. Você está desenvolvendo um projeto com poesia? Pode falar um pouco sobre este trabalho?A poesia faz parte da vida de todo ator, cantor e compositor, se for referente ao poema de abertura do DVD de Saulo, o poema é de autoria dele, mas gosto muito da música com Poesia, até tenho 14 micro filmes feitos por uma emissora falando do novembro negro .O Dia da Consciência Negra gera polêmicas, pois há quem defenda que não deveria existir um dia para ser dedicado à essa luta, no entanto, hoje já se fala no mês da Consciência Negra. O que você acha disso? Você acha que essa data é representativa para a comunidade negra?Tivemos muitos avanços, mas gostaria de estar comemorando a vida e não lutando contra discriminação da raça, de religião, de sexualidade, respeito ao idosos, ao deficiente, etcDe todos os seus trabalhos, quais aqueles que mais traduzem quem é Aloisio Menezes?Tudo o que fiz vejo minha cara, até porque faço aquilo que gosto. Agora o Xirê me traduz um momento muito especial na minha vida, torna Aloisio conhecido a nível nacional e Internacional. Existe algum projeto cultural que você ainda não fez e pensa em fazer?A gravação do meu novo CD , produzido pela cantora paulistana Fabiana Cozza.
Quais são suas influências musicais mais fortes?Como havia dito antes, minha influências vem dos terreiros, agora bebo água na fonte Luiz Melodia, Emilio Santigo, Jamelão, Luís Armstrong, Clementina de Jesus, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Cartola e a Família Caymmi. Quem você destaca como grandes e importantes personalidades negras em outras áreas, como artes plásticas, literatura, teatro...Mestre Didi, Ubiratan Castro, Mario Gusmão, Augusto Omolú, Mãe Estela de Oxóssi, Menelau Sete, Alaide do feijão, Negra Jhô, Clarindo Silva, Vovô do Ilê e Macota Valdina Pinto.Fale um pouco sobre seus novos projetos musicais.Estou fazendo a pré produção do meu novo CD, estou descendo agora para fazer o `20 de novembro`, no SESC Pinheiros, na abertura da `Balada Literária de São Paulo` , junto com os cantores, Monarco (RJ), Lucas dos Prazeres, Sapopemba (Al), Fabiana Cozza (SP), Aurea Martins (RJ) e Sergio Pererê (Mg), e devo retomar os shows do Baile dos Orixás, do DXirê Reverb.E o seu Carnaval, como será musicalmente?No Carnaval, faço domingo, segunda e terça, os 65 anos do Afoxé Filhos de Gandhy; sexta-feira, na avenida, saio com o bloco Alvorada. Se me permitirem, gostaria de voltar ao Carnaval dos Bairros, que nesse carnaval fui o primeiro na lista do CONCAR e em cima da hora me tiraram. E um dia no Pelourinho dentro de algum projeto especial da CCPI.O que mais orgulha você na cultura afro baiana?A autoestima do meu povo negro. Veja alguns vídeos do cantor [youtube 1sgXWOfcVMA] [youtube Ia6XjGF0j24] [youtube qDaNnZY6OcM] [youtube akyYdxzhmuo]