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Morre homem com doença incurável que se casou no hospital

Portador de esclerose lateral amiotrófica, doença neuromuscular incurável, Harierne se casou em novembro de 2010, no Hospital Santa Izabel

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27/03/2012 às 8:41 • Atualizada em 30/08/2022 às 21:14 - há XX semanas
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“Quer casar comigo?”, indagou Manoel Harierne a Bernadete da Silva, em outubro de 2010. Uma pergunta comum, não estivesse o futuro noivo saindo de um coma. Apesar de companheiros há 27 anos, os aposentados jamais tiveram a oportunidade de oficializar a união. Portador de esclerose lateral amiotrófica, doença neuromuscular incurável, Harierne casaria-se ali mesmo, no Hopital Santa Izabel, a poucos metros da UTI, com balões de oxigênio. O médico foi o padrinho. O CORREIO publicou a história dois meses depois. Harierne morreu no domingo, devido a uma pneumonia causada pelo longo período de internação. O corpo foi sepultado nesta segunda (26) no Cemitério Campo Santo. CasamentoDia 22 de novembro de 2010 ele se casou com Bernardete Oliveira da Silva, na capela do hospital, a poucos metros da UTI. O primeiro casamento em 117 anos de Santa Izabel. Tirando a noiva, não houve quem não derramasse lágrimas. Foi a primeira vez que José Carlos Santana, o padre Zeca, chorou em um matrimônio. “Já fiz casamentos em muita igreja bonita por aí. Mas dessa vez não tive como segurar”. A cerimônia acabou junto com o último torpedo de oxigênio. A equipe médica devolveu o paciente imediatamente para o leito. Casados, Bernardete e Harierne apenas sonharam com a noite que não puderam passar juntos. Mas, mais do que nunca, têm a certeza de que nem a morte pode separar um amor tão verdadeiro.
Noivos, familiares, convidados e equipe médica juntos pela humanização
Um casamento com tudo que se tem direito. Padre, convidados, padrinhos, buquê e alianças. No centro das atenções, o noivo exigiu a retirada da roupa do hospital. Queria usar blazer e sapatos. “Você está aí toda bonita, toda bacana”. Com todo o cuidado, Harierne foi vestido a caráter. Pontualíssima, já que cada segundo era importante, a noiva apareceu. Ao microfone, uma assistente social cantou durante a caminhada até o altar.
Cadeira de rodas virou UTI para fazer a vontade do casal Harierne a Bernardete
Depois do sermão, o padre não conseguiu terminar a tradicional pergunta aos noivos. “Sim, sim, sim”, repetia, ansioso, Harierne. O médico Antônio Dórea foi padrinho e o portador das alianças. “Ele não tira aquela aliança para nada. Só dá ‘tchau’ com a mão esquerda”, entregou Dr. Dórea. Namoro casual, paixão de uma vidaO amor entre a funcionária do marketing do antigo banco Baneb e o vendedor da Biscoitos Águia começou em dezembro de 1983, numa feira de exposições, no Centro de Convenções, quando foram apresentados por uma amiga dela. “Tem um corôa aí fora que foi feito pra você”. Já são 27 anos de convivência e um filho. Enfermidades não têm associaçãoO consumo de duas carteiras de cigarro diárias por mais de 40 anos desencadeou, em abril deste ano, um enfisema pulmonar. Ao iniciar o tratamento no Programa de Atendimento ao Tabagismo no Hospital Octávio Mangabeira, Harierne apresentou problemas de mobilidade. Os novos sintomas levaram os médicos a descobrir que ele também tem uma doença neurológica rara. Apesar de afetarem o sistema respiratório e os músculos, as enfermidades não afetam o cérebro. Tanto que, em pleno internamento, ele se preocupa com as prestações do carro ou a segurança da casa.

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