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Mais que um passeio ou uma viagem. É o mundo sobre duas rodas. Essa é a filosofia de centenas de brasileiros movidos pelo barulho dos motores, tribos e grupos que marcam presença pelo estilo e fidelidade às suas motos. São homens e mulheres que dividem a mesma paixão pelo "mundo do motociclismo", encantam facilmente e têm a mesma característica: todos jovens, independente da idade ou da moto. A aparência formada pelos acessórios básicos de segurança como capacete, luvas, coletes e as jaquetas de couro ainda desperta preconceito em algumas pessoas, que vivem fora deste universo, principalmente, quando os grupos e motoclubes decidem se reunir em uma passeata pelas ruas da cidade. "A 'motoata' simboliza a irmandade que existe entre os adeptos do motociclismo", explica o professor de educação física e jornalista Edgard Tomanik. O paulista esteve em Salvador em março deste ano quando foi realizado a 5ª edição do Motofestival. Juntamente com ele, dezenas de cariocas, mineiros e representantes de outras regiões do país se uniram aos baianos para dividir o prazer do momento com suas parceiras, amigos, e, claro, motos.
Especialistas - Muitas máquinas, sobretudo as "estradeiras", têm mais histórias para contar do que o próprio dono. Algumas, pelo tempo de uso, apresentam constantes problemas e defeitos que nem sempre podem ser resolvidos em um curto espaço de tempo. A manutenção é específica e as peças têm o maior preço de mercado, comparadas às motocicletas comuns. A solução, na maioria dos casos, é se tornar especialista em sua própria moto, como acontece com um dos membros do grupo Bota com Buraco de Bala (BCBB-Ba) Hugo Calheira. "Não morro mais de medo quando ela [moto] apresenta qualquer problema. Ao contrário, tem se tornado sempre um prazer quando tenho de meter a mão na massa para arrumar algum pequeno defeito, mudar ou acrescentar alguma coisa na motoca", diz. Hugo comprou sua primeira moto em 2008, já rodou aproximadamente 30.000 km e se acostumou a chegar no destino final, após uma viagem, com manchas de óleo e com cheiro de graxa. "Um estilo de vida que sempre curti na minha adolescência, mas que somente agora pude concretizar. E não imaginava que fosse amar tanto. Podem falar dos riscos e perigos e tudo mais. Sei da existência deles. Sei também que o que posso fazer é tentar minimizá-los, mas não deixarei de corre-los e nem de vivenciar uma boa pilotagem mesmo em uma noite chuvosa. Encontrar com os amigos, passear sozinho ou em grupo, viajar!".
Música – O gosto musical é outra característica marcante dos amantes do motociclismo. Para algumas tribos, o jazz e o rap tem o seu lugar, mas o rock é, sem dúvida, a combinação perfeita. O som ensurdecedor de uma guitarra misturado com o ronco estridente de um motor é o ápice das confraternizações e passeios. E quando se une a paixão pela música, o amor do companheiro e o ronco da motoca? Essa é a história da funcionária pública Regina Candal, 47 anos. Ela toca violão desde criança, pilotava motos desde os 18 anos e há três anos entrou para a banda de rock Cachecol de Girafa, onde canta com o marido, Sylvio Sentirelli. Regina conhecia a sensação de estar sobre duas rodas, mas foi após conhecer o marido que transformou o lazer em um estilo de vida. “Amo viajar de moto. Sou apaixonada pela música e não me vejo fazendo outra coisa. Esse é o meu estilo para a vida inteira”.
Clubes e grupos - Há aproximadamente 350 clubes e grupos em atividades que foram fundados no estado, segundo Ruiter Franco, presidente da Associação dos Motociclistas da Bahia (AMO – Ba). Eles são distribuídos na capital e em cidades do interior como Jacobina, Feira de Santana, Paulo Afonso, Juazeiro, Serrinha entre outras. Símbolos, tatuagens, óculos escuros, caveiras, jeans rasgado e o “pretinho” básico. Cada tribo tem seu estilo, que é facilmente identificado nos menores detalhes. Eles são divertidos, simpáticos e unidos, apesar de alguns carregarem a fama de “brigões” ou de “mau-encarados”. Mas como dizia Sócrates, “conhecer é passar da aparência à essência” e bastam alguns minutos de conversa com dois ou três motociclistas para garantir momentos de boas risadas, saber histórias ou curiosidades sobre viagens e desfazer essa imagem equivocada.
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Prestes a completar 21 anos de existência, o Abutre's M.C. é um dos maiores clubes do Brasil e está presente em 21 estados. São mais de 3400 componentes, exclusivamente homens, e é considerado um dos maiores motoclubes da América Latina. Além do lazer que o motociclismo oferece, o Abutre's participa de ações sociais e solidárias para ajudar instituições como ACC (Ação de Combate ao Câncer) e da APAE (Associação dos Pais e amigos dos Excepcionais). Para ser um Abutre, não basta querer, tem que merecer. É preciso se encaixar na ideologia do grupo, passar por provações, ser indicado e maior de 25 anos. Em Salvador, a direção da confraria fica a cargo do empresário Alexandre Ventura, 37 anos, (foto: terceiro à direita) que está no clube há mais de um ano. Segundo ele, o Abutre's é um clube como qualquer outro, mas que tem suas regras e exigências para manter a harmonia e disciplina do grupo. "Nossa filosofia é a irmandade".
Viagens – Nada de ultrapassagens, alta velocidade ou individualidade. O prazer de todo motociclista é rodar e apreciar a paisagem. Segundo Tomanik, viajar em uma moto com o grupo representa a união. “Vamos todos juntos e devagar. Cada tribo em seu ritmo”, diz. Já para o desenvolvedor de web Guga Dias, de 37 anos, pilotar é “desde uma válvula de escape para o estresse, até um caminho mais fácil de fazer amigos e conhecer lugares fantásticos". Ele reforça a filosofia dos Abutre's de que a irmandade na estrada é muito forte. Segundo Guga, a superação de caminhos e dificuldades nas viagens só é possível com amigos que surgem na estrada e acompanham, mesmo num ritmo menor. “ O pessoal que vive o motociclismo acaba sendo mais respeitado”. Guga, que é casado com a mercadóloga Helda Silveira, participa do Solteiros Moto Clube e é percursor do Projeto Êxodo de Moto que tem o objetivo de percorrer de moto custom, cinco estados em vinte dias de viagem, totalizando cerca de cinco mil quilômetros, registrando através de fotos digitais e vídeos, as diferentes paisagens e os melhores pontos turísticos. Ilustração compartilhada por Hugo Calheira:
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