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Ele chega mansamente, acomoda sua mala no corredor do ônibus, dá o primeiro suspiro e a magia se faz. Quem utiliza os ônibus pelas ruas de Salvador certamente conhece ou, se tem o hábito de dormir durante a viagem, já acordou assustado sem saber o que acontece dentro do veículo. Nada desperta mais a atenção do que a voz e a poesia do Zé da Mala, personagem criado pelo ator baiano Gabriel Bandarra, 22 anos,que concluiu o ensino médio e se entregou à arte para recitar contos, crônicas e poesias dentro do transporte público. Há cerca de cinco anos,o jovem ator ganha a vida e sustenta a família fazendo arte de rua, trabalhos para crianças em escolas e aberturas de shows. Como todo artista que luta para seu esforço ser reconhecido, Gabriel Bandarra acorda às 5h30 para trabalhar. “Preciso sair cedo, porque moro muito longe (Camaçari). E também sou supersticioso; nunca faço meu trabalho no primeiro ônibus que pego. Geralmente sento, observo, desço, pego outro e aí sim inicio o meu dia”. Certas vezes Gabriel tem a companhia do colega de profissão Felipe Mago, mas ele começou sozinho, vestindo roupas coloridas e pintando o rosto de branco. Passou a usar uma mala por indicação do pai e, assim, concretizou o personagem. “O início foi difícil. Eu tinha muita vergonha e nos primeiros ônibus nunca me deixavam entrar, então eu tive que insistir e isso me deixou um pouco chateado”, lembra Gabriel sobre suas primeiras experiências. Foi logo no início, também, que Bandarra passou por seu momento mais constrangedor e depois de tanto tempo ele relembra, com humor, e diz que agiria diferente. “Já houve vezes de pessoas se levantarem e se exaltarem no meio da minha apresentação. Uma pessoa falava fervorosamente que eu era o Satanás. Os passageiros dentro do ônibus riam muito e eu fiquei numa situação embaraçosa. Naquele dia eu parei, desci do ônibus, e fui embora”, conta.
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Público – Por onde passa, "Zé da Mala" chama a atenção e conquista com o sorriso a simpatia de homens, mulheres, crianças, turistas, cobradores e motoristas. “Não é sempre que temos uma resposta positiva, como qualquer coisa que a gente faça. Mas a maioria das pessoas recebe bem, aplaude e contribui”, conta Bandarra, sobre a resposta do público baiano para seu trabalho. Para ele, a arte cênica é pouco inserida no contexto baiano e o trabalho de intervenção urbana ainda assusta ou incomoda alguns espectadores . “A maioria das pessoas que passa pela orla ou pela Avenida Paralela já me conhece ou já se familiarizou com o meu trabalho. Mas muita gente ainda se assusta, não entende ou pensa que sou doido”, completa. Assista abaixo ao vídeo do ator Gabriel Bandarra se apresentando em um ônibus: [youtube -WZ3fXAh6hs]