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'Mãe que educa': filhas de Iemanjá vivem por amor ao orixá

Conexão vem através de sonhos e histórias, antes mesmo da descoberta dessa maternidade

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Redação iBahia

02/02/2021 às 8:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 1:59 - há XX semanas
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A maternidade é o primeiro contato que o ser humano tem com o mundo exterior à barriga da própria mãe. Aqui fora, no entanto, esse conceito pode ganhar novos formatos diante da fé. Foi justamente o que aconteceu com Mariana Dias, Laura Borges e Bianca Borges. Durante a vida, de uma forma ou de outra, elas perceberam que havia uma ligação com uma outra mãe: Iemanjá. Filhas do orixá, elas contaram em papo com o iBahia um pouco da relação que tem com a mãe e de que forma isso se desenvolveu durante a vida delas.

"A melhor festa do mundo"

Se muita gente lamentou a não realização da festa de Iemanjá em 2021 por conta da pandemia, para Mariana Dias essa chateação é ainda maior. Iniciada no candomblé como filha de Iemanjá há um ano e meio, a estudante de pedagogia ainda vive a expectativa de participar da "maior festa da história", como ela definiu, no ano que vem. Isso porque ela não conseguiu ainda ir para a festa de Iemanjá após a entrada no candomblé. "Não fui no ano passado por conta do resguardo, que dura um ano", lamentou a moradora do bairro do Cabula.

Atualmente com 29 anos, ela só descobriu que era filha de Iemanjá aos 19, mas a ligação com o orixá vem de antes disso. "Com uns 13 anos, sonhei que estava em uma casa de palha e aparecia uma moça mais madura, levantava o mar e jogava a água na casa, me molhando toda. Eu fiquei impressionada com a força daquela mulher levantando a água, e contava para as pessoas, mas elas não acreditavam. Só entendi tempos depois que ela chegaria ali para se apresentar como rainha da minha vida", relata.

Apesar do pouco tempo da iniciação no candomblé, Mariana é rodante no terreiro dela, e incorpora Iemanjá durante os cultos. "Isso para mim é uma dádiva. Eu me sinto na obrigação de poder entrar em contato com a energia desse orixá", orgulha-se.

"Iemanjá é a mãe dos filhos sem mãe, então todas as pessoas que queiram clamar por maternidade são assim, e eu me sinto bastante atendida por ela", complementa.

Mariana destaca também a importância do agradecimento e de lembrar da devoção nos momentos de alegria da vida dela. "Esse contato com a espiritualidade é comum nos momentos difíceis, mas nos momentos alegres também sinto a presença. Ela não hesita em mostrar o que me proporcionou, consigo me sentir navegando a todo momento", conta a filha.

Foto: Arquivo pessoal

Tradição passa ao longo das gerações

Acolhimento pode ser a palavra chave para descrever a relação de Iemanjá com outra filha, a gastrônoma Laura Borges. Moradora da comunidade do Garcia, ela conta que a devoção ao orixá vai além da casa dela.

"A comunidade oferece um presente para ela na madrugada do dia 1º, que sai de nossa rua. Quando a gente faz isso conseguimos ter uma rua tranquila e calma durante um ano inteiro", relata.

Laura viu dentro de casa o nascimento da importância da "mãe suprema". A avó dela cuidava dos filhos e também da casa, e junto com ela a gastrônoma passou a fazer presentes para Iemanjá "três ou quatro vezes por ano", segundo ela.

Além disso, a família faz homenagens ao orixá todos os sábados. "Servimos a comida, louvando, fazendo uma singela representação para buscar esse acolhimento e transmissão de energia com ela", explica.

Apesar do contato ser muito especial com a mãe, a relação teve uma situação inusitada quando ela foi colocar o presente no Rio Vermelho após um dia 2 de fevereiro. "Quando eu coloquei o balaio na água senti como se fosse uma mão tocando a minha. Aquilo foi muito real para mim. Existe a sensação de sentir o orixá, mas quando vem a energia visível, física, é diferente", contou. A situação a fez nunca mais bordejar a partir de então. "Apenas em barcos maiores", diverte-se a baiana.

Foto: Arquivo pessoal

Conexão desde criança

Assim como Mariana, Bianca Borges também sonhou com a mãe ainda criança. Chamada de Bomin no terreiro, a jovem de 24 anos conta que via "uma mulher preta no mar, que conversava comigo" e foi contar ao pai de santo. Foi quando ela descobriu, aos dez anos, que era filha de Iemanjá, e buscou se iniciar no candomblé.

"Ela foi me preparando para esse momento. Minha mãe usava guias no pescoço e a transparente foi a que me chamou atenção, justamente a de Iemanjá", conta a moradora do Alto das Pombas.

A história de Bomin no candomblé começou aos três anos, quando a mãe foi se iniciar. Ela é filha de Iansã, mas a avó da jovem também é filha de Iemanjá. Juntas, as três têm atualmente uma loja online de roupas de axé. Bianca curte os festejos desde pequena, mas passou um tempo sem curtir muito a parte profana da celebração.

"No começo tinha uma insatisfação, mas depois entendi que é importante o tempo fraterno, em comunidade. Só quando vi a festa de perto percebi a importância", relata ao iBahia.

A jovem encara o 2 de fevereiro como um tempo de agradecimento, e ressalta o caráter de mãe que o orixá tem na vida dela. "Eu era uma criança muito inquieta, então desde aqueles sonhos que eu tinha ela estava me ensinando", conta, para depois resumir. "Ela é uma mãe que educa".

Foto: Arquivo pessoal
*sob orientação da repórter Isadora Sodré

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