Cachorros, galinhas, palafitas e um cheiro peculiar. A cerca de 50 quilômetros, águas límpidas, areia branca e cheiro de maresia. Os dois extremos são as praias da Pedra Furada, na Cidade Baixa, e Stella Maris, na Orla Atlântica, avaliadas, respectivamente, como mais suja e mais limpa do ano, a partir de levantamento feito pelo Correio baseado em 49 boletins de balneabilidade de 2013, divulgados pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) semanalmente.
Mas a situação não é ruim só na Pedra Furada. De todas as 1.470 medições realizadas (30 praias avaliadas em 49 semanas), quase metade delas (48%) apontou praias impróprias para banho. Além da Pedra Furada, a Boca do Rio também foi considerada imprópria em todas as análises realizadas pelo Inema. Na outra ponta, Stella Maris é a única que aparece como própria em todas as 1.470 medições realizadas (veja mapa ao lado). Na praia da Pedra Furada, atrás do Hospital da Sagrada Família, na Cidade Baixa, a situação é complicada e o odor se espalha por toda área da praia. Na areia, restos de tijolos, pneus velhos e conchas se misturam. Nem mesmo o acúmulo de limo e as baratas d’água circulando entre as pedras espantam os banhistas e pescadores da região, como conta a dona de casa Rosa Borba da Silva, que mora na região há 30 anos. “O pessoal sabe que é imprópria para banho, mas mesmo assim as crianças ficam aí na água, pescam também”, conta. Ela, porém, garante que nunca soube de ninguém doente por ter tomado banho na água imprópria. “As crianças daqui nunca tiveram nada. Meus filhos cresceram aqui, meus netos estão crescendo aqui também e ninguém nunca teve nada”, afirma. Medição Mas o fato de os moradores da região não terem apresentado nenhum sintoma não significa que não existam bactérias na água, explica o coordenador de monitoramento de recursos ambientais e hídricos do Inema, Eduardo Topázio. “Nós usamos como indicador a Escherichia coli, bactéria presente nos coliformes fecais, mas não significa que as pessoas vão ficar doentes. É um micro-organismo resistente, por isso ele é usado para medir a balneabilidade. Ele é um indicador de que podem existir outras bactérias ali”, detalha. A praia é considerada imprópria pelo Inema quando mais de 20% das amostras coletadas em cinco semanas consecutivas apresentarem resultado superior a mil coliformes fecais ou 800 Escherichia coli, ou quando, na última coleta, o resultado for superior a 2.500 coliformes termotolerantes ou dois mil Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 ml de água. Topázio acrescenta que a proximidade de casas nas praias é um dos fatores que mais influenciam na balneabilidade das praias, como na Pedra Furada. “A ocupação urbana é direta ali, é uma encosta, tem muitas residências próximas e as pessoas acabam jogando todos os resíduos no mar”, diz. Além disso, as palafitas que ficam na beira da praia não são ligadas à rede de esgoto, mas segundo o superintendente de esgotamento sanitário de Salvador e Região Metropolitana da Embasa, Cantídio Duarte, não há nada que a empresa possa fazer no local. “Tem várias palafitas que têm que ser remanejadas dali. Todas as necessidades são jogadas na praia. Se não tirar a população, não tem como resolver, porque não é possível ter palafitas na praia”, explica.
RiosNa praia da Boca do Rio, que também foi considerada imprópria durante as 49 semanas, o que compromete a balneabilidade é o Rio das Pedras, que desagua no mar. Na praia, uma água escura com resíduos se mistura ao mar e atrai pombos e cachorros que buscam restos de alimentos. “O rio vai se degradando no seu percurso pelas casas que estão na sua margem. As pessoas jogam os dejetos na água, comprometendo a qualidade da água”, diz Eduardo Topázio. Com a sujeira, poucas pessoas se arriscam a frequentar a praia. Mesmo com o emissário submarino, não há como evitar a contaminação na Boca do Rio, diz o superintendente da Embasa, Cantídio Duarte. “Todo esgotamento de Salvador é levado para condicionamento prévio, onde tira o lixo, areia e depois é lançado para o mar, a 2.350 metros da costa, a 27 metros de profundidade, a uma distância segura. Mas o rio não temos como limpar porque é poluído em todo o percurso”, diz. O professor de Engenharia Ambiental e Sanitária da Unifacs Victor Vieira alerta, porém, que não existem estudos que comprovem que os resíduos lançados não voltam para a praia. “Teoricamente não é para voltar. A definição de onde é construído o emissário é justamente através de estudos, para analisar a correnteza na região, justamente para não voltar. Mas na universidade não temos estudos que comprovem que está chegando ou não está chegando”, diz. Já para Duarte, a situação da praia só poderá ser resolvida quando todas as casas de Salvador estiverem ligadas à rede de esgoto. “Só vamos ter rios limpos quando todos os imóveis da cidade forem direcionados à rede da Embasa. Hoje, nós temos uma média de 2.500 ligações por mês. Precisamos que as pessoas façam a ligação com as caixas de esgoto que estão nas ruas”, afirma.
InvictaA única praia em Salvador que não foi considerada imprópria em nenhuma das análises do Inema este ano foi a de Stella Maris. O local onde é feita a medição é cercado de condomínios e um hotel. Com um mar aberto, a água é transparente. A professora Rita Rocha, que mora há 19 anos no bairro, afirma que nunca viu esgoto caindo na praia ou sujeira acumulada. “Aqui tem pouco movimento e como o mar é aberto também, acho que isso ajuda”, opina.O coordenador de monitoramento do Inema, Eduardo Topázio, lembra que a praia sendo considerada própria não significa a ausência de bactérias e outros protozoários. “O nosso objetivo é verificar tendência da qualidade, analisando as últimas semanas. Aí fazemos uma correlação de risco de uso”, ressalta. Matéria original Correio 24h:Pedra Furada é considerada a praia mais suja de Salvador; Stella Maris segue invicta
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