Numa área verde de nove hectares – equivalente a nove campos de futebol – no meio da Estrada da Barreiras, no Cabula, fica o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Salvador. O pedaço de Mata Atlântica que parece isolado no meio de um dos bairros mais populosos da cidade abriga, hoje, pouco mais de 500 bichos vindos de diferentes destinos: apreensão (como operações policiais), entrega espontânea (alguém que, por muitos anos, criou um animal silvestre e, em dado momento, decidiu entregá-lo ao Ibama) ou resgate (como a jiboia que entra na casa de alguém que precisa acionar a polícia para retirá-la).
“Todo dia chega animal. Chega muita jiboia. O pessoal entrega espontaneamente muito jabuti. Mas o bicho mais apreendido é passarinho”, conta o coordenador do centro, Josiano Torezani, citando as espécies canário da terra, cardeal, azulão e brejal como as mais frequentes, justamente por serem nativas da região.
Do total de bichos, em média, 60% são pássaros, 30% são répteis e 10% são mamíferos. Ao chegar lá, os pássaros – e qualquer outro animal – precisam ser acompanhados. Passam um período recebendo todo o tipo de cuidado necessário. Se estiverem doentes, precisam se recuperar. Só depois – talvez em 30 ou 60 dias – eles são levados, em grupo, até uma das seis Áreas de Soltura de Animais Silvestres (ASAS) no estado. Por questão de segurança e até mesmo para evitar a presença de possíveis caçadores, o endereço das áreas é mantido em segredo.
No mês passado, um grupo de passarinhos foi levado para uma área de soltura. Mesmo assim, algumas dezenas aguardam sua vez, em alguns dos mais de 40 recintos. Segundo Torezani, outro grupo será levado à natureza nas próximas semanas.
Papagaios e periquitos, por outro lado, precisam de mais tempo no Cetas. Passam, em média, seis meses lá. Um grupo com cerca de 50 papagaios está sendo preparado para ser solto até o meio do ano.
“A recuperação deles é mais lenta do que os passarinhos. Eles normalmente são criados isolados, cada um em uma casa. Mas eles vivem em grupos na natureza, então é preciso reabilitar”, explica, referindo-se aos que lá vivem, principalmente, das espécies papagaio-verdadeiro e papagaio-do-mangue.
Araras também vivem aos montes, por lá. Hoje, mais de 10 esperam ser soltas, há quase três anos. Elas chegam tanto de apreensões quanto por entrega espontânea. O problema é que destiná-las é difícil. As que lá estão, hoje, são do tipo Canindé – aquelas amarelas e azuis, que são uma das mais conhecidas do gênero.
Elas são naturais da região de Goiás, por isso, não podem ser levadas às áreas de soltura da Bahia. Também não dá para serem destinadas a zoológicos, porque todo zoo já costuma ter essa espécie. “Então, a gente manda para o Ibama de Goiás. Recentemente, mandamos quase 50 araras para lá. Esse grupo agora está esperando a vez dele”.
Zoológicos costumam ser uma opção – especialmente, no caso em que os animais acabam ficando muito dóceis. O problema é que, se eles se acostumam muito com a presença humana, perdem as características de ‘selvagem’ e ‘silvestre’ e acabam se tornando presas fáceis.
Um dos tamanduás-mirins que vive lá há mais de dois anos, por exemplo, já está de viagem marcada para o Zoo Park da Montanha, na cidade de Marechal Floriano, no Espírito Santo.
Outro coleguinha da mesma espécie, por outro lado, se prepara para voltar à natureza. Está separado num recinto especial coberto por galhos e folhas – remetendo à mata. Tudo isso é para que o bicho consiga se adaptar e se preparar para situações de defesa.
As seis ou sete raposas-do-campo que lá vivem também passam pelo mesmo dilema. Mesmo as que hoje são adultas, chegaram filhotes.
“Elas são complicadas. Estamos vendo um viveiro para trabalhar a reabilitação delas, porque demora um bom tempo para elas ficarem selvagens. Elas têm que ficar sozinhas (no recinto), porque são territorialistas”.
Jabutis também vivem aos montes lá. Segundo eles, são mais de 100 hoje. A maioria vem de resgate ou de entrega espontânea – no caso, de gente que criou os bichos por 20, 30 anos, mas acabou descobrindo que era ilegal.
As duas jaguatiricas que lá vivem também estão sendo reabilitadas. São dois machos: um veio de Alagoinhas, outro de Santa Brígida, ambas no Nordeste do estado. “As duas eram criadas ilegalmente e depois as pessoas decidiram entregar”. Segundo ele, é comum que isso aconteça com esse tipo de animal. Quando as jaguatiricas crescem, os “donos” acabam querendo entregá-las.
As três ou quatro dezenas de macacos trazem um drama próprio. A maioria deles é macaco-prego, mas vêm de todas as partes da Bahia – de Barreiras, no Oeste, até Mata de São João, no Litoral Norte. Há até macaco-prego-do-peito-amarelo, que é uma espécie que corre risco de extinção. As origens também são variadas.
Alguns esperam há três anos para serem soltos. De acordo com o coordenador, a soltura dos macacos-prego é um problema em todo o Brasil. “Não tem como destinar com facilidade. Estou vendo um projeto para soltar numa ilha, porque eles têm isso de se aproximar do ser humano e são muito bagunceiros. Vão para a casa das pessoas e destelham, podem atacar uma pessoa. Aí, evitamos soltar assim. Numa ilha, eles vão ficar isolados”. Mesmo assim, a soltura dos macacos precisa de acompanhamento, que envolveria, inclusive, o trabalho de pesquisadores.
Há, ainda, uma sucuri de mais de três metros. Apareceu em um quintal e teve que ser resgatada pela polícia. Ela está lá há cerca de dois meses, mas ainda não pode ser solta porque está ferida. Levou uma pancada na cabeça e está com um curativo. “O animal estando bem, a gente devolve de imediato. Serpentes, geralmente, a gente solta em menos de uma semana”.
Para cuidar de todos os animais – que têm, inclusive, uma cozinha específica, separada só para eles, com uma verba de R$ 130 mil por mês – a equipe tem três analistas ambientais, dois técnicos, dois tratadores e três auxiliares de limpeza, além de uma equipe de oito seguranças, que trabalham 24 horas por dia.
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Redação iBahia
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