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SALVADOR

Mãe de Emanuel e Emanuelle tenta superar perda após um ano

No dia 11 de outubro de 2013 os irmãos Emanuel e Emanuelle morreram em um acidente em Ondina

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11/10/2014 às 9:11 • Atualizada em 27/08/2022 às 2:29 - há XX semanas
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Hoje faz um ano que o tempo parou para a enfermeira Marinúbia Gomes Barbosa, 46 anos. No dia 11 de outubro do ano passado ela perdia os filhos Emanuel, 22, e Emanuelle Gomes, 23, em uma tragédia. “Um ano para mim significa o mesmo que um dia para a noite: a dor é a mesma. Se passou um ano e em nenhum dia minha dor foi amenizada. A ferida ainda está aberta”, diz.
Os irmãos estavam passando pelo bairro de Ondina em uma moto quando, segundo testemunhas, teriam discutido com a médica Kátia Vargas Leal Pereira. Dirigindo um Kia Sorento, ela foi acusada de ter perseguido os irmãos, que foram projetados contra um poste e morreram no local. Para a mãe, bem mais magra que há um ano, o que mudou nestes 12 meses foram a dimensão e a forma como encara a situação. “Agora que eu percebo o tamanho da crueldade, antes eu ficava atordoada. Meus filhos, dois jovens, estudiosos, corretos, foram partidos em vários pedaços em um poste por causa de alguém que resolveu dar um piti”, afirma.
Marinúbia chora, mas conta com o apoio da família que evita deixá-la sozinha e busca formas de afastá-la das lembranças. Ontem, a mãe dela veio de Petrolina (PE) para dar apoio e aproveitar para comemorar o aniversário de 71 anos. Dona Marinalva Gomes de Alcântara declara sofrer duplamente por ver a tristeza da filha. “Eu não posso chorar, preciso ser forte para ficar com ela”, conta.
Elas ressaltam que toda essa dor que sentem é do tipo que só as mulheres que já perderam um filho conseguem entender. “Qual é a utilidade de uma mãe que não tem filho? Uma mãe que não tem um filho não serve para nada. Minha vida era meus filhos e hoje se resume em trabalhar, para me manter, e lutar pela justiça”, lamenta Marinúbia.
Apesar do apoio que tem nas ruas, a enfermeira relata que também sofre ataques anônimos. Ela conta que recebe mensagens de texto no celular que a insultam, acusando-a de se aproveitar da exposição. Também recebe mensagens que pedem perdão, mas isso é algo que ela diz que “compete a Deus”.
“Ela destruiu a família dela, eu lamento pela família e pelos filhos dela, mas não tenho condições emocionais de lamentar por ela. Que ela seja forte para enfrentar a Justiça. Eu só perdoo Kátia Vargas no dia que o júri popular disser que ela é inocente ”, adianta.
Mãe diz que perdoa acusada se ‘júri popular
disser que ela é inocente’. Foto: Arisson Marinho
JULGAMENTO
A família dos jovens ainda aguarda o júri popular que irá julgar a médica Kátia Vargas Leal Pereira, denunciada por ser responsável pelo acidente.
“A família não está parada. Eu procuro o Ministério Público, eu vou ao Fórum, estamos em constante contato com o advogado. A coisa está andando. Só vou sossegar quando essa história tiver um desfecho”, afirma Marinúbia, que costuma repetir a ansiedade que tem em ver a oftalmologista condenada.
O processo está parado, aguardando para que seja enviado novamente à 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça. Só aí a data do júri será definida, conforme determinado pela justiça em abril deste ano. O promotor Davi Gallo diz que pretende ingressar com uma petição para que o processo volte à Vara e seja julgado. “Eu vou fazer uma petição para pedir para o processo descer. O processo está parado na mão do relator no tribunal. Não tem razão nenhuma para que esse processo fique parado”.
A defesa da médica ingressou com dois recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), mas as ações ainda não foram julgadas. Apesar disso, o promotor afirma que isso não impede que o júri aconteça. “Eles recorreram da pronúncia, o tribunal manteve que ela deve ir a júri popular. Os recursos são julgados independentemente do processo, por isso vou pedir a devolução dos autos para a vara”, explica Gallo.
Na opinião do promotor, os recursos são a forma de a defesa da médica adiar o julgamento. “A defesa vai fazer de tudo para que não seja julgado. O mérito já foi decidido e ela deve ir a júri popular”, diz. Procurados desde o início da semana, os advogados da médica, que têm escritório em São Paulo, não atenderam aos pedidos da reportagem para comentar sobre o assunto.
Desde quinta-feira a médica recebeu liberação da Justiça para viajar a São Paulo. A decisão foi expedida pela juíza Gelzi Maria Almeida Souza no dia 2 de outubro. “A ida dela a São Paulo é normal. É necessário para contato com os advogados”, explica Daniel Keller. Com a decisão, Kátia tem até terça-feira para retornar a Salvador.
Os recursos impetrados pela defesa não têm prazo determinado para serem julgados e, segundo Keller, só resta aguardar. “Não existe prazo para que sejam julgados e agora nós ficamos aguardando o Judiciário. A Justiça demora porque não tem estrutura para atender à demanda”, explica.
Além do processo criminal, a família dos irmãos entrou com uma ação por danos morais com pedido de indenização de R$ 1 milhão por cada uma das vítimas. O advogado Iran Furtado, responsável pela ação, diz que também aguarda que a Justiça acelere o julgamento da ação.
Furtado explica que foi aberto mais um prazo para que fossem apresentadas novas provas que sustentem o pedido de indenização. “Houve um despacho agora pedindo provas, mas informei ao juiz que não há provas, porque já foi tudo provado”, detalha.
Segundo ele, todas as provas apontam que a conduta dela provocou a morte dos irmãos. “Nessa ação se discute a ação e o valor, não se discute o ‘animus’ dela quando praticou o homicídio, porque isso já está provado. Nem ela nega que era o carro dela e que ela estava dirigindo quando aconteceu a morte”, conclui.
Relembre o caso
*Morte 11/10/13 Os irmãos Emanuel e Emanuelle morrem após colidirem em poste. Kátia Vargas, acusada de provocar o acidente, é levada para o Hospital Aliança.
*Prisão 17/10/13 Após uma perícia afirmar que a médica Kátia Vargas está bem de saúde, ela sai do hospital diretamente para o presídio feminino.
*Audiência 29/11/13 Médica é liberada de audiência a pedido de seus advogados. Catorze testemunhas de defesa e de acusação prestam depoimento.
*Liberdade 16/12/13 Depois de 58 dias de detenção, a acusada Kátia Vargas deixa o prisídio feminino, faz exames em um hospital particular e vai para casa de familiares.
*Júri Popular 22/04/14 Justiça nega pedido de recurso da defesa da médica Kátia Vargas que pedia a revogação do júri popular. Ela ainda aguarda julgamento. Matéria original: Correio 24h Mãe de Emanuel e Emanuelle tenta superar perda um ano após acidente

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