A obra de arte de Mário Cravo Júnior que foi destruída por um incêndio em 2019 foi reinaugurada nesta quarta-feira (11), na capital baiana. Batizado de Monumento à Cidade de Salvador, o trabalho ocupa parte da Praça Cairu, onde fica o Mercado Modelo, um dos principais pontos turísticos da cidade, no bairro do Comércio. A entrega foi feita pelo prefeito Bruno Reis.
De acordo com a prefeitura, a obra, que também é chamada de Fonte da Rampa do Mercado, foi reconstruída pela Companhia de Desenvolvimento Urbano (Desal) com fidelidade ao projeto anterior. Os trabalhos foram desenvolvidos pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) e também contaram com apoio da Superintendência de Obras Públicas (Sucop).
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“A Prefeitura investiu R$4 milhões para recuperar este equipamento, que agora tem resina antichama. Não correremos risco de passar pelo dissabor do incêndio ocorrido há três anos. Hoje é mais um importante data que ficará registrada na história da cidade. Esse monumento possui um grande valor artístico e cultural, sendo também um ponto de estímulo para visitação de vários turistas”, detalhou Bruno Reis.
A obra foi feita em fibra, assim como longarinas em poliuretano, que são resistentes e mais duráveis que as de madeira que existiam antes. Além disso, a estrutura metálica possui aço, enquanto que as fundações que sobraram da antiga peça foram demolidas e reconstruídas.
Também foi reaproveitada a casa de bombas, e a iluminação e os esguichos d'água que existiam no monumento foram reativados, incrementando a beleza artística da obra. Os serviços envolveram, por fim, novas instalações elétricas, hidráulicas e colocação de gradil em inox.
Presente no evento, Otávio Cravo, filho do artista, que morreu em 2018, meses antes do incêndio, comemorou a inauguração do monumento.
“É um marco fundamental para resgatar a imagem e memória da arte moderna e do escultor Mário Cravo. Ele dedicou sua vida ao povo baiano, através do seu trabalho e arte. A Prefeitura conseguiu concretizar o resgate dessa obra que, infelizmente, foi acidentada em 2019. Mas agora temos ela de volta ao seu ponto na Praça Cairu para deleite dos baianos”.
Para o presidente da Desal, Virgílio Daltro, Salvador passa a ter de volta monumento histórico que há décadas fez parte do Comércio, misturando-se às belezas naturais e pontos turísticos daqui do bairro. “Tivemos todo cuidado e dedicação em reproduzir essa obra, que foi concebida pelas mãos de Mário Cravo Jr., um dos expoentes das artes plásticas no país”.
História
O Monumento à Cidade de Salvador foi erguido em 1970 e possui dupla função: escultura e fonte luminosa. De todas as interpretações que lhe foram dadas, devido à sua forma arrojada e descomprometida com quaisquer elementos reais conhecidos ou representações óbvias, a que mais se aproximava era a semelhança às velas dos saveiros que costumavam atracar na rampa do mercado.
A origem da Fonte da Rampa do Mercado tem relação com um acidente que causou a perda do antigo Mercado Modelo após o incêndio que o destruiu no final da década de 60. Devido à modificação do sistema viário, foi criado um espaço vazio entre a nova via e a Rampa do Mercado.
Em 13 de janeiro de 1970, Mário Cravo Júnior foi solicitado pela Prefeitura à época para construção da fonte, que mede 16 metros de altura.
A fonte, pelo grande valor artístico e cultural, tornou-se significante marco da cultura baiana, na simbiose com o mar, com as velas dos barcos, com as curvas da topografia da cidade do Salvador, com o barroco das igrejas, das construções coloniais e no seu contraponto com a volumetria vertical da torre do Elevador Lacerda.
Homenagem às vítimas da Covid-19
Além do monumento, outra novidade foi a colocação de uma obra em memória às vítimas da Covid-19 e em homenagem aos profissionais de saúde de Salvador, que atuaram na linha de frente no combate à pandemia.
O monumento foi encomendado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e produzido pelo artista plástico Tatti Moreno (1944-2022) em um prazo de oito meses. A peça também conta com iluminação cênica, foi confeccionada em aço corten e possui área de cerca de 50 metros quadrados em um círculo de 8 metros de diâmetro.
“Era o desejo da Prefeitura realizar um monumento que pudesse ficar registrado na nossa história, para servir de inspiração e, acima de tudo, dar força e coragem para que a cidade siga avançando e enfrentando as diversidades”, afirmou o prefeito durante a inauguração da escultura.
Na ocasião, o gestor ressaltou o protagonismo dos profissionais de saúde, que foram responsáveis por salvar milhares de vidas. “Assim como outras síndromes gripais, teremos que conviver com a Covid-19 pelo resto da vida, mas podemos hoje celebrar que os números estão estáveis, outros caindo e grandes eventos já podem ser realizados, a exemplo da Lavagem do Bonfim, amanhã”, acrescentou.
Desde março de 2020, período de início da pandemia, até o momento, a capital baiana registrou mais de 270 mil casos confirmados da doença, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Cerca de 267 mil pessoas foram curadas e 8,6 mil vieram a óbito. A cidade possui 6 mil profissionais de saúde atuando diretamente no enfrentamento à crise sanitária. Mais de 2,4 milhões de pessoas foram vacinadas e mais de 7,5 milhões de doses de imunizantes foram aplicadas.
Simbologia
A presidente da FMLF, Tânia Scofield, explicou que a escolha da Praça Cairu se deu pelo espaço possuir grande visibilidade. “Tivemos um expressivo número de vítimas do coronavírus e, por isso, vale a pena registrar esse momento difícil que passamos e que ainda há resquícios. Ainda precisamos ter cuidados”.
Gisele Moreno, viúva do autor da obra, prestigiou a entrega do monumento e lembrou que a escultura foi o último trabalho do artista antes de ele morrer em julho do ano passado. “Essa obra tem toda uma simbologia, com figuras que representam asas de morcego, e a Terra (o homem) está acima, representando a sobrevivência à pandemia. É um trabalho abstrato, no qual Tatti tinha uma atuação significativa. Queria muito que ele estivesse em vida para assistir esta inauguração”, contou.
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Redação iBahia
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