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'Não acredito em coincidência, foi o pedido', afirma devoto

Fiéis revelam momentos de amor e devoção ao Senhor do Bonfim e especialista fala sobre história e sincretismo religioso

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Redação iBahia

16/01/2019 às 15:05 • Atualizada em 28/08/2022 às 19:13 - há XX semanas
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O princípio elementar da fé é a crença ou confiança sem que exista algum tipo de evidência que comprove a veracidade do que está em causa. Para quem, como Gilberto Gil, acredita que a "fé não costuma faiar", não se vê desemparado. É o caso do gerente comercial Marcelo Ribeiro Rosado, de 39 anos, devoto do Senhor do Bonfim desde adolescente. "Eu sempre fui muito às missas, frequentava a igreja local de São Caetano desde pequeno. Já fui coroinha. Eu não ia por influência dos meus pais, mas minha avó paterna era muito religiosa", relembra.

Marcelo e Luana dividem histórias de féFoto: Acervo Pessoal
Há exatos 20 anos, Marcelo faz o percurso de 8km da Lavagem do Bonfim e há 15 anos pratica corrida. Natural de Salvador, ele foi transferido para trabalhar em Maceió, quando fez um pedido ao Senhor do Bonfim." Eu fiz uma promessa para comprar meu primeiro apartamento com 24 anos. Quando eu abri a porta do apartamento, fui entrando, vendo a sala, a cozinha, a fitinha do Senhor do Bonfim que estava no meu braço, partiu. Eu não acredito em coincidência, foi o pedido", revela emocionado. De 2004 para cá, a devoção ganhou cada vez mais força e na hora de formar sua família, o pedido de noivado foi uma surpresa para então namorada, Luana Tenório, na Igreja do Bonfim. "Fiz uma surpresa para Luana. Pedi ela em casamento durante uma missa, dei as alianças ao padre. Ela não desconfiou. Minha filha, Maria Clara, foi batizada lá e eu fiz até um macacão personalizado para participar dos campeonatos", revela. Em 2019, depois de alcançar uma meta profissional, o gerente comercial escolheu o braço direito para receber uma tatuagem que imita a tradicional fita dos pedidos do Senhor do Bonfim.
Após promessa realizada, Marcelo tatuou braço com fitaFoto: Acervo Pessoal

A relação de devoção da professora aposentada Silvia Maria Ferreira Oliveira, de 59 anos, começou por influência dos pais. Mas, foi após se mudar do Subúrbio para o Jardim Brasília, que a aproximação com a fé ficou mais intensa. "Em 2008 eu passei a frequentar as missas. Quando eu descobri que estava com câncer, eu me entreguei inteiramente. Era a última missa do ano, e eu entreguei tudo nas mãos do Senhor do Bonfim", conta emocionada. Questionada se a cura da doença veio por meio da fé, a aposentada não hesita. "Eu não tenho dúvidas que foi ele quem me curou. Tudo foi mais fácil para...o tratamento, a cirurgia, a quimioterapia", diz. Atualmente, dona Silvia leva as filhas, netos e maridos para as missas e integra a equipe litúrgica da Basílica.

Ao relembrar a tradição da festa, o historiador Jaime Nascimento brinca."A Lavagem é um acidente de percurso, eu digo isso porque ela era apenas uma preparação do templo para o momento máximo, que seria no domingo. Hoje, eu penso que ela só perde para as procissões do Círio de Nazaré em número de pessoas", afirma.

Para a Igreja Católica, a lavagem da Igreja começou em 1773, quando os integrantes da "Irmandade dos Devotos Leigos" obrigaram os escravos a lavarem a Igreja como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim, no segundo domingo de janeiro, depois do Dia de Reis. Com a proibição da lavagem na parte interna, o ritual foi transferido para as escadarias e o adro, tendo o início do cortejo com as baianas que caminham desde a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até o alto do Bonfim.

Festa comemora 246 anos nesta quinta-feira (17)Foto: Reprodução/Alberto Maraux
A história do sincretismo, de acordo com Nascimento, surgiu da associação que os escravos fizeram entre a lavagem (para as religiões de matrizes africanas, lavar está também relacionado à purificação) e o "Mito das Águas de Oxalá". Na lenda, o orixá Oxalá sentiu saudades de seu filho Xangô, rei de Oiô, e vai visitá-lo, vestido de branco. Durante o caminho, Oxalá ao encontrar Exu, acaba tendo as vestes sujas de carvão e azeite. Montado no cavalo que recebeu de presente do filho Xangô, Oxalá acaba confundido com um bandido e preso. Após o reino de Oiô sofrer com problemas, Xangô é informado que as adversidades estão acontecendo porque o rei compactua com injustiças. Na cadeia, o orixá descobre que seu pai Oxalá está preso e cuida de levá-lo ao palácio, limpá-lo e lavá-lo com as roupas mais brancas que existem. Ainda segundo a lenda africana, a festa em homenagem a Oxalá relembra o acontecimento. É da relação da purificação, das vestes brancas de Oxalá e a túnica branca de Jesus crucificado que se iniciam as associações.Quando o assunto é sincretismo religioso, o historiador destaca a existência de três vertentes: a que defende o sincretismo - as ações de práticas e simbolismos do catolicismo entre as religiões de matrizes africanas -, a que não acredita em sincretismo e, por fim, a dupla pertença, que defende o pertencimento às duas religiões. "Colocando de lado a questão do ponto de vista específico da religião, o principal entendimento é de que estão todas buscando o divino. Acho que não deve haver discussão sobre isso. Se estão buscando o bem, que mal há?", provoca.

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