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SALVADOR

Irreverência e protesto marcam o tradicional Mudança do Garcia

Para sustentar o foco no empoderamento feminino e na luta pela conquista de espaços, blocos feministas também se reuniram

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Redação iBahia

27/02/2017 às 17:19 • Atualizada em 31/08/2022 às 21:58 - há XX semanas
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Irreverência, criatividade e protesto são as marcas do tradicional bloco Mudança do Garcia, que saiu hoje (27), mais uma vez, às ruas do centro de Salvador. Considerado o único bloco espontâneo que sobrevive em meio à folia de grandes trios e cordas da capital baiana, a Mudança do Garcia é um momento esperado pelos foliões para mostrarem as reivindicações políticas e de movimentos sociais.

Neste penúltimo dia oficial do Carnaval soteropolitano, os foliões se agruparam em pequenos blocos, levando faixas e cartazes contendo os mais diversos tipos de reivindicação: desde críticas à política atual a apoio as causas ligadas aos direitos humanos, como combate ao machismo, racismo e homofobia.

Acompanhando os milhares de foliões na concentração do bairro do Garcia, pequenas bandas de percussão e fanfarra tocaram marchinhas antigas de carnaval e transformaram canções atuais para o ritmo antigo. Trios maiores deram suporte à folia, devido à grande quantidade de pessoas presentes no grande bloco popular. Um microtrio também teve destaque nas ruas do Garcia, por tocar paródias de cunho político e crítico contra assuntos atuais, como a reforma da Previdência.

Entre os blocos, diversas vertentes se encontravam na mesma folia. Centrais sindicais, movimentos sociais e grupo de amigos foliões vestiam as camisetas confeccionadas especialmente para o dia de hoje. O grupo “Turma da Latinha” resolveu oficializar o encontro de amigos, que já sai há alguns anos, na Mudança do Garcia.

“A gente se reúne todo ano aqui na mudança, mas há uns quatro anos fizemos a camiseta e montamos a nossa bandinha. O movimento foi crescendo e o nome do bloco já diz tudo, que a gente sempre desfila com a latinha [de cerveja], cheia, é claro”, contou animada a foliã Nevan Santos.

Descendo a ladeira a caminho do circuito Osmar – Campo Grande – o Bloco do Galo fez questão de lembrar ícones da história mundial, reconhecidos por feitos ligados a vários segmentos. Nos estandartes levados pelos integrantes, as imagens dos rostos de nomes como os músicos Caetano Veloso e Gal Costa, o filósofo italiano Gramsci, Trotsky (intelectual revolucionário) e Frida Kahlo (pintora mexicana que representa a luta feminista na América Latina) representaram, segundo os organizadores, a resistência histórica. Além disso, o bloco fez referências, também, ao Tropicalismo – movimento cultural baiano que completa 50 anos – e à Revolução Russa de 1917, que completa 100 anos.

“Este bloco já está no oitavo ano. Uma brincadeira séria é participar do carnaval disputando a hegemonia cultural, levando temáticas fundamentais da política para o povo. Lembramos a revolução russa nos 100 anos e os 50 anos da Tropicália: uma revolução política e uma cultural. Temos de colocar nossos ícones e mártires que têm a ver com a luta da transformação social”, explicou Marcelino Galo, um dos fundadores do bloco.

A aposentada Aragilda Conceição já saiu algumas vezes na Mudança do Garcia, mas este ano decidiu fazer parte do bloco e vestir a camisa.

“Sempre vim acompanhando de fora dos blocos e desta vez resolvi fazer parte. A mudança do Garcia é nota mil, tudo na percussão e a comunidade dá todo o apoio, é muito popular e os turistas têm procurado muito conhecer”, conta a foliã.

Para sustentar o foco no empoderamento feminino e na luta pela conquista de espaços, blocos feministas também se reuniram para pedir respeito e dizer não ao assédio, sobretudo durante o carnaval. Entre os grupos, o destaque foi para a Marcha do Empoderamento Crespo de Salvador e o bloco formado para a folia, chamado Me Salte, em referência à expressão Me Solte.

“A pauta das mulheres vem ganhando fôlego em todas as esferas da política, e o carnaval, como um espaço de expressão popular e de resistência, não poderia ficar fora dessa disputa que a gente faz. Existe uma rede de mulheres se utilizando desses espaços para fazer outras disputas de sociedade, denunciar a violência e exigir respeito. Este nome do bloco é uma indignação de que a gente quer andar livremente, dentro e fora do carnaval”, explica Bruna Rocha, feminista militante da Marcha Mundial das Mulheres e criadora do bloco de carnaval Me Salte.

A primeira saída do povo pelas ruas do bairro do Garcia não possui um registro oficial e, por isso, prevalece o que contam os populares. Segundo as estórias que circulam, o movimento surgiu entre as décadas de 1920 e 1930, quando uma prostituta que morava no local teria sido expulsa do bairro, numa segunda-feira de carnaval. A mudança teria sido feita, então, acompanhada por uma carroça e pelos meninos do bairro, que a acompanharam pelas ruas.

Com o passar dos anos, o movimento passou a ganhar o cunho irreverente de protesto e crítica social. Por conta disso, é comum o uso de faixas e cartazes, que se destacam, durante a passagem do povo da Mudança do Garcia, que desfila somente na segunda-feira de Carnaval.

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