Às 18h10 desta quarta-feira (6), quase 19 horas depois de iniciado o julgamento, a juíza Gelzi Maria Almeida Souza fez a pergunta que encerraria a batalha de teses, debates e discussões: “Os senhores jurados já estão habilitados a julgar?”. Os setes componentes do júri então balançaram a cabeça dizendo que sim. Pronto, hora de todos se reunirem na chamada sala secreta. Quer dizer...
Em alguns minutos, pela reação da família da médica Kátia Vargas, a sala secreta não se mostrou tão secreta assim. Antes mesmo de a juíza retornar ao salão, um dos advogados de defesa, Daniel Kignell, entrou no recinto às 18h35 com um sorriso largo. Sob uma fotografia antiga do rábula Cosme de Farias, chamou o marido de Kátia Vargas, cochichou algo em seu ouvido e o abraçou forte. O marido se pôs a chorar, foi até os filhos e, de forma contida, parecia comemorar.
Nesse momento todos se voltaram e abraçaram efusivamente o advogado. Os semblantes de dor e expectativa davam lugar ao alívio. O comentário na plateia era de que Kátia poderia ter sido condenada por homicídio culposo e não doloso. Mas, um advogado criminalista que estava bem próximo à família, e conversou com o advogado da ré, disse ao CORREIO o resultado. “Absolvição!”, entregou.
Enquanto Ana Carolina, filha de Kátia, não parava de beijar e abraçar o pai, policiais se posicionavam na frente e nas laterais de onde estavam sentados os parentes de Kátia. A plateia, que esperava pelo resultado oficial, não o assistiu. Quando os familiares de Emanuel e Emanuelle começaram a protestar contra o resultado, a juíza ordenou o esvaziamento do recinto por medida de segurança.
Enquanto a área era evacuada, familiares de Kátia tapavam os ouvidos dos seus filhos para que não ouvissem as palavras da outra família.
Dor e revolta
Para a família dos jovens, o primeiro sinal do fim da batalha surgiu às 18h40, quando Daniel Keller, advogado assistente da acusação, deixou a ala restrita e chamou a prima das vítimas, Mayane Torres, e a mãe dos jovens, Marinúbia Gomes. Os três tiveram uma conversa rápida e Marinúbia não esboçou qualquer reação. Quinze minutos depois, ela foi chamada por uma assistente da promotoria para a área onde estavam os jurados e seguiu acompanhada da irmã, Mércia Gomes.
A mãe dos jovens comunica a decisão aos familiares e eles se dirigem à porta do Salão do Júri. Indignada com a decisão, a tia dos meninos, Mércia, chega a gritar: “Eu vou matar Kátia Vargas pessoalmente!”. A mãe dos jovens, aparentemente mais calma, diz que “é normal o descontrole de Mércia porque a dor é muito grande”.
A própria Marinúbia garante que a decisão será enfrentada, terá recurso e terá luta. “Lutei quatro anos pelo júri popular e agradeço a Deus hoje por ter conseguido o que várias pessoas não conseguem. Ela foi inocentada, ninguém sabe como. Continuarei lutando. A justiça não foi feita. Não vai ficar impune. Eu já fui avisada por Deus”, declarou.
Do lado de dentro, houve indignação e gritaria da parte da família dos jovens. A prima, Mayane, gritava em direção à filha da médica: “Assassina! Sua mãe é uma assassina infeliz”. Foi quando Marinúbia subiu em uma das cadeiras e pediu que todos abaixassem suas cabeças. “Isso é uma injustiça!”. É imediatamente aplaudida.
Alívio
Depois da evacuação, a família de Kátia não foi mais vista pela imprensa ou pelo público, a não ser na hora que deixou o local. Era 20h43 quando o fotógrafo do CORREIO Betto Jr. flagrou a saída de Kátia Vargas do local onde foi julgada. Ao lado dela, a filha, Ana Carolina. No banco do carona, o advogado de defesa, José Luis de Oliveira Lima, e ao volante um homem ainda não identificado, que sorri.
O veredito foi proferido a portas fechadas, uma hora antes, às 19h40. A assessoria do Tribunal de Justiça da Bahia confirmou que, em respeito aos parentes das vítimas, não comentariam o resultado.
Mas o advogado José Luis Oliveira Lima descreveu sua reação após o resultado. “Ela me abraçou e começou a chorar. Nós choramos juntos. A família está anestesiada”. Antes de tudo isso, o que se via era uma família que parecia sofrer junto com a ré. Pai e os dois filhos estavam de branco. O menino, quase sempre de cabeça baixa. A menina, encostada no ombro esquerdo do pai. Este, por sua vez, atento a cada detalhe dos debates da defesa e acusação.
Beijos, carinhos palavras de apoio e incentivo, como na hora em que, em um dos intervalos, a filha, de longe, dizia e gesticulava algo para a mãe. A resposta da ré teve apenas três palavras: “Eu te amo”.
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Redação iBahia
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